19 de Setembro de 2024

Brasileiros que moram na Argentina temem propostas de Milei sobre estrangeiros


Os brasileiros que vivem na Argentina estão apreensivos com as mudanças que o país pode sofrer após o resultado do segundo turno da eleição presidencial, marcada para o próximo dia 19 de novembro. A disputa ficará entre o governista Sérgio Massa, atual ministro da Economia, e o deputado Javier Milei, candidato da extrema-direita com propostas e posicionamentos "hostis" aos estrangeiros.

Com apenas dois anos de participação política como deputado, o candidato da Coligação La Libertad Avanza acumula propostas polêmicas e tem como símbolo de campanha uma motosserra, a qual levou nos comícios para o primeiro turno. Segundo ele, trata-se uma analogia aos cortes que pretende fazer no sistema tributário do país.

Entre os principais pontos defendidos por Milei estão a dolarização da Argentina, a abolição da reforma constitucional de 2020 — que legalizou o aborto no país —, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e a privatização do sistema de educação, que deixaria de ser obrigatório e público.

"O sistema obrigatório não funciona. Se você quiser estudar, terá um voucher e poderá estudar. O dinheiro que o Estado separa para isso seria dividido entre as crianças em idade escolar e um voucher seria entregue aos pais, para que eles possam escolher a escola que querem para os seus filhos”, defendeu o candidato durante a campanha para o primeiro turno.

De acordo com estimativa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, cerca de 90,3 mil brasileiros vivem na Argentina. Um dos atrativos no país vizinho é a oportunidade de uma graduação pública e de qualidade, principalmente para quem sonha em cursar medicina. Lá, não é preciso passar pelo vestibular para ingressar na universidade e as vagas para alguns cursos chegam a ser ilimitadas.

Natural de Curitiba (PR) e moradora da Argentina há um ano e oito meses, a estudante de medicina Amanda Caetano sente receio com a possível vitória de Milei. “Eu acho que o Milei é uma cópia um pouco pior que o Bolsonaro, todo brasileiro que vive aqui sente um déjà vu estranho, já vimos esse filme no Brasil em 2018. Infelizmente, ele tem ideias ainda piores e o povo nunca sofreu tanto, a maioria do pessoal jovem aqui tá com ele.…Eu tenho medo sim, ele fala absurdos e ele fala que vai cobrar coisas dos estrangeiros”, diz.

  • Ana Luísa mora com o marido em Rosário. Apesar de ter o documento de residência argentino, reconhece que a situação para os brasileiros pode complicar se Milei for eleito e conseguir implementar uma de suas polêmicas propostas. Crédito: Arquivo Pessoal
    Ana Luísa mora com o marido em Rosário. Apesar de ter o documento de residência argentino, reconhece que a situação para os brasileiros pode complicar se Milei for eleito e conseguir implementar uma de suas polêmicas propostas. Crédito: Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal
  • Isla começou como estudante em Buenos Aires. Depois de formada em Medicina, decidiu permanecer na Argentina. Crédito: Reprodução/Instagram
    Isla começou como estudante em Buenos Aires. Depois de formada em Medicina, decidiu permanecer na Argentina. Crédito: Reprodução/Instagram Reprodução/Instagram
  • Isla Montalier é médica e mora em Buenos Aires. Como estrangeira, pode votar para os cargos da província, mas não para Presidente da República. Crédito: Arquivo Pessoal
    Isla Montalier é médica e mora em Buenos Aires. Como estrangeira, pode votar para os cargos da província, mas não para Presidente da República. Crédito: Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal

Os brasileiros na Argentina temem que uma possível vitória de Milei alimente o ódio da população contra estrangeiros. “Eu fiquei bem apreensiva porque o Milei representa muito o argentino que é contra os direitos que os estrangeiros têm hoje aqui”, conta a brasileira Diele Scholl, estudante de medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA).“Assusta bastante, o Milei tem muito apoio entre os argentinos e é bem radical quando fala dos estrangeiros”, completa.

Uma possível saída da Argentina do Mercosul também resultaria em uma série de problemas para os brasileiros que vivem ou viajam para o país vizinho — e vice-versa. Hoje, brasileiros podem cruzar a fronteira somente com o documento de identidade. Em um cenário em que Milei seja eleito e consiga retirar a Argentina do Mercosul, existirá dificuldades no trânsito de pessoas entre os dois países. Sem o acordo, passaria a ser necessário o uso do passaporte para o controle de entrada.

“O passaporte é um documento que tem um certo custo. Nem todo brasileiro tem. Especialmente para vir para um país tão pertinho quanto a Argentina”, afirma Ana Luisa Cardoso, doutoranda em ciências da educação em Rosário, cidade localizada a 300 quilômetros de Buenos Aires. Ela tem o documento argentino de residência, mas reconhece que a situação complicaria a vinda de familiares e amigos.

Isla Montalier, médica natural de Aracaju (SE) e residente de Buenos Aires há 11 anos, diz que a visão de Milei para o Brasil é "muito limitada". "A gente seria afetado não só pelo que ele faria, mas pelo que ele fala com relação aos estrangeiros. O que os argentinos estão vendo hoje a gente já vivenciamos há quatro”, afirma.

Ao contrário do que previam as pesquisas, Javier Milei recebeu menos votos que Sérgio Massa no primeiro turno das eleições. O ministro da Economia totalizou 36,64% dos votos, contra 30,01% do candidato da extrema-direita. No entanto, a margem de cinco pontos percentuais deixa incerto o resultado da disputa, que será decidida a partir dos votos que foram para os candidatos derrotados — que somaram um terço dos votos. 

Mesmo que vença o pleito, Milei precisaria ainda do aval do Congresso argentino para implementar as propostas. A participação do partido dele no legislativo apresentou um aumento nesta eleição, com a conquista de 38 deputados e oito senadores — o que ainda está longe de representar uma maioria nas Casas legislativa, já que a Câmara tem 257 cadeiras e o Senado tem 72.

Com a maior abstenção desde a retomada da democracia no país, apenas 74% dos eleitores aptos a votar compareceram às urnas no primeiro turno das eleições gerais no último domingo (22). Os argentinos decidem os futuros governantes no dia 19 de novembro. Até lá, o cenário segue incerto para a população e a apreensão quanto à vitória de Milei permanece no radar.

Fonte: correiobraziliense

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