Depois de 34 dias de bombardeios que mataram mais de 10.800 palestinos, segundo o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, Israel anunciou a aceitação de pausas diárias de quatro horas nos combates com o grupo extremista Hamas, que governa o enclave. A medida vale para a porção norte do enclave e tem o objetivo de permitir que os civis fujam para o sul ou busquem alimentos.
Nesta quinta-feira (9/11), outra facção extremista, a Jihad Islâmica, divulgou um vídeo com o pronunciamento de dois israelenses sequestrados durante os ataques de 7 de outubro, quando 1.400 pessoas morreram. Na gravação, Yagil Ben-Yaakov, 13 anos, e a idosa cadeirante Hana Katzir, 77, afirmam que podem ser libertados por motivos humanitários. A guerra travada entre as Forças de Defesa de Israel (IDF) e os militantes do Hamas se intensificou no coração da Cidade de Gaza.
Israel "começará a fazer pausas de quatro horas todos os dias em áreas do norte da Faixa de Gaza, que serão anunciadas com três horas de antecedência", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jonh Kirby, na Casa Branca. "Os israelenses nos disseram que não haveria operações militares nessas áreas enquanto durarem as pausas (e) que essa operação começaria hoje (quinta-feira)." Uma trégua robusta está descartada, no momento, pelo gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Não cessaremos fogo enquanto houver reféns em Gaza", avisou o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant.
Às 21h (16h em Brasília), o cirurgião plástico Ghassan Abu-Sittah relatou ao Correio combates perto do Hospital Al Shifa, onde trabalha. "Nesse momento, ouço tiros de pistolas ou revólveres, além de disparos de metralhadoras. Imagino que sejam de soldados a bordo de tanques. Mas, também, a artilharia de helicópteros Apache", disse.
Ghassan minimiza a decisão sobre a trégua de quatro horas diárias. "Isso é uma forma de reduzir a pressão sobre o governo de Israel. O que significa essa pausa? Uma trégua envolvendo bombardeios ou ataques aéreos? A menos que haja uma trégua prolongada, onde as pessoas possam sair dos abrigos, buscar comida, ter acesso a combustível; que as padarias voltem a funcionar e os hospitais sejam reabastecidos", observou. Ele acredita que a medida seja "inútil". "É como um truque." Na madrugada desta sexta-feira (10), a aviação israelense bombardeou o Hospital Pediátrico Al Rantisi, no norte da Faixa de Gaza.
Em Deir al Balah, no centro da Faixa de Gaza, o engenheiro civil Mohammed Al-Assar também demonstrou pessimismo. "A situação aqui está de ruim para pior. O ovo está mais caro do que ouro. A água custa mais do que petróleo. A trégua de quatro horas não muda nada. Tudo continuará na mesma", desabafou à reportagem, por meio do WhatsApp.
Porta-voz internacional das Forças de Defesa de Israel (IDF), Jonathan Conricus admitiu ao Correio que as tropas "avançam na Faixa de Gaza de acordo com o plano". "Estamos eliminando a infraestrutura do Hamas e os combatentes inimigos. Ao mesmo tempo, continuamos a retirar os civis do campo de batalha durante o dia", afirmou. O coronel Moshe Tetro, responsável por Gaza do Cogat (órgão do Ministério da Defesa de Israel que supervisiona atividades civis nos territórios palestinos), foi incisivo: "Não há crise humanitária em Gaza". Entretanto, ele reconheceu que a situação civil "não é fácil".
Reféns
"Eu sou Hanna Katsir, do kibbutz Nir Oz. Estou em um lugar que não é meu e tenho saudades de casa", afirma a refém idosa no vídeo divulgado pela Jihad Islâmica. Na gravação, ela diz esperar ver familiares parentes "na próxima semana". "Todos estamos saudáveis e felizes. (...) O responsável por essa bagunça é Netanyahu. Ele destrói tudo o que é bom", comenta a cadeirante. Ela assegura que os combatentes da Jihad Islâmica tratam os reféns "muito respeitosamente".
Yagil Ben-Yaakov, 13, diz sentir falta da família e dos amigos. "Quero dizer a Netanyahu que isso não funcionará. Todas essas explosões... Isso é loucura. Vocês matam crianças e prisioneiros (reféns). (...) Espero retornar o mais rápido possível. À medida que o tempo passa, fico em um perigo maior. Netanyahu, se algo acontecer a mim, isso cairá sobre a sua cabeça." Yagil, o pai, a madrasta e o irmão foram capturados no kibbutz Nir Oz.
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