O anúncio do ministro da Defesa, Yoav Gallant, foi feito quase ao mesmo tempo em que soldados da Brigada de Infantaria Golani posavam com bandeiras de Israel dentro do plenário do Conselho Legislativo Palestino, o prédio que funciona como Parlamento na Cidade de Gaza. "O Hamas perdeu o controle de Gaza. Os terroristas estão fugindo para o sul, e civis têm saqueado as bases da organização. Não há confiança no governo", declarou Gallant. Ele assegurou que as Forças de Defesa de Israel (IDF) trabalham de acordo com o planejado e executam sua missão com "precisão" e "inteligência". "Todos os dias, eliminamos mais comandantes do Hamas, dezenas, algumas vezes centenas", acrescentou o ministro.
O movimento fundamentalista islâmico nega a informação. "Os sonhos da ocupação israelense de erradicar a resistência serão em vão, e ela tenta fugir da derrota sofrida em 7 de outubro", afirmou, por meio de vídeo, Abu Obaida, porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas. Obaida, que nunca mostra o rosto, assegurou que a "resistência palestina" destruiu 20 veículos militares israelenses nas últimas 48 horas. "As forças israelenses invasoras estarão sob ataques a cada passo que derem dentro de Gaza", advertiu.
O Ministério da Saúde palestino, dirigido pelo Hamas, atualizou o balanço de vítimas da guerra: 11.240 mortos, incluindo 4.630 crianças e 3.130 mulheres. Do lado israelense, além dos 1.200 assassinados durante os atentados de 7 de outubro, 363 soldados morreram, 319 no massacre e 44 em combates.
Em entrevista ao Correio, Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, classificou como "prematuro" o anúncio de Gallant. "O Hamas não perdeu o controle de Gaza. A situação é muito fluida. Israel não tem sido capaz de resgatar os reféns, e os combates prosseguem. Acho que levará semanas, talvez dois ou três meses, até a situação se acalmar", comentou. Ben-Meir disse condenar, "nos mais fortes termos, a matança de israelenses ou palestinos inocentes". "Israel não mata palestinos inocentes. Infelizmente, muitos morrem, inadvertidamente, por causa dos horríveis combates." A reportagem tentou ouvir o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, mas ele declinou do pedido de entrevista.
Mutee Abu Musabeh, chefe do Departamento de Mídia Estrangeira do Hamas, disse ao Correio que a "propaganda israelense busca enganar a opinião pública". "Eles tentam surgir como vitoriosos, mas posso dizer que a resistência palestina ainda enfrenta a ocupação israelense em vários pontos da Cidade de Gaza e no norte da Faixa de Gaza. A ocupação israelense sabe muito disso", afirmou. "As imagens e os vídeos que vêm do campo de batalha comprovam isso muito claramente.
Reféns
Durante o comunicado de Abu Obaida, o porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam assegurou que o Hamas chegou a propor aos mediadores (Catar e Egito) um armistício de cinco dias para liberar 50 mulheres e crianças reféns e permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza. No entanto, segundo ele, Israel teria rejeitado a oferta. Até o fechamento desta edição, 238 pessoas — sequestradas em 7 de outubro em mais de 20 kibbutzim atacados pelos extremistas — seguiam em poder do grupo.
Nesta segunda-feira (13), o Hamas exibiu um vídeo em que admite a morte da soldado israelense Noa Marciano, 19 anos, capturada no kibbutz de Nahal Oz. "Nossos corações estão com a família Marciano, cuja filha, Noa, foi cruelmente sequestrada pela organização terrorista Hamas, que continua a usar o terror psicológico e a agir de forma desumana, enviando vídeos e fotos dos cativos, como fez no passado", afirmou o Exército isralense, por meio de nota.
As IDF divulgaram que encontraram "indícios" de que alguns dos reféns foram mantidos no subsolo do Hospital Pediátrico Al Rantisi, no norte da Faixa de Gaza. O porta-voz Daniel Hagari exibiu imagens de vídeo nas quais se vê uma mamadeira e um pedaço de corda amarrado a uma cadeira. O Exército israelense também teria achado evidências de que militantes do Hamas voltaram do massacre de 7 de outubro diretamente para o Al Rantisi e para outros hospitais, incluindo uma motocicleta "com buracos de bala".
"Essas alegações da ocupação israelense visam tentar apresentar qualquer coisa que possa satisfazera opinião pública interna. Nós divulgamos vários vídeos com cenas dos confrontos entre a resistência palestina e o Exército israelense."
Mutee Abu Musabeh, chefe do Departamento de Mídia Estrangeira do Hamas
Em meio ao conflito, a situação dos hospitais da Faixa de Gaza beira a catástrofe. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o maior deles,o Al Shifa, está se transformando em um cemitério. "No entorno do hospital, há cadáveres que não podem ser recolhidos, sepultados ou colocados em algum tipo de necrotério. O hospital não é mais funcional como deveria. É quase um cemitério", desabafou Christian Lindmeier, porta-voz da OMS. Sem energia elétrica nem combustível para alimentar os geradores, os médicos e enfermeiros do Al Shifa tomaram uma decisão drástica: os bebês prematuros foram embrulhados em papel alumínio e colocados perto de água quente.
Primeira cirurgiã palestina e funcionária do Al-Shifa, Sara Wael AlSaqqa contou ao Correio, por telefone, que precisou fugir para o sul da Faixa de Gaza, mas entrou em contato com Abdul Latif Al Hajj, vice-ministro da Saúde do enclave. "Ele me disse que mais de 100 médicos estão presos lá, e que muitos pacientes e pessoas refugiadas não conseguiram sair. Não se pode mover entre os prédios, nem mesmo para o pátio frontal, pois correm o risco de serem baleados. Aqueles que tentaram sair foram atingidos por tiros ou presos", relatou. "O hospital está sem combustível, sem eletricidade, sem comida e sem água. As pessoas que estão lá consomem o que têm e buscam compartilhar alimentos entre si. É um desastre."
Segundo AlSaqqa, 36 bebês prematuros resgatados da unidade de terapia intensiva neonatal alvo de bombardeios foram colocados em uma das salas de cirurgia. "Eles aguardam a remoção do hospital e serão os únicos pacientes que deixarão o local. Outros dois recém-nascidos dependiam de ventilação mecânica e morreram. Os bombardeios não param, e os mártires estão empilhados no pátio e dentro do Al Shifa. Também há lixo espalhado por todos os cantos", disse a médica. De acordo com a OMS, ao menos 2.300 pessoas — entre pacientes, profissionais de saúde e pessoas que fugiam dos combates— estariam dentro das instalações paralisadas do complexo hospitalar.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, instou Israel a proteger o Al-Shifa. "Tenho a esperança e a expectativa de que haverá ações menos intrusivas em relação ao hospital. O hospital deve ser protegido", ressaltou. As Forças de Defesa de Israel (IDF) alegam que o Hamas construiu um de seus quartéis em um sistema de túneis sob o Hospital Al-Shifa. Também acusam extremistas do grupo de dispararem contra soldados a partir da entrada do Hospital Al-Quds. Mutee Abu Musabeh, chefe do Departamento de Mídia Estrangeira do Hamas, disse ao Correio que as acusações são parte da "propaganda israelense". "A ocupação insiste que usamos civis como escudos humanos. Apesar de ser um dos exércitos mais avançados do mundo, jamais foi capaz de apresentar uma evidência disso para justificar a matança em massa de palestinos", afirmou. (RC)
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