14 de Novembro de 2024

Por que Israel lançou operação militar no maior hospital de Gaza


O Exército israelense informou que está realizando uma "operação precisa e direcionada contra o Hamas" dentro do hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, que abriga centenas de pacientes em estado grave e se tornou refúgio temporário para milhares de desalojados.

Em um comunicado nas redes sociais, as Forças de Defesa de Israel disseram que a operação é "baseada em inteligência e uma necessidade operacional".

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o hospital teria sido atacado várias vezes nos últimos dias, deixando várias pessoas mortas e muitas outras feridas.

Localizado no bairro de Rimal, na cidade de Gaza, o Al-Shifa tem capacidade para 700 leitos e é composto por cinco edifícios principais.

A OMS expressou "extrema preocupação" com os pacientes que estão internados no hospital, onde testemunhas relataram que os militares israelenses usaram bombas de gás lacrimogênio e pediram a todos os homens entre 16 e 40 anos que se reunissem no pátio, segundo Rushi Abualouf, correspondente da BBC em Gaza.

"Os relatos que vêm do ataque ao hospital Al-Shifa são profundamente perturbadores. Perdemos novamente o contato com a equipe do hospital. Estamos extremamente preocupados com a segurança de seus pacientes", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Israel disse que suas forças "incluem equipes médicas e falantes de árabe, que receberam treinamento específico para se preparar para este ambiente complexo e sensível" e que a intenção é que "nenhum dano seja causado aos civis que o Hamas usa como escudos humanos".

Também pediu que "todos os terroristas do Hamas presentes no hospital se rendam".

O Hamas negou usar o hospital para suas operações e solicitou a presença de observadores internacionais para que inspecionem o local.

Em um comunicado, o grupo palestino chamou as ações das forças israelenses de "crime de guerra", "crime moral" e "crime contra a humanidade".

Também disse que Israel estava atacando um centro civil e não instalações militares.

A BBC não pôde verificar imediatamente as informações fornecidas pelas Forças de Defesa de Israel.

Em 13 de novembro de 2023, a OMS alertou que o Al-Shifa é "quase um cemitério", com corpos amontoados dentro e fora do local (ler mais abaixo).

Milhares de civis, incluindo pacientes e equipes médicas, estão dentro e ao redor do hospital.

Uma testemunha ocular disse à BBC na madrugada de quarta-feira (15/11) que soldados israelenses "dispararam uma bomba de gás lacrimogênio" dentro do hospital "causando asfixia".

"Vi os soldados entrarem no departamento de cirurgia especializada", disse Khader Al-Zaanoun.

"Vi seis tanques dentro do hospital e mais de uma centena de soldados; eles entraram no departamento de emergência principal, alguns estavam mascarados e gritando em árabe 'não se mexa, não se mexa'", acrescentou.

Um jornalista dentro do hospital contou que os militares israelenses estão indo sala por sala, andar por andar, interrogando todos — funcionários e pacientes — e são acompanhados por médicos e pessoas de língua árabe.

As pessoas que se refugiaram no centro médico foram forçadas a se reunir no pátio e algumas estão sendo submetidas a controles de segurança.

Ele acrescentou que o Exército israelense tem "controle absoluto" e que nenhum tiroteio estava ocorrendo.

Um porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza disse que Israel informou que "atacaria o complexo hospitalar al-Shifa nos próximos minutos", informou a emissora árabe Al Jazeera.

Segundo Ashraf al-Qidra, as autoridades de Gaza informaram a Cruz Vermelha sobre o aviso.

A OMS alertou na segunda-feira (13/11) que a situação no hospital está se deteriorando rapidamente e, segundo alguns relatos, até 200 corpos foram enterrados em uma vala comum.

Pessoas estão morrendo depois que equipamentos hospitalares vitais pararam de funcionar devido a cortes de energia, disse o diretor do hospital.

Como resultado, dezenas de bebês prematuros e 45 pacientes renais que precisam de diálise não podem ser tratados adequadamente, informou um porta-voz da OMS na segunda-feira.

As Forças de Defesa de Israel disseram que entregaram suprimentos médicos, incluindo incubadoras, ao hospital, mas uma organização de ajuda humanitária disse que os equipamentos não são necessários — na verdade, falta combustível para alimentá-los.

"Não apoiamos atacar um hospital pelo ar e não queremos ver um tiroteio em um hospital, onde pessoas inocentes, indefesas, doentes, tentando obter os cuidados médicos que merecem, sejam pegas no fogo cruzado", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Ele também reiterou o apelo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na terça-feira passada de que hospitais e pacientes devem ser protegidos.

Em outro desdobramento, Biden e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, falaram por telefone.

A Casa Branca disse que os dois líderes "discutiram longamente os esforços contínuos para garantir a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, incluindo muitas crianças e vários americanos".

A operação militar de Israel no hospital al-Shifa ocorre poucas horas depois de os EUA corroborarem, a partir de dados de inteligência, as alegações de Israel de que o Hamas estava usando o subterrâneo do hospital Al-Shifa como centro de comando, o que o grupo palestino nega.

O Hamas acusou os EUA, junto com Israel, de serem "totalmente responsáveis" pelo ataque. Também disse que os comentários da inteligência dos EUA forneceram uma "luz verde" para Israel lançar sua ofensiva.

Funcionários dentro do hospital dizem ser impossível sair sem correr riscos.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse nesta segunda-feira no X (antigo Twitter) que "os constantes tiros e bombardeios na área exacerbaram as circunstâncias já críticas" no centro médico.

Vários relatos de dentro do hospital dizem não haver comida ou combustível para acionar os geradores. A energia solar está sendo usada para que algumas instalações sigam funcionando.

Christian Lindmeier, porta-voz da OMS, disse na segunda-feira que "nas proximidades do hospital há cadáveres que não podem ser cuidados, nem mesmo enterrados ou levados para qualquer tipo de necrotério".

"O hospital não está mais funcionando como deveria. É quase um cemitério", afirmou.

Fonte: correiobraziliense

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