Com o norte da Faixa de Gaza dominado, as Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que estão prontas para ampliar a incursão terrestre rumo ao sul e tomar todo o enclave palestino. "Nós estamos determinados a avançar a operação. Ela ocorrerá onde quer que o Hamas exista, incluindo o sul da Faixa de Gaza", declarou Daniel Hagari, porta-voz das IDF. "Isso acontecerá no momento, no local e nas condições que forem melhores militarmente."
Hagari destacou que o Exército israelense "trabalha com metas muito claras para a guerra" e que o progresso das tropas se dará "segundo os termos das IDF". No norte do enclave, soldados capturaram prédios do governo do movimento fundamentalista islâmico Hamas e asseguraram que os extremistas não detêm mais controle sobre a região.
Sem combustível, a ONU viu-se obrigada a suspender o envio de ajuda a 2,3 milhões de palestinos no território, agravando ainda mais a crise humanitária. O Ministério da Saúde palestino informou que 24 pacientes morreram no Hospital Al-Shifa, no centro da Cidade de Gaza, após o colapso de equipamentos médicos vitais. Israel permitiu a entrada diária de apenas dois caminhões-tanque com combustível; antes da guerra, pelo menos 50 ingressavam em Gaza.
Professor da Faculdade de Direito da Western University (em Ontário, Canadá) e ex-relator especial da ONU para a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos (2016-2022), Michael Lynk admitiu ao Correio que o apelo por "pausas e corredores humanitários amplos e urgentes" — a tônica da resolução 2.712 (aprovada na quarta-feira) — é insuficiente. "Apenas um cessar-fogo durável, completo e imediato será suficiente. O custo civil da missão política e militar de Israel para decapitar o Hamas e outros grupos armados palestinos em Gaza continuará a aumentar exponencialmente, nos próximos dias e semanas, se um cessar-fogo não for imposto", alertou, por e-mail.
Lynk reconhece que os efeitos práticos da resolução são escassos. "Israel adota pausas diurnas de quatro horas na ofensiva, mas não permite a entrada, em larga escala, de combustível, eletricidade, água, suprimentos médicos ou alimentos." O completo blecaute de comunicações imposto por Israel à Faixa de Gaza impede a entrada de ajuda coordenada e gerida ao território.
Reféns
Os familiares de reféns do Hamas devem finalizar a marcha às 16h deste sábado (11h em Brasília), com um protesto diante do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de percorrerem 63km entre Tel Aviv e Jerusalém. O organizador do ato, Yuval Haran, 36 anos, disse ao Correio que mais de 20 mil pessoas participaram da caminhada nesta sexta-feira. "Minha expectativa é de que a população israelense se una a nós e que sejamos uma voz contundente que não pode ser ignorada. Ninguém poderá ignorar nossos apelos. O mundo saberá que devemos trazer nossos familiares de volta para casa, agora. Não temos tempo", desabafou o morador do kibbutz de Be'eri. Ele teve o pai e dois tios executados, além de sete membros da família, inclusive a mãe, a irmã e os sobrinhos, sequestrados pelo Hamas.
Haran advertiu que, a cada dia que passa, a vida dos sequestrados corre perigo. "Temos perdido mais e mais reféns. Minha expectativa é de que o governo nos ouça, se reúna conosco e nos diga o que está ocorrendo. Também espero que consigamos atrair a atenção da opinião pública à situação de nossos familiares", acrescentou. "Queremos que todos falem sobre eles até conseguirmos a libertação." Na quinta-feira (16/11), soldados das IDF encontraram, em um prédio anexo ao Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, o corpo de Yehudit Weiss, 65 anos.
Nesta sexta-feira (17), localizaram o cadáver da também soldado Noa Marciano, 19, no mesmo local. Horas depois, as Brigadas Ezzedin al Qassam, o braço militar do Hamas, divulgou um comunicado afirmando que o refém israelense Zalman Zdmanovich, 86, morreu após sofrer um suposto ataque de pânico provocado por bombardeios.
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