22 de Novembro de 2024

Lula atrai apoio da Alemanha para tentar salvar acordo Mercosul-UE após 'ducha de água fria' da França


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (4/12) em Berlim que não vai desistir da conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, apesar da mudança de governo na Argentina e da oposição do presidente da França, Emmanuel Macron.

"Só posso dizer para você que não vai ter assinatura (do acordo) na hora que terminar a reunião do Mercosul, que eu tiver o não. Enquanto eu puder acreditar que é possível fazer esse acordo, eu vou lutar para fazer", disse Lula a jornalistas ao lado do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.

"Porque, depois de 23 anos, se a gente não concluir o acordo, é porque, eu penso que nós estamos sendo irrazoáveis com as necessidades que nós temos de avançar nos acordos comerciais, políticos e econômicos".

"E eu não vou desistir, enquanto eu não conversar com todos os presidentes e ouvir o não de todos. Aí nós vamos partir para outra", acrescentou.

Segundo Lula, a negociação passa por um "momento decisivo" durante a reunião da cúpula do Mercosul, que ocorre nos dias 6 e 7 de dezembro, no Rio de Janeiro. O Brasil preside o bloco, também formado por Argentina, Paraguai e Uruguai, até este mês.

Scholz afirmou, por sua parte, que tanto a Alemanha quanto o Brasil querem que o acordo entre os dois blocos seja concluído.

"Estou muito impressionado com o engajamento e ambição do Brasil. Estou convencido de que será possível obter uma maioria nos dois órgãos, tanto no Conselho Europeu quanto no Parlamento Europeu; peço a todos os envolvidos que deem uma prova de pragmatismo e celebrem o compromisso. Seria muito bom que o acordo saísse", disse o chanceler alemão.

Sobre as críticas de Macron (ler mais abaixo), Lula afirmou respeitar a posição do francês e lembrou que outros líderes da França foram contra o acordo. Disse também que tentou sensibilizar Macron.

"Quando eu me despedi do presidente Macron, eu falei para o Macron: 'Quando você pegar o avião, que você sentar na sua cadeira no avião, abra o seu coração, converse com a sua esposa, e aceite fazer o acordo entre a União Europeia e o Mercosul'", afirmou.

Lula também voltou a cobrar a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Defendeu ainda uma solução pacífica para o conflito entre Israel e o Hamas e para a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Lula esperava concluir o acordo até o fim deste ano, mas agora há poucas expectativas de que isso possa acontecer.

Os principais entraves são a vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina e, mais recentemente, a oposição pública do presidente da França, Emmanuel Macron, durante a conferência climática da ONU, a COP-28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Durante sua campanha presidencial, Milei afirmou que, se eleito, tiraria a Argentina do Mercosul.

Já Macron disse, no último sábado (2/12) estar preocupado com a falta de metas ambientais após uma reunião com Lula em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde os dois estiveram para a Conferência do Clima da ONU (COP28).

O francês disse que o acordo é "antiquado" e "entra em contradição" com as políticas ambientais dos dois países — já que não estabelece garantias de redução de desmatamento em países como o Brasil.

"Sou contra o acordo do Mercosul com a União Europeia. É um acordo completamente contraditório com o que [Lula] está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo. É um acordo que foi negociado há 20 anos e que tentamos consertar, e que foi mal consertado", disse Macron.

"Não posso pedir aos nossos agricultores, aos nossos industriais em França, mas também em toda a Europa, que façam esforços para aplicar novas regras de descarbonização. . . e então dizer de repente: 'Estou removendo todas as tarifas para permitir a entrada de produtos que não aplicam essas regras", acrescentou.

Em entrevista a jornalistas na manhã de domingo (3/12) em Dubai, Lula rebateu Macron e disse que a verdadeira preocupação da França no acordo Mercosul-União Europeia não é o meio ambiente — mas sim garantir formas de proteger seus produtores de competição que vem do Brasil e da América do Sul.

"A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão", afirmou.

"Se não tiver acordo paciência, não foi por falta de vontade", acrescentou.

E, em um novo revés para o acordo, o comissário de comércio da União Europeia, Valdis Dombrovskis, cancelou a viagem que faria ao Rio de Janeiro para finalizar o acordo com o Mercosul, em meio às perspectivas de que ele não seja concluído este ano, informou no domingo o jornal britânico Financial Times.

O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia começou a ser negociado em 1999 e prevê, entre outras coisas, a isenção ou redução na cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.

Em 2019, durante a Presidência de Jair Bolsonaro, Mercosul e União Europeia assinaram o acordo.

No entanto, novas exigências ambientais europeias e a reação sul-americana a elas acabaram por reabrir a negociação.

Atualmente, o texto passa por uma fase de revisão técnica antes de ser submetido à ratificação pelos Parlamentos de todos os países envolvidos.

Se concluído, vai envolver 31 países, 720 milhões de pessoas e aproximadamente 20% da economia mundial.

Lula desembarcou em Berlim na tarde de domingo (3/12) para uma visita oficial de três dias à Alemanha após passar por Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, onde discursou na COP28.

À noite, ele participou de um jantar de trabalho oferecido por Scholz.

Nesta segunda-feira (4/12) pela manhã, o brasileiro se reuniu com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e com a presidente do Conselho Federal (Bundesrat, equivalente ao Senado no Brasil) e governadora do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Manuela Schwesig.

Lula também se encontrou com parlamentares da coalizão governista.

À tarde, Lula e Scholz voltaram a se reunir e presidiram a 2ª Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha, com a participação de ministros de Estado brasileiros e ministros federais alemães.

As Consultas de Alto Nível são o mais elevado mecanismo de diálogo entre Brasil e Alemanha e a única reunião ocorreu em Brasília, em 19 e 20 de agosto de 2015.

Na ocasião, a então chanceler Angela Merkel visitou o Brasil acompanhada de sete ministros e cinco vice-Ministros Federais.

Segundo o governo brasileiro, foram assinados cerca de 20 acordos nas mais diversas áreas, incluindo economia, meio ambiente e tecnologia.

No fim da tarde desta segunda-feira, Lula e Scholz participaram de um evento empresarial, realizado na Casa da Economia Alemã (sede da Federação da Indústria Alemã, BDI), onde o petista se reuniu com altos representantes de empresas alemães e brasileiras.

Na terça-feira (5/12) pela manhã, Lula deve se encontrar com Martin Schulz, presidente Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata (SPD). O SPD, partido do chanceler Scholz, tem relações históricas com o PT.

Além disso, Schulz, ex-líder do SPD e ex-presidente do Parlamento europeu, é amigo de Lula e o visitou em 2018 na prisão em Curitiba.

Lula também se reunir com o ex-presidente alemão e ex-presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Köhler.

Este é, provavelmente, o último giro internacional do ano de Lula. O petista foi convidado para a posse do presidente argentino, Javier Milei, no dia 10 de dezembro, mas sinalizou que não comparecerá à cerimônia.

Quando voltar a Brasília, na terça-feira à tarde, Lula terá saído do Brasil 15 vezes, visitado 23 países e passado, no total, mais de 60 dias no exterior, desde que tomou posse para o terceiro mandato, em 1º de janeiro deste ano.

Fonte: correiobraziliense

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