O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta sexta-feira (8), à margem de uma cerimônia, que vai concorrer novamente ao cargo na eleição presidencial de março de 2024, informaram as três principais agências de notícias do país.
Putin, de 71 anos, foi eleito presidente da Rússia pela primeira vez em 2000 e venceu quatro eleições presidenciais. Entre 2008 e 2012, foi primeiro-ministro em um sistema político em que a oposição é quase inexistente, após anos de repressão.
O presidente fez o anúncio durante uma cerimônia de entrega de prêmios militares no Kremlin, que incluiu combatentes que participaram da ofensiva na Ucrânia, iniciada por Putin em fevereiro de 2022.
"Em outros momentos, tive posições diferentes sobre esta questão. Mas entendo que agora não há outra opção possível. Vou concorrer à presidência da Rússia", disse ele, à margem da cerimônia.
Em um acontecimento incomum, o anúncio chegou à imprensa russa por meio de um participante da cerimônia que conversou com Putin: Artiom Zhoga, um combatente e membro do Parlamento russo local em Donetsk (cidade ocupada no leste da Ucrânia).
"A candidatura está cheia de símbolos: os heróis, os ‘pais do Donbass’ (território ucraniano reivindicado por Moscou), querem ver Putin como presidente de novo", comentou a analista Tatiana Stanovaya, no Telegram.
Na sua opinião, este anúncio informal procura dar a imagem de um "Putin modesto, ocupado (resolvendo) os problemas reais".
O presidente da Câmara Baixa do Parlamento, Vyacheslav Volodin, destacou no Telegram as "qualidades únicas" de Putin, e sua homóloga na Câmara Alta, Valentina Matvienko, lembrou que o presidente "nunca evitou e não evita as decisões responsáveis".
Nesta disputa, Putin não enfrenta nenhum adversário relevante.
Cinco grandes partidos foram autorizados a apresentar um candidato para as eleições de 2024 sem recolher assinaturas, todos eles apoiadores do Kremlin e da operação na Ucrânia.
As eleições acontecerão de 15 a 17 de março, pouco depois do segundo aniversário do início do ataque à Ucrânia e na véspera do décimo aniversário da anexação russa de um primeiro território ucraniano, a península da Crimeia.
Vários grupos de direitos humanos afirmam que as eleições anteriores foram marcadas por irregularidades e que o trabalho dos observadores independentes provavelmente não será permitido.
A nova candidatura de Putin é possível, graças a uma polêmica reforma constitucional aprovada em 2020.
Com essa emenda, Putin poderá concorrer em 2024 e, se vencer, poderá concorrer à reeleição em 2030. Isso significa que pode permanecer no poder até 2036, quando completará 84 anos.
Depois de um 2022 difícil, marcado por reveses no "front" e por uma série de sanções ocidentais, a Rússia está em uma situação melhor, devido ao fracasso da grande contraofensiva da Ucrânia e à erosão do apoio dos Estados Unidos e da Europa a Kiev.
Quase todos os opositores de alto perfil, incluindo o ativista anticorrupção Alexei Navalny, foram presos, ou forçados ao exílio. Além disso, qualquer crítica à operação contra a Ucrânia é duramente punida nos tribunais.
Navalny cumpre atualmente uma pena de 19 anos de prisão por acusações que seus apoiadores afirmam serem falsas.
Em um comunicado divulgado por sua equipe na quinta-feira, Navalny encorajou os russos a votarem em "qualquer outro candidato" sem ser Putin e chamou a eleição de "farsa".
Putin é um ex-agente da KGB soviética e entrou na política como prefeito de São Petersburgo. Em 1999, foi nomeado primeiro-ministro durante o governo de Boris Yeltsin, a quem mais tarde substituiu como presidente interino até sua primeira eleição, em 2000.
Ficou no poder por dois mandatos até 2008 e depois, como estava proibido de concorrer novamente, assumiu o cargo de primeiro-ministro durante o governo de Dmitri Medvedev.
Na sequência, concorreu à chefia de Estado em 2012 e 2018. Desmantelou os avanços democráticos da década de 1990 e defendeu a nostalgia da União Soviética, com uma guinada conservadora.
Desde que chegou ao poder, defendeu uma maior influência geopolítica com a segunda guerra da Chechênia (1999-2009), a invasão da Geórgia (2008), a intervenção na Síria (2015) e a anexação da península ucraniana da Crimeia, em 2014.
A ofensiva da Rússia na Ucrânia em 2022 fez de Putin um pária entre as potências ocidentais, que adotaram uma onda de sanções sem precedentes, destinadas a cortar o financiamento para sua operação militar.
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