Conforme esperado pelo mercado, o Banco Central (BC) decidiu, ontem, reduzir a taxa básica da economia (Selic) em mais 0,50 ponto percentual. Passou de 12,25% para 11,75% ao ano, menor patamar desde março de 2022. A decisão foi unânime e, no comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que manterá o mesmo ritmo de corte nos juros básicos "nas próximas reuniões".
Essa foi a quarta redução consecutiva da Selic no ciclo de flexibilização iniciado em agosto. Conforme o comunicado do Comitê, as projeções do Boletim Focus para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano estão em 4,60% e as do Copom em 4,50% — ambas abaixo do teto da meta de inflação de 2023, de 4,75%.
No comunicado, o Comitê informou que entende que a decisão de ontem "é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025". O texto destaca, também, que a "condução da política monetária ainda demanda serenidade e moderação".
O BC reforça na nota a preocupação na manutenção das metas fiscais, que não foram aprovadas pelo Congresso. No comunicado, repete o trecho em que "reafirma a importância da firme persecução dessas metas". No Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024, que tramita no Congresso, a meta fiscal é de deficit primário zerado no próximo ano.
"O Copom reiterou a importância de prosseguir e cumprir com firmeza as metas fiscais. Isso capta o aumento do risco de uma meta fiscal mais flexível e de derrapagens fiscais em 2024", ressalta o economista Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs.
Ele lembra que além de manter a mesma sinalização de corte para as próximas reuniões, o Copom demonstra menos preocupação com o cenário externo, que segue "volátil e menos adverso do que na reunião anterior". Ramos espera que o comitê reduza a Selic em 0,50 nas duas próximas reuniões, em janeiro e março.
A perspectiva de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, nas duas próximas reuniões do Copom, é de que a Selic vá a 10,75% em março. "O comunicado pouco difere do anterior. A referência à melhora do quadro mundial foi leve e preservou a qualificação de desafiador. Mas a incerteza parou de piorar. Em relação ao cenário doméstico, o comitê reconhece que há sinais de convergência dos núcleos de inflação para a meta, o que é inédito", destaca.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve excesso de conservadorismo na decisão do comitê porque, mesmo com as reduções da Selic desde agosto, a taxa de juros real "está em 8% ao ano" — equivalentes a 3,5 pontos "acima da taxa de juros neutra, que não estimula nem desestimula a atividade econômica".
"O cenário de controle da inflação justifica plenamente a redução da Selic em ritmo mais acelerado, e é isso que a CNI espera que seja feito nas próximas reuniões do Copom. É preciso — e possível — mais agressividade", disse o presidente da CNI, Ricardo Alban, em comunicado da entidade.
Em tom otimista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a decisão do Copom e "as boas notícias do exterior" — em referência ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que manteve entre 5,25% e 5,50% o intervalo dos juros básicos. "O Copom, como esperado, fez mais um corte sinalizando que outros virão. Isso significa que os investidores brasileiros podem se preparar para um ciclo de crescimento mais sustentável, com baixa inflação e baixo desemprego. E isso é uma boa notícia para as famílias brasileiras", afirmou.
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