22 de Novembro de 2024

O que é exaustão térmica, causa da morte de fã em show da Taylor Swift


A causa da morte de Ana Clara Benevides Machado, a fã de Taylor Swift que morreu após passar mal em um show da cantora no Rio de Janeiro, foi confirmada como exaustão térmica, de acordo com o laudo de necropsia divulgado pela TV Globo na quarta-feira (27/12).

A estudante universitária de 23 anos estava entre as 60 mil pessoas que estavam no estádio do Engenhão para a apresentação de Taylor Swift em 17 de novembro.

Na ocasião, a cidade atravessava uma onda de calor, a temperatura no dia passava de 40ºC no Rio, mas com uma sensação térmica bem mais elevada, de quase 60ºC, segundo medições feitas pela Prefeitura na estação de Guaratiba, na Zona Oeste.

Ana Clara assistia ao show em um dos locais mais cheios do estádio, na grade que separa o público do palco, e teve uma parada cardiorespiratória. Ela foi levada para o hospital, mas morreu algumas horas depois.

De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal ao qual a TV Globo teve acesso, a estudante estava exposta ao calor extremo no estádio e teve uma exaustão térmica que provocou um choque cardiovascular e comprometimento grave dos pulmões.

O documento aponta ainda que a morte de Ana Clara foi causada por um rompimento dos vasos sanguíneos que irrigam os pulmões (hemorragia alveolar) e a paralisação de vários órgãos por causa da exposição ao calor (congestão polivisceral).

O caso está sendo investigado pela polícia do Rio, que avalia se os responsáveis pelo show tiveram alguma responsabilidade sobre o que ocorreu.

Representantes da T4F, empresa que organizou as apresentações de Taylor Swift no Brasil, serão chamados agora a depor.

A T4F disse em nota divulgada à imprensa sobre o caso que distribuiu água para o público e não restringiu a entrada no estádio de água em copos descartáveis.

Acrescentou ainda que Ana Clara foi "foi prontamente atendida por socorristas e encaminhada em ambulância UTI, acompanhada por médicos até o hospital para que pudesse receber atendimento".

Também disse que nunca se envolveu em um "episódio trágico como o ocorrido no Engenhão, decorrente de fator climático” em 40 anos de atuação.

Mas o que é exatamente a exaustão térmica, quais são as causas e sintomas e o que fazer para evitar isso ou impedir que essa condição leve alguém à morte?

Clima muito quente, falta de ventilação, roupas apertadas, exercícios rigorosos. Tudo isso contribui de alguma forma para o aumento da temperatura corporal.

Se isso não for controlado adequadamente, pode representar um sério risco à saúde.

A exaustão térmica acontece quando o corpo superaquece, geralmente em ambientes quentes.

À medida que o corpo fica mais quente, os vasos sanguíneos se dilatam.

Isso leva a uma pressão arterial baixa e faz com que o coração trabalhe mais para conseguir empurrar o sangue através dos vasos sanguíneos.

Se o corpo aquece e chega até os 39ºC ou 40°C, o cérebro lança um comando para os músculos baixarem o ritmo. A fadiga se instala.

Se a temperatura corporal ultrapassa 40°C, há perda da capacidade de se resfriar e pode-se chegar a um quadro até mesmo fatal.

Entre 40°C e 41°C, a exaustão pelo calor é provável — acima dos 41°C, o corpo começa a desligar.

Nesse estágio, os processos químicos são afetados, as células se deterioram e existe até o risco de falência múltipla de órgãos.

O corpo não pode nem suar neste momento porque o fluxo sanguíneo para a pele é interrompido, tornando-a fria e úmida.

A insolação — que pode ocorrer a qualquer temperatura acima dos 40°C — requer ajuda médica profissional e, se não for tratada imediatamente, as chances de sobrevivência podem ser pequenas.

Em um primeiro momento, esse quadro pode causar sintomas leves, como irritação na pele com coceira ou pés inchados, porque os vasos sanguíneos se tornam mais permeáveis.

O corpo reage ao aumento da temperatura elevando o fluxo sanguíneo para a pele.

Isso, por sua vez, "transfere" o calor de dentro do organismo para a superfície.

Esse processo também está relacionado à produção acelerada de suor, que evapora e esfria o corpo.

Mas essa transpiração excessiva também leva à perda de líquidos e sais minerais, o que afeta o equilíbrio dessas substâncias.

Esses fatores, combinados com a redução da pressão arterial, podem levar à exaustão pelo calor. Os sintomas incluem:

Se a pressão arterial cai muito, o risco de ataques cardíacos também aumenta.

Nosso organismo se esforça para manter uma temperatura central próxima dos 37,5°C, seja em uma tempestade de neve ou durante uma situação de muito calor.

Essa é a temperatura ideal para o corpo trabalhar adequadamente.

Porém, à medida que o clima fica quente, nossas células precisam trabalhar mais para manter a temperatura central baixa.

É necessário então abrir mais os vasos sanguíneos perto da pele para dispersar o calor ao nosso redor e iniciar o processo de transpiração.

À medida que o suor evapora, há um aumento drástico do calor perdido pela pele.

George Havenith, professor de Fisiologia Ambiental e Ergonomia da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, diz que a umidade do ar é fundamental para determinar o quanto podemos suar.

Se a umidade está alta, nossa capacidade de suar é prejudicada, e isso aumenta o mal-estar.

Mas, se o clima estiver quente e seco, o suor pode ajudar.

"Podemos evaporar muita umidade através da pele — mas também temos que produzir o suor", diz o professor.

"Isso significa ter a capacidade de transpirar rapidamente, mas as pessoas podem ser limitadas pela quantidade de suor que fabricam."

Nesse sentido, alguém que corre a cerca de 15 km por hora em temperaturas de até 37°C precisaria produzir quatro litros de suor por hora.

Pessoas com mais de 60 anos ou portadores de algumas condições de longo prazo, como doenças cardíacas, podem diminuir a capacidade de lidar com a tensão que o calor coloca no corpo.

Doenças como diabetes podem fazer com que o corpo perca água mais rapidamente.

Além disso, algumas complicações próprias dessa doença alteram os vasos sanguíneos e a capacidade de transpirar.

Crianças e pessoas com dificuldades de locomoção também podem ser mais vulneráveis.

Doenças cerebrais, como a demência, deixam as pessoas sem consciência sobre o calor de momento ou as tornam incapazes de fazer algo a respeito.

As pessoas em situação de rua estão mais expostas ao sol e, portanto, aos riscos do calor extremo.

Quem mora em apartamentos no último andar de prédios também enfrenta temperaturas mais altas.

*Com reportagem de James Gallagher, da BBC News.

Fonte: correiobraziliense

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