Já se passaram quase 13 anos desde o devastador terremoto e o posterior tsunami, que provocaram um acidente em uma usina nuclear em Fukushima.
Mas as memórias do Japão ainda estão frescas. E, na segunda-feira (1/1), todas as lembranças voltaram à mente quando o tremor começou em Ishikawa e os alarmes de tsunami voltaram a soar. Avisos do tipo não são exatamente incomuns no Japão.
Há fotos de velhas casas de madeira em Ishikawa que foram destruídas pelo mais recente terremoto. Um edifício moderno tombou, embora os canais de notícias tenham sido rápidos em apontar que ele foi construído em 1971.
Segundo as informações divulgadas até o momento, houve cerca de 50 mortes e muitas pessoas ficaram feridas.
Mas é difícil pensar em qualquer outro país da Terra que pudesse ter sofrido um terremoto como este sem ser afetado de forma muito pior.
Quando me mudei para lá, eu pulava da cama ao menor tremor em nosso prédio.
Mas, em poucos meses, eu dormia apesar dos tremores. No Japão, os terremotos rapidamente se tornam parte da vida. Você se acostuma com eles, até certo ponto.
Ainda há sempre aquela sensação incômoda no fundo da sua mente. Quando será o próximo grande tremor? Nosso prédio é firme o suficiente?
Para a atual geração de japoneses, todos esses medos se concretizaram no dia 11 de março de 2011.
Durante dois minutos, a terra tremeu de uma forma que ninguém havia experimentado. Os abalos pareciam não acabar.
Qualquer pessoa que tenha passado por isso pode contar exatamente onde estava e como se sentiu aterrorizada. Mas o pior ainda estava por vir.
Em 40 minutos, os primeiros tsunamis começaram a chegar à costa. As ondas destruíram paredes marítimas e varreram cidades e aldeias por centenas de quilômetros ao longo do litoral japonês.
Tudo foi transmitido ao vivo pela televisão, por um helicóptero que sobrevoava a cidade de Sendai.
O dia seguinte trouxe notícias ainda mais terríveis: uma central nuclear estava em crise. Os colapsos de Fukushima haviam começado.
Centenas de milhares de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Mesmo Tóquio não estava segura.
A marca daquele dia deixou um profundo trauma coletivo. Nos meses que se seguiram, procurei um novo lugar para morar na capital japonesa. Minha esposa estudou mapas geológicos para ver onde estava a rocha mais forte, em terrenos elevados, longe de quaisquer rios. Ela era obcecada pela idade dos edifícios.
Ela foi clara: "Não vamos alugar nenhuma casa que foi construída antes de 1981."
Assim que nos mudamos para nosso prédio (de 1985), começamos a acumular comida e água. As reservas ficavam guardadas embaixo da pia do banheiro, onde mantínhamos caixas com prazo de validade de até cinco anos.
O pavor e o horror de 2011 retornaram na segunda-feira (1/1).
E, no entanto, este terremoto mais recente representa também uma história notável de sucesso do Japão.
O país não estima o impacto dos terremotos por magnitude. Ele relata o quanto o chão treme, numa escala que vai de um a sete. E, na segunda-feira, o tremor em Ishikawa atingiu o máximo, sete.
Houve destruição generalizada de estradas e pontes, com enormes deslizamentos de terra. Mas a grande maioria dos edifícios continua de pé.
Nas grandes cidades de Toyama e Kanazawa, a vida já volta a uma espécie de normalidade.
Falei com um amigo na cidade vizinha de Kashiwazaki. "Foi realmente assustador", contou ele.
"Esse terremoto foi de longe o maior que já experimentei aqui. E tivemos que evacuar para longe da costa. Mas agora estamos de volta em casa e está tudo bem."
Isso é um resumo de uma história notável do triunfo da engenharia que começou há um século, em 1923, quando um enorme terremoto atingiu Tóquio.
O Grande Terremoto de Kanto, como é conhecido, arrasou grandes áreas da cidade. Os edifícios modernos de tijolos, construídos segundo os padrões europeus, desmoronaram.
O desastre levou à elaboração do primeiro código de construção resistente a terremotos do Japão. A partir de então, os novos edifícios precisariam ser reforçados com aço e concreto. Os edifícios de madeira teriam vigas mais grossas.
Cada vez que o país foi atingido por um grande abalo sísmico, os danos foram estudados e os regulamentos atualizados.
O maior salto ocorreu em 1981, quando todos os novos edifícios passaram a exigir medidas de isolamento sísmico.
Mais uma vez, após o terremoto de Kobe em 1995, foram aprendidas novas lições.
Uma medida do sucesso é que, quando ocorreu o enorme terremoto de 9.0 graus em 2011, o nível de tremor em Tóquio atingiu 5. Trata-se do mesmo nível de abalo que a capital do Japão sofreu em 1923.
Em 1923, porém, a cidade foi arrasada e 140 mil pessoas morreram.
Em 2011, os enormes arranha-céus balançaram, as janelas se quebraram, mas nenhum edifício importante caiu. Mas foi o tsunami que matou milhares de pessoas — e não os tremores no solo.
Fonte: correiobraziliense
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