04 de Outubro de 2024

Insetos luminescentes estão desaparecendo do Cerrado


À noite, no Cerrado — a savana e segundo maior bioma do Brasil —, larvas do besouro Pyrearinus termitilluminans, que vivem em cupinzeiros, exibem lanternas verdes para capturar presas atraídas pela luz brilhante. Em mais de 30 anos de expedições com seus alunos ao Parque Nacional das Emas e às fazendas do entorno da unidade de conservação goiana para coleta de exemplares, o fenômeno nunca foi tão raro, diz Vadim Viviani, professor da Faculdade de Ciências da Universidade Federal de São Carlos, Centro de Tecnologia para Sustentabilidade (CCTS-UFSCar) em Sorocaba, São Paulo.

"Na década de 1990, veríamos muitos desses cupinzeiros cheios de vaga-lumes e outros insetos bioluminescentes, até mesmo em áreas de pastagem", conta Viviani. "Agora, a cana é cultivada na maior parte das áreas e quase não vemos."

A escassez dos insetos foi uma das principais conclusões de um estudo apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), publicado na revista Annals of the Entomological Society of America. O levantamento registrou 51 espécies em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo a maioria vaga-lumes (Lampyridae). O restante são besouros click (Elateridae), que têm duas lanternas nas costas, e os pirilampos (Phengodidae), que podem produzir luz de cores diferentes ao mesmo tempo.

Cana 

Os pesquisadores afirmam que a diversidade desses besouros nos remanescentes do Cerrado e nas fazendas vizinhas ao parque diminuiu acentuadamente nas últimas três décadas, concomitantemente à substituição das plantações de soja e cana-de-açúcar por pastagens, bem como à redução do bioma em geral, e mais especificamente em áreas de floresta densa e seca, conhecidas como cerradão.

A ocorrência de cupinzeiros luminosos no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT) é relatada pela primeira vez no artigo. Muitos montes cheios de larvas de vaga-lumes são encontrados no Parque Nacional das Emas (GO) e áreas vizinhas. Pesquisas anteriores do mesmo grupo relataram o fenômeno da bioluminescência também na Floresta Amazônica.

Os pesticidas e a iluminação artificial também são inimigos dos besouros bioluminescentes. A luz brilhante produzida pelos humanos impede que eles sejam localizados pelos parceiros e se reproduzam. Em particular, os pesquisadores notaram a ausência de larvas de pirilampos em expedições recentes. Esses insetos podem emitir luz vermelha e verde ao mesmo tempo e têm significativo potencial biotecnológico.

"O declínio desta família (Phengodidae) foi especialmente evidente. Os machos adultos não são mais atraídos por armadilhas luminosas em fazendas cercadas por cana-de-açúcar desde 2010", relata Viviani. "Além disso, os níveis crescentes de luz artificial proveniente de centros urbanos próximos à noite podem ameaçar diversas espécies bioluminescentes dentro do Parque Nacional das Emas. O problema merece atenção especial e mais estudos."

Tecnologia

A extinção de espécies bioluminescentes não é apenas uma perda para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos prestados por esses animais, mas também representa a perda de oportunidades tecnológicas e econômicas, dizem os pesquisadores. A produção e emissão de luz visível fria pelos seres vivos é útil para muitos processos na medicina, na indústria e na gestão ambiental. Por exemplo: cores como verde, amarelo, laranja e vermelho. Enzimas conhecidas como luciferas são utilizadas para marcar células e proteínas em estudos.

"É importante entender que o Cerrado não é apenas matagal", destaca o pesquisador. "É um repositório de água no solo, uma fonte de evaporação que gera chuva e também um imenso estoque de espécies exclusivas. Podemos aprender muito com todo esse tesouro."

Fonte: correiobraziliense

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