Determinado a fazer campanha em favor dos pontos que julga positivos da Lei dos Agrotóxicos e com críticas claras a outros, o produtor orgânico e consultor na área de produção sustentável de alimentos Joe Valle destacou a necessidade de se investir mais em pesquisa e estudos para aprimorar a agricultura saudável para o bem-estar social e também para a economia nacional. Segundo ele, o momento é para "pressionar" os parlamentares no acompanhamento das medidas que devem ser colocadas em prática. O empresário concedeu entrevista ontem ao CB.Agro — parceria entre Correio Braziliense e TV Brasília, apresentado pelos jornalistas Roberto Fonseca e Lorena Pacheco.
A Lei dos Agrotóxicos foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas teve 14 vetos. O texto final menciona o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos. Para Valle, o momento é de ações que beneficiem a agricultura, o agricultor, o consumidor e o país. Uma das alternativas se refere à Rota do Queijo, projeto que deve estimular o agroturismo no Distrito Federal. Entusiasmado, demonstrou otimismo. "Eu acho que o nosso território realmente jorra leite, mel, queijo e vinho, de boa qualidade", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual a sua avaliação sobre a nova lei dos agrotóxicos?
O meu cliente final não quer comprar o meu produto, se tiver aquele determinado agrotóxico. A indústria tem muito dinheiro para pesquisar, ela pode resolver esse problema. Para mim, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é a melhor empresa brasileira pública que existe, mas 'cadê' o recurso da Embrapa? Um país que não investe em pesquisa é um país sem futuro. Se eu produzo, é para um mercado. São cerca de 80 mil intoxicações por veneno no Brasil por ano, esse é um problema agronômico ou um problema de saúde? Não tem como aprovar uma molécula se ela interfere na saúde pública.
Como será a execução na prática da lei?
Quando mudou o presidente da República, mudaram os programas por quatro anos. Até ajustar essa máquina de novo vai demorar. Parece que está sempre começando com uma promessa de que em dois anos vai colocar uma coisa legal, mas não está preparado, não tem estrutura. O governo precisa conseguir entender que tem que ter estrutura para as coisas.
Há aí uma proposta sobre a chamada Rota do Queijo, o senhor está confiante de que há estrutura para os produtores locais de queijos artesanais?
O agroturismo no Distrito Federal é uma tendência. Eu acho que o nosso território realmente jorra leite, mel, queijo e vinho, de boa qualidade. O agroturismo é muito forte, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) tem 100% dos agricultores familiares e ela trouxe uma primeira reunião e eu fiquei muito surpreso da quantidade que nós temos de queijeiros aqui.
Como esses fenômenos climáticos afetam o mercado interno do Distrito Federal?
Quando se tratam de hortaliças, nós tivemos de 15 dias para cá 460 milímetros (de chuva). Isso é uma concentração de chuva muito grande. Isso afeta o que tem mais sensibilidade. O preço das hortaliças vai subir e algumas ficam mais difíceis de encontrar. Então já começa a sentir nas folhagens, começa a ter problema se você não tem um cultivo protegido com as estufas. Mas Brasília tem, por exemplo, muita hidroponia, que está protegida pelo cultivo na água. Todas as hortaliças que são cultivadas a céu aberto estão sendo afetadas pela quantidade de chuva.
Qual é a tendência atual, na sua opinião?
As empresas estão aderindo à agenda de sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa (do inglês Environmental, Social and Governance), conhecida como ESG, porque o mercado exige. O agro é o destruidor, o desmatador, o que queima. Nós precisamos mais do que as outras empresas e indústrias. Essa tendência em 2024 é muito forte. Vamos ouvir falar cada vez mais nessa questão da agenda ESG.
Em 2024, vamos continuar vendo o crescimento do Agro 4.0? Como oferecer isso ao pequeno produtor?
O crédito e o seguro têm que estar vinculados ao outro. Vai afetar a safra brasileira, isso não tem a menor dúvida, a renda vai baixar. Há lugares no Brasil que tiveram três plantios de soja, por causa da falta de água. Todos nós fomos surpreendidos no país inteiro com isso e nós vamos ter uma baixa de produção, uma quebra de safra. A tendência vem para buscar produtividade, diminuindo desperdício. O ano de 2024 será o ano da tecnologia para o pequeno produtor, o uso de drones está se tornando cada vez mais real e a tecnologia está baixando de preço.
*Estagiária sob a supervisão de Renata Giraldi
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