Após meses de espera, o governo federal publica, hoje, no Diário Oficial da União, o edital com as regras para o Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), que selecionará 6.640 servidores para 21 órgãos públicos federais. O documento traz informações sobre os blocos temáticos, conteúdo das provas, critérios de classificação e desclassificação, validade do certame e composição das notas finais.
Os candidatos poderão se inscrever a partir de 19 de janeiro, no site da Fundação Cesgranrio, banca organizadora. O período será encerrado em 9 de fevereiro. Já as provas estão marcadas para
serem aplicadas em 5 de maio. Segundo estimativas do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o concurso poderá alcançar 5 milhões de inscritos, número maior que o do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que obteve 3,9 milhões de inscrições no ano passado.
Nas últimas semanas, a comunidade de concurseiros se agitou com a notícia do edital do concurso, uma iniciativa que visa unir diversos órgãos em um único processo seletivo. Para a cientista política Elane Vieira, 28 anos, o concurso público unificado representa uma grande oportunidade. Com expectativas, ela
destacou a diversidade de cargos como um diferencial, permitindo escolhas estratégicas no momento de disputar vagas alternativas dentro da mesma área.
“É uma excelente oportunidade. Serão muitos cargos, vamos escolher a área como se fosse o Enem e, se eu não passar na área que escolhi, posso tentar um outro cargo da mesma área com a nota. Aumenta
muito a possibilidade de passar no concurso”, apontou.
Considerando-o como uma das melhores oportunidades do ano, ela prevê uma competição acirrada. Além disso, Vieira não hesitou em incentivar amigos a participarem, reconhecendo a dificuldade nos concursos em geral. “É uma ótima oportunidade para quem quer entrar na carreira pública, talvez uma das melhores do ano, este ano terão muitos concursos. Eu conheço muita gente que estuda para concurso, por isso eu sei que está muito difícil de passar.”
Apelidado de Enem dos concursos, o novo modelo do concurso unificado consiste em um único edital para todos os órgãos federais que tiveram vagas autorizadas. Com provas aplicadas simultaneamente em todos os estados e no Distrito Federal, o candidato poderá concorrer a mais de um cargo, desde que esteja
dentro do mesmo bloco temático.
Para a secretária-adjunta de Gestão de Pessoas do MGI, Regina Camargos, haverá uma “democratização do acesso dos candidatos ao concurso público”, visto que eles não vão precisar se deslocar das suas cidades ou regiões para virem a Brasília para fazerem o concurso. Ela também adiantou que a metodologia a ser adotada no concurso é inovadora, e que as provas serão aplicadas em 220 cidades de todo o país por meio de parceria com o Cesgranrio.
Segundo Camargos, outra vantagem é que, com apenas uma inscrição, os candidatos prestarão concurso para vários órgãos. “Não será mais aquele modelo em que você pagava uma taxa para fazer o concurso
de um determinado órgão, depois outra taxa para fazer de outro órgão”, disse.
A ideia apresentada inicialmente é de que a primeira etapa do concurso unificado seja em um único dia, dividida em dois momentos: primeiro será aplicada uma prova objetiva, com conteúdo comum a todos
os candidatos. Depois, no mesmo dia, serão aplicadas provas dissertativas e com conteúdos específicos, de acordo com cada bloco temático.
Segundo Eduardo Cambuy, professor do Gran e especialista em aprendizagem, a Cesgranrio é uma banca que tem muita experiência na execução de provas, inclusive do Enem, que é um modelo que tem sido muito comparado ao CPNU. “Ela tem a metodologia de múltipla escolha, então não acredito que vai haver mudança nesse sentido, até porque ela foi contratada justamente por causa dessa experiência e ela não inovaria em uma prova tão complexa quanto essa”, afirmou.
Cambuy disse que é uma banca que não costuma usar textos complexos e na parte de direito evita questões jurisprudenciais. “Também é importante dizer que a banca não tem um histórico de problemas graves, como vazamentos. Então, é uma banca que pode sim executar um bom trabalho”, avaliou o
professor. Na avaliação dele, a abrangência do concurso é totalmente inovadora, pegando áreas que jamais tiveram provas disponíveis e pessoas que nunca tiveram oportunidade de prestar um concurso de magnitude federal em suas cidades.
O certame unificado divide opiniões, há quem afirme que a concentração ignora conhecimentos específicos de determinadas áreas. A advogada Anna Barbosa, 45, não tem boas expectativas em relação à prova. A preocupação surge devido à complexidade das disciplinas de exatas, que, para ela, exclui boa parte dos candidatos de áreas humanas.
Barbosa mostrou receio quanto à acessibilidade do processo, tremendo que o conteúdo cobrado possa tornar o acesso ao concurso inviável. “A minha expectativa não é muito boa. Eles querem deixar acessível para todo mundo, mas essas matérias que estão sendo cobradas são específicas para o pessoal de exatas, não para gente de humanas. Todos os concursos tendem a ir nessa linha. Eu estou revoltada, me sinto prejudicada”, disse.
Por outro lado, a fotógrafa Priscila Santos, 36, está otimista em relação ao concurso unificado. Estudando para o certame, ela enxerga a novidade como uma oportunidade única. A multiplicidade de órgãos em cada bloco aumenta as chances de aprovação, criando uma possibilidade de buscar uma vaga na área de administração, sua principal escolha.
“É a primeira vez que é feito algo assim, então já vi opiniões dizendo que pode ser um pouco
bagunçado. A expectativa é de que, como os blocos têm vários órgãos, aumente as nossas chances de passar no concurso. Já estou há um tempo estudando. Sou formada em comunicação, como a minha área tem poucas vagas em cargos administrativos, comecei a procurar concursos de nível médio e superior que fossem para essa área”, contou.
O professor Eduardo Cambuy aponta que no modelo há pontos positivos e negativos. “No mar de
oportunidades e banquete de vagas oferecidas, é preciso saber escolher qual alimento é próprio para você. Teremos muitas oportunidades, diferentes carreiras, diferentes perfis e diferentes materiais, então, a principal dica é fazer uma boa análise do edital para que, dentro dessa análise, escolha a melhor opção cabível para se ter uma competitividade no prazo que se tem”, ressaltou.
Para o advogado Max Kolbe, especialista em concursos públicos, o exame unificado é uma ideia que, ao menos a princípio, parece ser promissora. “Se o governo federal conseguir organizar o certamente sem que haja preterição, ou seja, desobediência da ordem de classificação no que tange ao preenchimento das vagas, sem sombra de dúvidas novo modelo deve beneficiar os candidatos”, apontou.
“Ainda que, honestamente, tenho para mim que neste primeiro momento haverá uma avalanche de ações judiciais para coibir ilegalidades que possam ocorrer no decorrer do concurso público”, observou.
Kolbe acredita que o edital inédito se trata de uma oportunidade única: “Esse será o concurso dos sonhos de qualquer candidato. A hora é essa. Estude com foco e em blocos. Ou seja, não mude o foco dos seus estudos com matérias que não constam do bloco de conhecimentos escolhidos por você. Não haverá, acredito eu, uma outra oportunidade tão simples como essa para você ser aprovado.”
*Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino
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