O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação do país, subiu 0,56% em dezembro, encerrando o ano de 2023 acumulando alta de 4,62%. Segundo os dados, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta é a primeira vez desde 2020 que o índice fecha dentro do teto da meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 3,25% no ano passado, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, entre 1,75% e 4,75%.
O resultado de dezembro veio acima do esperado e surpreendeu os analistas de mercado. No mês, todos os nove grupos de produtos e serviços investigados pela pesquisa registraram alta. A maior veio de alimentação e bebidas, cujo os preços subiram 1,11%, maior impacto sobre o resultado geral.
Com o aumento nos preços da batata-inglesa, do feijão-carioca, do arroz e das frutas, a alimentação no domicílio subiu 1,34%. Por outro lado, o preço do leite longa vida baixou pelo sétimo mês seguido. No mesmo período, a alimentação fora do domicílio subiu 0,53%, com as altas do lanche e da refeição, itens que aceleraram na comparação com novembro.
O gerente da pesquisa, André Almeida, atribuiu a variação a uma sazonalidade climática. "O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas, que são mais sensíveis a essas variações climáticas", explicou.
Mesmo com a inflação considerada sob controle, por ter fechado o ano dentro do teto da meta, os preços seguem salgados no dia a dia do consumidor. A dona de casa Benedita Ventura Ribeiro, 57 anos, tem o hábito de ir ao mercado semanalmente e tem notado uma grande variação nos alimentos. "Costumo ir uma vez por mês, fazer uma compra mais pesada, mas vou semanalmente para repor algumas coisas. Em relação ao preço, tem aumentado absurdamente principalmente legumes, arroz, feijão, o básico mesmo", contou.
Os preços dos alimentos consumidos em casa devem continuar subindo em 2024 sob impacto do fenômeno climático El Niño, conforme destacou o coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), André Braz. De acordo com ele, pode haver um atraso de algumas safras importantes, como milho e soja, e isso vai fazer com que esses grãos subam de preço. "Esse aumento, claro, vai contaminar toda a família de produtos derivados, inclusive as carnes", afirmou.
O maior impacto negativo do ano ficou por conta do grupo de transportes, quando a gasolina acumulou alta de 12,09%. Com o maior peso entre os subitens do IPCA, o combustível exerceu no ano a maior contribuição individual para o resultado geral. "Vale lembrar que a gasolina teve o impacto da reoneração dos tributos federais e das alterações nas cobranças do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)", destacou o gerente da pesquisa, André Almeida. Outras altas relevantes no grupo foram do emplacamento e licença, que subiram 21,22%, e das passagens aéreas, que acumularam alta de 47,24% em 2023.
Brasília registrou a maior inflação acumulada entre as 16 cidades e regiões metropolitanas avaliadas. Na capital federal, o índice foi de 5,50% no ano passado, puxado pelos preços dos grupos de transporte, educação, saúde e cuidados pessoais. Entre os subitens, se destacaram as altas dos preços das passagens aéreas (93,57%), cenoura (50,08%), azeite de oliva (46,07%), manga (38,74%) e arroz (36,05%), que foram os que chamaram mais atenção.
Embora tenha sido a cidade com maior variação de preços em 2023, o resultado foi menor do que a variação de preços na capital federal em 2022. Naquele ano, o IPCA acumulado foi de 6,6%. Depois de Brasília, as maiores inflações do acumulado do ano de 2023 foram registradas em Grande Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP) e Fortaleza (CE).
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se livrou da obrigação de escrever uma nova carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à ministra do Planejamento, Simone Tebet, depois de a inflação oficial ter ficado abaixo do teto da meta. A legislação determina que, quando o BC não cumpre a meta de inflação (como aconteceu em 2021 e 2022), o presidente da autarquia precisa enviar uma carta aos demais integrantes do CMN explicando por que isso ocorreu.
Tebet celebrou os números divulgados pelo IBGE. "Vilã dos mais pobres, inflação de 2023 fica em 4,62% e volta para dentro do intervalo da meta depois de dois anos. Isso significa comida mais barata e mais poder de compra. Sigamos fazendo nosso dever de casa para repetir em 2024 os bons resultados da economia obtidos no ano passado, com foco no emprego, na renda e na qualidade de vida do povo", escreveu ela no X (antigo Twitter).
O desafio do Banco Central é fazer com que a inflação chegue ao centro da meta. Na última edição do Boletim Focus, relatório semanal que divulga uma média das expectativas econômicas de vários agentes do mercado, a mediana das estimativas dos economistas mostra a inflação fechando 2024 em 3,90%.
Apesar de representar mais uma desaceleração, a meta para inflação neste ano é de 3,00%, o que sugere que o caminho ainda é longo e exige cautela em relação a cortes mais ousados nos juros ao longo deste ano.
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