20 de Setembro de 2024

Israel-Hamas: Guerra se expande da Faixa de Gaza para o Iêmen


O aviso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aos huthis — rebeldes aliados ao Irã que controlam a região ocidental do Iêmen — foi direto: "Nós garantimos que responderemos enquanto prosseguirem com esse comportamento ultrajante". O democrata fazia menção aos mísseis disparados contra embarcações israelenses, ou a caminho dos portos de Israel, no Mar Vermelho. Horas antes, na madrugada desta sexta-feira (12/1), caças dos EUA e do Reino Unido lançaram 150 mísseis contra 30 alvos em Sanaa, capital iemenita, no porto de Hodeidah e em outras áreas.

Yahya Saare'e, porta-voz da Forças Armadas huthis, advertiu que os bombardeios não ficarão sem resposta e nem punição. "Todos os interesses americanos e britânicos tornaram-se alvos legítimos das forças armadas iemenitas após a agressão direta e declarada contra a República do Iêmen", declarou o Conselho Político Supremo dos huthis, por meio de um comunicado.

A retaliação do Iêmen não tardou. Os rebeldes lançaram um míssil balístico antinavio contra o Mar Vermelho, onde circula 12% de todo o comércio mundial. "Sabemos que lançaram pelo menos um míssil em resposta", afirmou o diretor do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, tenente-general Douglas Sims. O disparo, no entanto, não atingiu nenhuma embarcação. "Sua retórica tem sido bastante forte e elevada. Eu esperaria que tentassem algum tipo de represália", acrescentou o militar. Os disparos dos huthis se inserem no que consideram um "ato de solidariedade" com a população palestina na Faixa de Gaza. 

Mapa mostra locais dos bombardeios dos EUA e do Reino Unido ao Iêmen
Mapa mostra locais dos bombardeios dos EUA e do Reino Unido ao Iêmen (foto: AFP)

Os bombardeios anglo-americanos tiveram o respaldo de Austrália, Bahrein, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia e Coreia do Sul. Em comunicado conjunto, também assinado pelos EUA e pelo Reino Unido, sustentaram que as "ações demonstram um compromisso com a liberdade de navegação, o comércio internacional e a defesa da vida dos navegantes contra ataques ilegais e injustificáveis". O próprio Biden classificou os ataques aéreos como uma "ação defensiva" e avisou que não hesitará em "ordenar outras medidas". O chanceler britânico, David Cameron, sublinhou que "a segurança dos navios do Reino Unido e a liberdade de navegação através do Mar Vermelho são fundamentais". "Como o Conselho de Segurança da ONU deixou claro, os huthis devem interromper os ataques no Mar Vermelho", escreveu na rede social X, o antigo Twitter. 

Insatisfação

Em Sanaa, o jornalista Abdulhameed Sharwan, 34 anos, foi surpreendido por quatro explosões a partir das 2h30 desta sexta-feira (20h30 de quinta-feira em Brasília). "Liguei para colegas que estavam próximos do local e eles me contaram que um ataque aéreo tinha atingido o aeroporto internacional. Vivo a uns 2km ou 3km da área alvejada e senti nossa casa tremer", contou o morador da capital iemenita. Ele afirmou que as incursões anglo-americanas agravaram o descontentamento e a raiva entre a população e ampliaram a pressão por uma resposta a essa agressão. Milhares de iemenitas saíram às ruas para protestar.

"Os bombardeios foram o resultado da posição do Iêmen sobre a guerra em Gaza e os crimes cometidos por Israel, contra o povo palestino, com o apoio dos EUA. Hoje, protestos em massa ocorreram em todas as províncias do Iêmen para expressar ira, para reafirmar a solidariedade ao povo palestino e para pedir à liderança em Sanaa para manter as operações militares contra navios israelenses e embarcações se dirigindo a portos em Israel", comentou Sharwan. 

Ele ressaltou que os rebeldes huthis não temem a guerra e creem que confrontar os EUA e Israel é a única maneira de salvar o Oriente Médio. "Se houver uma ampla guerra regional, os huthis nada terão a perder. Há nove anos, eles têm sofrido agressões por parte da coalizão da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos liderada pelos EUA. O Iêmen será um novo Vietnã", advertiu. 

O também jornalista iemenita Ahmed Jahaf, 33, acha que os Estados Unidos caíram em uma "armadilha". "Os norte-americanos imaginavam que ninguém poderia confrontá-los sem medo. Os EUA mobilizaram o Reino Unido para responder porque as operações militares do Iêmen relacionadas à Palestina estavam além de suas expectativas", opinou. Segundo ele, os EUA apostam que os bombardeios assustarão os iemenitas e forçarão os huthis a interromperem suas operações no Mar Vermelho. "Isso não vai acontecer", previu o morador de Sanaa.

Especialista em Iêmen baseado em Chicago, Brian O'Neill disse que está "muito claro" que os huthis atraíram os EUA e o Reino Unido para uma resposta militar. Segundo ele, como os rebeldes impediam a navegação no Mar Vermelho e atacavam embarcações civis, não havia outra opção que não um ataque bélico. "O bombardeio realizado por Washington e Londres tem que ser visto no contexto da tentativa dos huthis de solidificar sua posição na guerra civil em curso e avançar rumo a um cenário mais regional e global", explicou ao Correio. Ele vê "muito pouca preocupação real" com a Palestina nos escalões superiores do governo huthi. "Os EUA e o Reino Unido morderam a isca. Mas, não existe apetite para uma guerra mais ampla no Iêmen."

O'Neill aposta que os huthis manterão ataques limitados no Mar Vemelho e usarão as ações como propaganda. A ideia, de acordo com o estudioso, é que os rebeldes transmitam a imagem de salvadores de Gaza. "A resposta dos huthis será mais na linha da milícia xiita libanesa Hezbollah: mostrar uma postura desafiadora e levantar-se contra a campanha israelense em Gaza, mas não se envolver em uma guerra mais ampla."

Abdulhameed Sharwan, 34 anos, jornalista, morador de Sanaa (Iêmen)
Abdulhameed Sharwan, 34 anos, jornalista, morador de Sanaa (foto: Arquivo pessoal )

"Espero que as Forças Armadas iemenitas intensifiquem suas operações no Mar Vermelho e ataquem embarcações israelenses, britânicas e norte-americanas. Os EUA e o Reino Unido oficialmente se tornaram inimigos depois dos ataques na madrugada desta sexta-feira. A solução, agora, é simplesmente deter a agressão contra Gaza e suspender seu bloqueio. Quanto aos EUA e ao Reino Unido, o problema só terminará após a vingança, a resposta ao ataque contra meu país."

Abdulhameed Sharwan, 34 anos, jornalista, morador de Sanaa

 

Ahmed Jahaf, 33 anos, jornalista, morador de Sanaa
Ahmed Jahaf, 33 anos, jornalista, morador de Sanaa (foto: Arquivo pessoal )
 

"Haverá uma resposta de Sanaa para o ataque, especialmente porque houve mártires que caíram nos bombardeios anglo-americanos. Os iemenitas estão definitivamente zangados com essa agressão contra o Iêmen e querem vingar-se de qualquer forma. Eles continuarão a apoiar a Palestina, mesmo que isso signifique a morte."

Ahmed Jahaf, 33 anos, jornalista, morador de Sanaa

Fonte: correiobraziliense

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