22 de Novembro de 2024

A 'porta das lágrimas' onde rebeldes xiitas atacam e sequestram navios comerciais na costa do Iêmen


Não é por acaso que seu nome, Bab el-Mandeb, significa "a porta das lágrimas" ou "a porta da dor" em árabe.

É uma referência aos perigos - desde correntes e ventos à pirataria e conflitos - que durante milênios perturbaram os marinheiros que transitavam pela entrada do Mar Vermelho vindos do Oceano Índico entre o Iêmen, o Djibuti e a Eritreia.

Alguns desses perigos são hoje mais reais do que nunca.

O Estreito de Mandeb é um foco atual de conflito devido aos ataques armados de milicianos houthis do Iêmen contra navios de vários países em uma das rotas comerciais internacionais mais movimentadas.

Em resposta, os EUA e o Reino Unido bombardearam várias áreas controladas pelos houthis — insurgentes islâmicos radicais de maioria xiita que lutam para vencer a guerra civil em curso no Iêmen.

Por isso, o Estreito de Mandeb virou palco de um conflito internacional.

Mas como é este local e qual a sua importância comercial e geopolítica?

Primeiro, é importante rever a história deste importante corredor marítimo.

Com 115 km de extensão, o Estreito de Bab el-Mandeb liga o Mar Vermelho ao Golfo de Aden.

Possui 36 km de largura em sua parte mais estreita, onde fica a ilha de Perim, que divide o estreito em dois canais com correntes opostas.

Esta extensão de água ocupa um espaço fundamental no comércio, na cultura e também nos conflitos durante grande parte da história da civilização humana.

Seu valor comercial foi reconhecido desde o antigo Egito com expedições em busca de bens preciosos como incenso, ouro e animais exóticos, enquanto os romanos dependiam desta passagem para o comércio com a Índia e o Oriente.

E a partir da Idade Média, o Estreito de Mandeb consolidou-se como uma importante rota comercial de especiarias, têxteis e outros produtos, enriquecendo os impérios da época e posteriormente potências europeias como Portugal, Espanha e mais tarde o Império Britânico.

No entanto, foi a abertura do Canal de Suez em 1869 que fez de Bab el-Mandeb um local essencial para completar a rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia.

A importância geopolítica do Estreito de Mandeb tem sido ressaltada devido à sua proximidade com zonas de conflito como o Iêmen, um país imerso numa guerra civil.

Estes conflitos, juntamente com as atividades dos piratas na região, explicam a presença militar das potências mundiais, especialmente os Estados Unidos, e as suas respostas enérgicas às ações que põem em perigo o tráfego marítimo na área.

O corredor do Mar Vermelho é um dos mais movimentados do mundo, transportando aproximadamente um quarto de todo o comércio marítimo do planeta.

Entre os bilhões de toneladas de carga que atravessam esta rota, passam diariamente cerca de 4,5 milhões de barris de petróleo com origem em países do Médio Oriente e da Ásia e com destino ao Ocidente, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos Estados Unidos.

Além disso, 8% das remessas globais de gás natural liquefeito (GNL) transitaram por este estreito no ano passado, tornando-o uma artéria vital para o fornecimento global de energia.

Os incidentes em Bab el-Mandeb têm efeitos imediatos nos preços mundiais destes recursos vitais.

Na semana passada, o barril de petróleo Brent subiu 5% e ultrapassou os US$ 80, o que os especialistas atribuíram às tensões no Mar Vermelho que obrigaram muitos petroleiros a desviar a rota, com atraso nas entregas e aumento de custos.

Além do petróleo bruto e do gás, o Estreito de Mandeb faz parte da principal rota entre o Oriente e o Ocidente, com várias dezenas de navios de carga passando pelas suas águas todos os dias.

Muitos deles também decidiram desviar as suas viagens entre o Oceano Índico e o Ocidente através da rota muito mais longa em torno do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul de África.

Isto acrescenta milhares de quilômetros às viagens, aumentando os custos e atrasando as entregas de componentes vitais para a cadeia de produção de produtos e bens de consumo.

Nas últimas semanas, o preço de transporte de um contêiner do Leste Asiático para o Norte da Europa praticamente triplicou.

Não é a primeira vez que um incidente nesta área afeta o tráfego marítimo e gera implicações importantes para o comércio mundial.

Por exemplo, em 2021, o navio cargueiro Ever Given, com bandeira do Panamá, encalhou no Canal de Suez, causando um bloqueio no corredor e criando estrangulamentos nas cadeias de abastecimento globais, com aumento de custos e atrasos na entrega de petróleo e produtos de todos os tipos.

Anteriormente, especialmente entre 2008 e 2012, o Estreito de Mandeb e seus arredores foram palco de numerosos ataques de piratas, principalmente da Somália, que sequestraram a tripulação dos navios para exigir dinheiro em troca da sua libertação, o que já levou a comunidade internacional, bem como as companhias marítimas, a reforçar a segurança.

Mais de uma década depois, a principal ameaça no estreito vem do extremo oposto, com ataques dos rebeldes houthis.

Eles dizem que seus ataques no Estreito de Mandeb e no Mar Vermelho são uma resposta à guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.

Os houthis afirmam que as suas ofensivas com drones e mísseis têm como alvo embarcações provenientes de Israel ou com destino a este país.

No entanto, na prática, os ataques afetam todos os tipos de navios que, na maioria dos casos, não têm ligação com Israel e se dirigem para outros países.

Fonte: correiobraziliense

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