Quase metade da população do planeta — ou cerca de 4 bilhões de pessoas — escolherá seus principais líderes em mais de 40 países neste ano. Em 30 deles, incluindo México, Rússia, Venezuela e Estados Unidos, os cidadãos elegerão um presidente. Os taiwaneses foram os primeiros a irem às urnas, em 15 de janeiro, em uma eleição presidencial vencida por Lai Ching-te, do Partido Progressista Democrático. Em algumas nações, o processo eleitoral estará exposto à desinformação e às manipulações relacionadas à inteligência artificial. Mas, também, ao risco representado pela perseguição aos opositores e pela falta de transparência na apuração. Estudiosos consultados pelo Correio analisam as principais votações de 2024.
Data das eleições: entre outubro e dezembro
A principal candidata da oposição da Venezuela, a ex-deputada María Corina Machado (foto), foi inabilitada para exercer cargos públicos durante 15 anos. Mesmo assim, ganhou as primárias e apresentou uma contestação no Supremo Tribunal. O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, garantiu que o presidente Nicolás Maduro será o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nas eleições marcadas para o último trimestre do ano. No poder desde 2012, Maduro tem intensificado a perseguição aos opositores políticos. Se as eleições realmente ocorrerem, como prevê a constituição venezuelana, provavelmente ficarão marcadas pelo ceticismo da comunidade internacional em relação à transparência e à lisura do processo.
José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV), disse ao Correio estar convencido de que o acordo firmado em 17 de outubro entre governo e oposição contemplava extremos, como a libertação de presos políticos e a habilitação de María Corina. "Se a ex-deputada terminar sendo candidata, não há muito que o chavismo possa fazer para evitar que ela ganhe as eleições", comentou. O especialista avalia a transparência das eleições como um assunto "multidimensional". "Em primeiro lugar, a oposição deve formar um grupo de defesa do voto que garanta testemunhas em todas as seções eleitorais. Depois, deve haver uma observação internacional que assegure um comportamento do regime ajustado ao direito. Por fim, uma pressão internacional, na qual Brasil e Colômbia exerceriam papel fundamental para que Maduro não entorpeça o processo eleitoral."
Para Aumaitre, Maduro é o pior representante do oficialismo para as eleições deste ano. Ele acredita ser possível que nenhum aliado do Palácio de Miraflores queira se apresentar como candidato. No entanto, aponta os prováveis nomes para a sucessão de Maduro: a vice-presidente Delcy Rodríguez; e os governadores, respectivamente, dos departamentos (estados) de Miranda, Táchira e Carabobo: Héctor Rodríguez, Freddy Bernal e Rafael Lacava.
Data das eleições: 2 de junho
Pela primeira vez na história, uma mulher deverá chegar ao principal cargo do poder no México, ocupando a cadeira no Palácio Nacional, no Zócalo. Vicente Sánchez Munguía, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana), afirmou ao Correio que Claudia Sheinbaum (foto), candidata governista, é a favorita para suceder o presidente Andrés Manuel López Obrador. No México, não existe a figura da reeleição, e o mandato dura seis anos. "Claudia tem o apoio de todos os aparatos do Estado. Seu partido, o Movimento Regeneração Nacional, governa mais de 20 estados. Além disso, Obrador está em permanente campanha em favor dela", ressaltou. Além do presidente, mais de 48 milhões de mexicanos também elegerão a Câmara dos Deputados, a Câmara dos Senadores, nove governos estaduais e 19 mil cargos locais.
Em um dos países com maior número de mortes causadas pelo narcotráfico no mundo, o tema da segurança deverá dominar a campanha. "O presidente tem negado as estatísticas produzidas pelos próprios órgãos do Estado nas áreas da segurança e da Justiça, como pessoas desaparecidas, feminicídios e extorsão. Outros assuntos da agenda são a imigração internacional, a corrupção e o respeito à democracia e às instituições eleitorais", disse Munguía.
Por sua vez, Javier Posada — coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam) — vê um crescimento de Xochitl Gálvez, 60, candidata do Partido de Ação Nacional, nas pesquisas de opinião pública. "É muito provável que, até o fechamento das campanhas, a diferença entre 10 e 15 pontos percentuais caia. Há possibilidade de ela surpreender e ganhar a eleição", admitiu à reportagem. De acordo com Posada, o próximo chefe de Estado herdará uma nação com o maior número de homicídios dolosos em seis anos de mandato desde 2000. "As campanhas a níveis local, estadual ou federal serão focadas em medidas para recuperar a segurança pública."
Data das eleições: 5 de novembro
A corrida eleitoral nos Estados Unidos começou em 14 de janeiro passado com uma vitória avassaladora de Donald Trump (foto) no caucus republicano de Iowa. O ex-presidente e magnata de 77 anos é considerado o grande favorito para obter a nomeação, derrotar o democrata Joe Biden, 81, e consolidar seu retorno à Casa Branca. Nas eleições de 5 de novembro, Biden estará prestes a completar 82 e, caso vença, se tornará o presidente mais velho da história dos EUA. "Muitas pessoas confundem os resquícios de gagueira de Biden com um suposto problema mental, que ele não tem. Ainda hoje, Biden precisa falar lentamente para não guaguejar", afirmou ao Correio o historiador político James Naylor Green, professor da Universidade Brown (em Rhode Island).
O estudioso admite que a inflação será um fator a ser avaliado pelo eleitor. O aumento dos preços tem sido sentido, principalmente, pela classe média baixa, pelos trabalhadores e pelos pobres. "A alimentação e a moradia estão caras. Ainda assim, as condições econômicas são muito melhores. O desemprego está em 3,4% e as perspectivas se mostram positivas", relatou Green. Ele considera prematuro avaliar as possibilidades reais de vitória de Trump. "Muita coisa pode acontecer. O conflito no Oriente Médio pode começar a ser solucionado durante o governo Biden. Pode ser que a questão da imigração não seja um tema em destaque na campanha por parte dos republicanos. Se Trump for eleito, será um desastre. Ele declarou que pretende ser um líder autoritário", acrescentou Green.
Data das eleições: 15 a 17 de março
Alexei Navalny, o principal nome da oposição russa, está detido em uma penitenciária do Ártico, onde cumpre pena de 19 anos de cadeia. Com o inimigo número um do Kremlin fora do páreo, o presidente Vladimir Putin (foto) anunciou que será candidato à reeleição em março. O ex-espião da KGB comanda a Rússia desde 2001, depois de modificar a Constituição — uma alteração para que pudesse permanecer no poder até 2036.
Nos últimos anos, Putin invadiu a Ucrânia, perseguiu opositores e declarou guerra à comunidade LGBTQIAP+. O escritor exilado Boris Akunin advertiu que a Rússia está se tornando, a passos largos, um "Estado totalitário". "O regime de Putin claramente decidiu dar um novo passo em sua conversão de um Estado policial e autocrático para um Estado totalitário", afirmou Akunin, que atualmente mora na Espanha, em entrevista à AFP.
Data das eleições: 10 de março
Com a renúncia do primeiro-ministro socialista António Costa (foto), em meio a um escândalo de corrupção, os portugueses terão eleições antecipadas em 10 de março. O ex-ministro de Infraestruturas Pedro Nuno Santos foi eleito novo líder do Partido Socialista (PS). Recentes pesquisas mostram que as eleições serão disputadas entre o PS, governista, e o principal partido da oposição, o Social-Democrata (PSD, de centro-direita). Analistas apostam que a direita ganhará mais deputados do que a esquerda. Além disso, o partido de extrema-direita Chega! poderá fazer mais um avanço eleitoral, conforme as sondagens.
Fonte: correiobraziliense
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