24 de Fevereiro de 2025

Avanço de vírus representa ameaça global à biodiversidade; entenda


A cena é descrita como apocalíptica por Chris Walzer, diretor executivo de Saúde da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem. Ao longo de 300 km da costa da Patagônia, 95% dos filhotes de elefantes-marinhos do sul (Mirounga leonina) estão mortos. Pelo menos 17 mil espécimes foram exterminadas, no ano passado, pela versão altamente patogênica (IAAP) do H5N1, o vírus da gripe aviária. O micro-organismo avança sobre mamíferos e preocupa especialistas. O temor é de um massacre na vida selvagem, além do risco existente para humanos.

Há poucos dias, a doença foi detectada, pela primeira vez, em elefantes-marinhos e focas na Ilha da Geórgia do Sul, região subantártida. Nenhum outro mamífero desse território britânico ao sul do Oceano Atlântico, a 1 mil quilômetros das Ilhas Malvinas, havia sido infectado. No ano passado, houve um surto entre skuas marrons (Stercorarius antarcticus), aves marinhas endêmicas.

No extremo oposto do globo, mais uma notificação inédita, nos últimos dias do ano passado. Um urso polar, mamífero considerado vulnerável pela lista de espécies ameaçadas da União Internacional de Conservação da Natureza, foi encontrado morto, vítima de gripe aviária, no Alasca.

Em entrevista ao jornal Alaska Beacon, Bob Gerlach, veterinário do estado norte-americano, afirmou que nenhum outro caso do tipo havia sido registrado em qualquer lugar do mundo. Também disse que não será surpresa se novas espécies forem vitimadas pelo micro-organismo altamente patogênico: há dois anos, detectaram-se os primeiros casos de H5N1 na América do Norte, em aves. Provavelmente, o urso se alimentou de algum pássaro infectado.

Rowland Kao, professor de Epidemiologia Veterinária na Universidade de Edimburgo, na Escócia, explica que, no caso dos elefantes-marinhos subantárticos, é provável ter ocorrido o mesmo. "A transmissão para mamíferos é provavelmente o resultado do consumo de aves mortas infectadas e representa um risco mínimo de propagação adicional — por exemplo, para humanos, diz. "Apesar disso, onde existem aves e mamíferos infectados existe um risco, embora baixo, para os seres humanos", admite.

O microbiólogo Jansen de Araújo, coordenador de pesquisas do Laboratório de Vírus Emergentes da Universidade de São Paulo (USP), explica que já houve casos de infecção em humanos. "Mas, felizmente, não foi observada uma adaptação eficiente da transmissão humano-humano até o momento deste H5N1."

Segundo o cientista, que atualmente rastreia o vírus e avalia o potencial de dispersão no Brasil, é preciso observar que os micro-organismos da influenza A são altamente adaptáveis. "Seu código genético relativamente simples não apenas muda aleatoriamente por meio de mutação da mesma forma que organismos vivos, mas por meio de rearranjo", esclarece Araújo.

Há uma explicação técnica para que o processo se desenvolva, de acordo com o microbiólogo. "Isso ocorre quando vírus intimamente relacionados que infectam a mesma célula hospedeira trocam material genético para produzir genomas." Esses novos vírus, ressalta Araújo, podem levar a uma maior adaptação para invasão, sobrevivência e replicação dentro daquela espécie hospedeira (leia entrevista nesta página).

Mesmo que o risco seja mínimo para as pessoas, o avanço do H5N1 altamente patogênico aponta para uma importante crise na biodiversidade, e exige medidas urgentes, defende Diana Bell, professora de Biologia Conservacionista da Universidade de East England, na Inglaterra. "As descobertas da propagação da do H5N1 IAAP para locais subantárticos e o recente relato do vírus num urso polar morto no Ártico destacam a distribuição generalizada entre espécies de mamíferos em ecossistemas frágeis e já ameaçados pela crise do aquecimento global", diz.

Chris Walzer, diretor executivo de Saúde da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem, não duvida que uma nova pandemia, como a de covid, se torne realidade. "É imperativo que adotemos uma abordagem colaborativa de Saúde Única para identificar estirpes emergentes de gripe aviária em todo o mundo para apoiar o desenvolvimento de vacinas que possam tratar rapidamente a infecção em pessoas para prevenir outra pandemia", destaca.

No Brasil, os primeiros casos de gripe aviária em mamíferos foram registrados no litoral sul, em outubro. Mais de 500 mil focas e leões marinhos morreram, até então, vítimas do vírus. Embora o micro-organismo circulante hoje não esteja adaptado à infecção em humanos, pois os receptores do trato respiratório são impróprios para a ligação do H5N1, o Instituto Butantan, em São Paulo, desenvolve uma possível vacina contra a doença.

Fonte: correiobraziliense

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