23 de Novembro de 2024

Pesquisadores indicam troca do sal comum pelo enriquecido com potássio; entenda


Mais de 10 milhões de pessoas morrem, todos os anos, vítimas de hipertensão arterial. Vinte por cento desses óbitos poderiam ser evitados se fosse reduzida a ingestão de cloreto de sódio, segundo a organização não governamental de saúde pública Resolve to Save Lives. Em um artigo que será publicado na revista Hypertension, da Associação Norte-Americana de Cardiologia (AHA), um grupo internacional de pesquisadores pede que sociedades médicas e governos adotem como diretriz a sugestão para que se troque o sal de cozinha normal pelo enriquecido com potássio, elemento químico que ajuda a baixar a pressão.

O sal refinado usado comumente na cozinha e no preparo de alimentos ultraprocessados é a combinação principalmente de cloro e sódio, sendo que o último, em excesso, retém líquidos no organismo. Isso sobrecarrega o sistema circulatório, prejudica os rins e contribui para o aumento da pressão sanguínea. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão máxima de 5 gramas do tempero por dia — no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o consumo é quase o dobro: 9,3 gramas.

Coordenado pelo Instituto George para Saúde Global, uma organização não governamental com foco em saúde pública, o estudo que sairá na Hypertension fez uma revisão de 32 diretrizes para o tratamento da hipertensão. Os autores — médicos e pesquisadores de Estados Unidos, Austrália, Japão, África do Sul e Índia — avaliaram documentos de organizações globais, regionais e nacionais publicados entre 1º de janeiro de 2013 e 21 de julho de 2023.

O grupo sentiu falta, na maioria dos textos, de recomendações sobre a troca do sal comum pelo enriquecido com potássio. "Com base nas evidências, há poucas dúvidas de que a maioria dos pacientes com hipertensão e suas famílias deveriam reduzir a ingestão geral de sal e, ao optarem por consumi-lo, mudar para o enriquecido com potássio", defende Tom Frieden, presidente da Resolve to Save Lives e um dos autores do artigo.

Frieden diz que o número de pessoas que vivem com hipertensão duplicou nos últimos 30 anos. "A troca do tipo de sal ajudará a reduzir a pressão arterial e a proteger contra complicações graves, como acidente vascular cerebral e morte prematura", ressalta.

No artigo, os autores sugerem duas diretrizes: uma para os pacientes com hipertensão, outra para a população em geral. No primeiro caso, a recomendação é a troca do sal comum pelo enriquecido com potássio, a menos que a pessoa tenha doença renal, use suplemento à base do elemento químico ou diurético poupador de potássio.

Como um elevado número de hipertensos não sabe que tem a doença (veja quadro), os pesquisadores só recomendam a troca "em locais onde há uma baixa probabilidade de pessoas com doença renal avançada não serem diagnosticadas pelo sistema de saúde". Pedem ainda que as contraindicações de uso sejam impressas nas embalagens.

Em nota, Alta Schutte, professora do Instituto George para Saúde Global e da Universidade Nova Gales do Sul, na Austrália, destaca que, embora ensaios clínicos tenham demonstrado o benefício dos substitutos de sal comum, raramente esses produtos são usados. "Descobrimos que as diretrizes clínicas atuais oferecem recomendações incompletas e inconsistentes sobre o uso desses substitutos do sal", diz.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia, em suas diretrizes mais recentes, afirma que "os substitutos do sal contendo cloreto de potássio e menos cloreto de sódio (30% a 50%) são úteis para reduzir a ingestão de sódio e aumentar a de potássio, apesar de limitações em seu uso".

O diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular — Regional São Paulo (SBACV-SP), Ivan Benaduce Casella, afirma que diversos estudos demonstram que o sal rico em potássio é um excelente substituto do tempero comum. "Como nós sabemos que o controle da hipertensão arterial é importante para a redução das doenças vasculares arteriais, essa é uma ferramenta útil", diz.

O angiologista e cirurgião vascular insiste, porém, que nem todos podem usar a substância, especialmente pacientes com doença renal crônica. "A troca não deve ser feita de maneira genérica; é preciso orientação médica", ressalta.

Alta Schutte esclarece que o sal enriquecido com potássio pode ser usado como substituto direto do cloreto de sódio para temperar, conservar ou fabricar alimentos. Ela destaca que a mudança não afeta o paladar e é indetectável pela maioria das pessoas. "Encorajamos fortemente os órgãos de orientação clínica a reverem as suas recomendações sobre o uso de substitutos do sal enriquecidos com potássio na primeira oportunidade", diz.

"Se o mundo mudasse do uso do sal normal para o sal enriquecido com potássio, isso evitaria milhões de acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos todos os anos, a um custo muito baixo."

 

Fonte: correiobraziliense

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