10 de Novembro de 2024

Entenda como as formigas modificaram a dieta dos leões do Quênia


Um inseto minúsculo e, aparentemente, inócuo, foi responsável por modificar a dieta de leões no Quênia, na África Oriental. Em estudo publicado na revista Science, uma equipe internacional de cientistas relata que a chamada formiga cabeça-grande (Pheidole megacephala), espécie invasora, alterou a cobertura arbórea na área de conservação natural OI Pejeta, dificultando a caça, pelos felinos, de sua presa preferida, as zebras.

"Esses minúsculos invasores estão mexendo nos laços que unem um ecossistema africano, determinando quem é comido e onde", disse Todd Palmer, ecologista e professor do Departamento de Biologia da Universidade da Florida.

No início dos anos 2000, o pesquisador começou a estudar a relação entre espécies vegetais e animais nessa parte da África com combinação de rastreamento dos animais e armadilhas fotográficas escondidas.

Palmer explica que as acácias que crescem na região são historicamente protegidas de animais herbívoros por uma espécie de formiga que nidifica nos espinhos bulbosos das árvores. Em troca do abrigo, elas defendem ferozmente a vegetação de elefantes, girafas e zebras, entre outros, um arranjo que os ecologistas chamam de mutualismo.

No entanto, a chegada da formiga cabeça-grande, que não é endêmica, está desencadeando uma cadeia de eventos que resultou em uma mudança no comportamento predador-presa. Isso pode comprometer ainda mais a sobrevivência das populações de leões — animais já à beira da extinção.

As formigas de cabeça-grande são predadoras das colônias que protegem as acácias. Tendo perdido os seus guarda-costas, as árvores estão sendo destruídas pelos elefantes. Os leões dependem da cobertura vegetal para perseguir e se esconder antes de atacar as zebras. Com os clarões na paisagem, eles têm menos sucesso para emboscar suas presas.

"Essas minúsculas formigas invasoras apareceram talvez há 15 anos, e nenhum de nós percebeu porque elas não são agressivas com criaturas grandes", relata Palmer. "Agora, vemos que elas estão transformando paisagens de maneiras muito sutis, mas com efeitos devastadores."

O pesquisador lembra que os leões tendem a encontrar soluções para problemas como esse e que, atualmente, estão se voltando para os búfalos. "Ainda não sabemos o que poderá resultar dessa profunda mudança na estratégia de caça. Estamos muito interessados em acompanhar essa história." (PO)

 

Fonte: correiobraziliense

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