22 de Novembro de 2024

Funcionária de hospital relata morte de palestinos por soldados


As imagens captadas pelas câmeras de segurança remontam às cenas de Fauda, a série israelense que fez sucesso na Netfllix. Um comando do Exército israelense invadiu o Hospital Especializado Ibn Sina, em Jenin, na Cisjordânia ocupada, por volta das 5h30 desta terça-feira, 30 (0h30 em Brasília). Disfarçados de médicos e de civis, os militares sacaram fuzis e percorreram os corredores com armas em punho até executarem três militantes de grupos extremistas palestinos.

Abeer Kilani, relações-públicas do hospital, contou ao Correio que recebeu um telefonema do supervisor e se dirigiu ao Ibn Sina às 6h30. "As forças especiais israelenses agrediram dois enfermeiros e funcionários da segurança, dentro do hospital. No terceiro andar, os soldados invadiram o quarto de um paciente que tinha sido atingido por estilhaços em um ataque israelense. Ele estava paralisado da cintura para baixo e precisava de acompanhante."

A relações-públicas disse que o paciente ferido estava acompanhado do irmão e de outra pessoa. "Os três dormiam. As forças especiais dispararam à queima-roupa contra a cabeça de cada um deles, com uso de um silenciador", relou Kilani. "Quando cheguei, vi sangue por todo o quarto. Um dos soldados estava vestido como mulher e carregava um porta-bebês. Outro fingia se locomover com a ajuda de uma cadeira de rodas."

Em comunicado conjunto, as Forças de Defesa de Israel (IDF) e o serviço de segurança Shin Bet anunciaram que um dos mortos era Muhammad Jalamneh, 27 anos, líder de uma "célula terrorista" que mantinha contatos integrantes do grupo extremista palestino Hamas e que teria ficado ferido ao preparar um carro-bomba. Segundo a nota, Jalamneh armou militantes e planejava um ataque nos moldes do massacre de 7 de outubro, quando o Hamas matou 1,2 mil pessoas no sul de Israel. O jornal The Times of Israel divulgou que Jalamneh é porta-voz do Hamas no campo de refufiados de Jenin. Os outros alvos da operação foram os irmãos Muhammad e Basel Ghazawi. Basel seria membro do grupo fundamentalista Jihad Isâmica. 

Professor de direito internacional público da Universidade de Exeter, no Reino Unido, Aurel Sari afirmou ao Correio que, pelo fato de a operação militar ter sido realizada na Cisjordânia, em não em Gaza, a lei da ocupação beligerante se aplicaria. "Em tese, medidas tomadas pelo poder ocupante estão sujeitas aos princípios da aplicação da lei. O ataque letal não é compatível com esses princípios. No entanto, os mortos seriam militantes envolvidos em atrocidades cometidas pelo Hamas, em 7 de outubro, o que enquadraria a operação no contexto das hostilidades em curso entre o grupo extremista e Israel", explicou. "Os assassinatos não estariam sujeitos aos princípios de aplicação da lei, mas às regras que regem a condução das hostilidades, embora a operação tenha ocorrido na Cisjordânia."

De acordo com Sari, as regras aplicáveis à lei dos conflitos armados proíbem matar ou ferir um adversário recorrendo à "perfídia". "O assassinato pérfido envolve, por exemplo, fingir status de proteção vestindo-se como médico ou como paciente. A morte dos três palestinos por soldados disfarçados de médicos parecem violar a proibição de recorrer à perfídia."

Gaza

Israel acusou a UNRWA (Agência da ONU para os Refugiados Palestinos) de permitir que o Hamas use suas instalações na Faixa de Gaza para realizar "atividades militares". "A UNRWA é uma fachada para o Hamas. Foi comprometida de três maneiras: contratando terroristas em massa, deixando suas instalações serem usadas para atividades militares do Hamas e se apoiando no Hamas para a distribuição da ajuda", afirmou o porta-voz do governo, Eylon Levy.

Rafael Rozenszajn, major e porta-voz das IDF, disse à reportagem que a notícia "não é novidade". "Foi comprovado que a UNRWA não apenas facilita a ação de grupos terroristas na Faixa de Gaza, mas também funcionários da organização participaram, de forma ativa, do massacre de 7 de outubro. Pelo menos 12 deles invadiram Israel, sequestraram e assassinaram pessoas em território israelense. Por isso, vários países suspenderam a ajuda financeira à UNRWA. Também encontramos armamentos dentro de sacos com a logomarca da UNRWA."

Autoridades do Egito, do Catar e de Israel se reuniram com o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), William Burns, para debater um novo projeto de cessar-fogo. O Hamas informou que analisa a proposta. O grupo insiste em uma trégua completa. No entanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou concessões aos extremistas. "Não vamos retirar o Exército da Faixa de Gaza, nem vamos libertar milhares de terroristas. Nada disso acontecerá." 

Túnel aberto pelo Hamas sob a cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Túnel aberto pelo Hamas sob a cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza (foto: IDF/AFP)

As Forças de Defesa de Israel (IDF) começaram a inundar túneis construídos pelo Hamas sob a Faixa de Gaza — parte da estratégia para neutralizar a infraestrutura do movimento extremista palestino. "Tudo está sendo feito de forma bem delicada e cuidadosa, com base em informações de inteligência. Procuramos fazer isso com muita cautela, para não causarmos danos a quem não se deve causar", afirmou ao Correio Rafael Rozenszajn, major e porta-voz das IDF. As unidades de engenharia do Exército israelense bombeiam água do Mar Mediterrâneo. Rozenszajn admitiu que líderes do Hamas se escondem nos túneis, enquanto civis palestinos imploram por ajuda. "Há centenas de quilômetros de túneis sob Gaza. Encontramos 800 entradas de túneis. Isso mostra o que o Hamas fazia com o dinheiro que entrava no território. Em vez de investir em escolas e mesquitas, construía um sistema subterrâneo que buscava garantir a segurança dos terroristas e o armazenamento de armas", acrescentou o militar. Ele explicou que há três tipos de túneis: feitos para atacar Israel, abertos como trincheiras para se locomover entre diferentes locais de Gaza e aqueles para estocar armas e esconder líderes. O maior deles tem 40m de profundidade e 4km de comprimento.

Fonte: correiobraziliense

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