23 de Novembro de 2024

Como será o 'Swiftposium', o 1º simpósio internacional sobre Taylor Swift


Desde que colocou o CD do álbum Fearless para tocar pela primeira vez, aos 14 anos, Georgia Carroll ficou fascinada por Taylor Swift.

Uma década e meia depois, ela é considerada a única pessoa no mundo com um doutorado sobre a estrela pop americana.

A avaliação dela? “No momento, não seria exagero dizer que [Swift] é uma das pessoas mais poderosas do mundo.”

Carroll está entre dezenas de especialistas que participaram nesta semana de um simpósio acadêmico internacional, em Melbourne, na Austrália, para tentar explicar como a artista se tornou tão influente.

O evento, organizado pelo Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT, na sigla em inglês), é o primeiro do gênero. Ele aconteceu às vésperas do início da turnê The Eras Tour, na Austrália, e recebeu mais de 400 trabalhos acadêmicos de dezenas de áreas de estudo e instituições de todo o mundo.

A ideia do ‘Swiftposium’, realizado de 11 a 13 de fevereiro, nasceu em julho passado com um tuíte meio de brincadeira, que recebeu apenas poucas curtidas. Mas quando os organizadores anunciaram discretamente o evento, meses depois, ele viralizou internacionalmente da noite para o dia.

E os organizadores se depararam com destaques na BBC, na revista Rolling Stone e na rede CNN.

“Eu pensava: 'preciso enviar um e-mail para o meu chefe'”, conta a acadêmica Eloise Faichney com um sorriso.

"Nossa pequena conferência de repente se tornou colossal."

Os fãs também estavam desesperados para participar e, no domingo (11/02), centenas de pessoas — repletas de brilho, botas de cowboy e batom vermelho, inspiradas nos looks de Swift — se reuniram no icônico teatro The Capitol, em Melbourne, apenas para ouvir palestras sobre a artista.

Antes do evento, foi realizada uma oficina de confecção de pulseiras da amizade que teve os ingressos esgotados. Os fãs da cantora criaram uma tradição de trocar estas pulseiras durante os shows.

Soumil, de 19 anos, participou da oficina e disse que o evento está ajudando a curar as feridas de quem não conseguiu comprar ingresso para a turnê.

“É divertido ainda conseguir fazer parte de tudo isso”, disse ele à BBC.

Mas os organizadores esclarecem que a conferência — realizada com o apoio de sete universidades da Austrália e da Nova Zelândia — não é uma convenção de fãs.

“Embora alguns de nós sejamos fãs, sem dúvida – para nós – trata-se de tentar levar alguém como ela a sério na Academia”, explica a pesquisadora Emma Whatman.

"Esta não é uma celebração acrítica."

Não há como negar que a 'Taylor Mania' arrebatou o mundo no ano passado — a cantora ganhou, inclusive, o prêmio de "personalidade do ano" da revista americana Time —, e não está claro quando esse furor vai arrefecer.

Na segunda-feira (12/02), a artista de 34 anos voltou a dominar o noticiário com fotos dela e do namorado, o jogador de futebol americano Travis Kelce, comemorando a vitória no Super Bowl. Na semana anterior, ela roubou a cena no Grammy ao ganhar o seu quarto prêmio na categoria “Álbum do Ano” na premiação.

Até mesmo seus gatos, sua agente e seus amigos de infância têm seu nome reconhecido e seguidores leais.

“[Taylor Swift] de alguma forma se tornou a superestrela mais divina do planeta, maior do que eu pensava ser possível”, disse na conferência a palestrante Brittany Spanos, uma repórter da Rolling Stone que em 2020 ministrou o primeiro curso universitário sobre a artista.

Mas Swift se encontra há muito tempo no centro de grandes momentos e debates culturais, desde que alcançou o estrelato quando era adolescente.

Ela se tornou uma das artistas mais bem pagas e celebradas de todos os tempos — ao mesmo tempo em que desperta conversas sobre tudo, desde royalties de streaming e direitos autorais até misoginia e cultura do cancelamento.

A conferência tem obviamente um painel inteiro dedicado à "Swiftonomics" — termo criado para explicar seu efeito colossal na economia, e que deixou líderes mundiais implorando para que ela visitasse seus países.

Mas também há especialistas detalhando como sua música está sendo usada para ensinar reanimação cardíaca a jovens, e há discussões acaloradas sobre como seu romance com Kelce está ajudando as meninas a se sentirem mais à vontade em meio à torcida de um esporte tradicionalmente dominado por homens.

Tem até uma análise do comportamento da cantora em relação ao transporte público com base nas letras de suas músicas. Ironicamente, à medida que o uso de jatinhos particulares aumentou na vida da artista, também aumentaram as músicas que fazem referência a trens e ônibus, diz Harrison Croft.

E quando o público se cansou de ouvir palestras, foi brindado com um dueto entre um músico que virou acadêmico e um clone de Inteligência Artificial (IA) da voz de Taylor Swift quando jovem — para comparar como seu som mudou nos últimos 17 anos.

Para os fãs de literatura, a conferência contou com a leitura de poesia falada por uma dupla de mãe e filha sobre o desprezo que a sociedade demonstra pelos interesses das mulheres jovens — um ato que gerou uma reação adorável do público.

E para os interessados em política, uma apresentação acadêmica abordou como os parlamentares australianos usam Taylor Swift para gerar identificação com a população.

A historiadora Madeline Pentland, de 27 anos, encontrou mais de 30 discursos citando as letras mais icônicas da artista – incluindo uma performance descarada do representante do Tesouro de Nova Gales do Sul, que inseriu 20 referências em um único discurso.

Ela descobriu que os homens eram mais propensos a citar a cantora, mas tendiam a usar as letras em ataques políticos ou gozações, enquanto as mulheres eram muito mais propensas a usá-las para respaldar tópicos de debate.

Pentland acredita, no entanto, que houve algumas oportunidades perdidas:

“Eu achei que haveria um pouco de Bad Blood (umas das músicas da cantora) aqui e ali, mas não encontrei nenhuma referência!”

Outra dupla explorou como a cantora se tornou um ímã para a conspiração — desde fãs “delulu” (termo que vem de delusional / “delirante” e remete a uma mentalidade baseda na “lei da atração”) que interpretam suas dicas estratégicas, até personagens de direita que encontram um significado para quase tudo.

Apenas nos últimos dias, o presidente dos EUA, Joe Biden, ironizou as conjecturas de que a vida amorosa da artista era parte de um complô para manipular o Super Bowl e ajudá-lo a ser reeleito, enquanto seus fãs tentavam convencer qualquer pessoa conectada à internet de que a regravação do álbum Reputation era iminente.

A acadêmica Clare Southerton está interessada no que isso pode nos ensinar sobre o crescimento das comunidades conspiratórias.

“Há uma grande diferença entre dizer: ‘Ah, olha, o vestido azul significa que (o álbum) 1989 é o próximo’… e ser um terrorista doméstico, mas é útil para nós entendermos por que as pessoas gostam disso”, disse ela à BBC.

Também houve debates desconfortáveis sobre o quão terrivelmente implacáveis os fãs de Taylor Swift podem ser, como sua música reflete o colonialismo e sua controversa escalação como vilã das emissões de CO2 em viagens de jatinho.

A acadêmica de Singapura Aimee-Sophia Lim — que estuda como a artista está inspirando o ativismo político no Sudeste Asiático — diz que é uma grande fã da cantora, mas muitas vezes fica decepcionada com seu "estilo de feminismo branco e centrado nos EUA".

“Talvez as pessoas de cor e do Sul Global devam ser as que defendem a si mesmas e às suas comunidades… mas o alcance de Taylor é inegável”, diz a jovem de 23 anos à BBC.

“Seria ótimo se ela conseguisse expandir o seu ativismo, então talvez ela pudesse dar uma plataforma para outras pessoas que são capazes de falar em nome de si mesmas.”

Nem todo mundo está caindo no hype.

Sabrina – que está literalmente fugindo da cidade no fim de semana em que a Eras Tour chega a Melbourne – diz que não consegue entender os níveis insanos de apelo e influência de Swift.

“Não entendo todo esse alvoroço… realmente não entendo o que está acontecendo aqui”, disse ela à BBC.

Mas Carroll afirma que tudo se resume à marca amplamente identificável que Swift construiu e à “intensa conexão” que ela conseguiu cultivar com os fãs – muitos deles sentem que cresceram com ela.

“Taylor passou toda a sua carreira fazendo seus fãs pensarem que poderiam ser seus amigos”, explica ela à BBC.

“E ela fez todas essas coisas que fazem os fãs quererem agir de uma forma que a faça gostar deles.”

Carroll acrescenta que isso, às vezes, pode levar a um comportamento preocupante – como se aglomerar do lado de fora do casamento da amiga dela, gastar milhares de reais em produtos e ingressos, e ficar obcecado com cada movimento dela.

Durante todo o simpósio, as pessoas compararam Swift a Elvis Presley, Michael Jackson, Madonna e Beyoncé.

É difícil compará-la com artistas de uma época diferente, afirmou Spanos à BBC, mas ela é certamente a pessoa que mais bomba no planeta no momento.

“Ela será considerada a maior compositora da sua geração… e também uma das maiores compositoras de todos os tempos.”

Carroll argumenta que Swift foi de fato capaz de alçar sua fama a outro patamar, graças a essa base de fãs ampla e incrivelmente motivada.

“[Para outros artistas], a esfera de influência não se estende muito além da sua base de fãs. Mas isso não é mais verdade para Taylor Swift.”

Segundo ela, o interesse das pessoas no assunto é positivo e há muito tempo aguardado.

Há um ano, ao concluir seu doutorado, as pessoas riram do tema do seu estudo. Agora ela está dando palestra em uma das conferências acadêmicas mais divulgadas do mundo.

“É meio que: Meu Deus, todo mundo entende!”, diz ela.

“É aquela sensação de ser visto, e o reconhecimento de que minha pesquisa tem valor.”

“Não vamos ficar apenas sentados nesta conferência como fãs entusiasmados – isso vai acontecer, mas estudá-la pode nos dizer muito mais sobre o mundo.”

Fonte: correiobraziliense

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