22 de Novembro de 2024

Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, é alvo de notícias falsas


Após o anúncio da morte do principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, sua viúva, Yulia Navalnaya, que prometeu continuar a luta do marido, é alvo de notícias falsas e rumores na Internet para descredibilizá-la.

Navalny passou três anos preso e sobreviveu a um envenenamento em 2020 pelo qual responsabilizou o Kremlin. Durante sua detenção passou quase 300 dias em uma cela disciplinar.

Apenas algumas horas após o anúncio da morte na sexta-feira, uma foto de Yulia, ao lado de outro homem em uma praia, foi publicada na internet. Os comentárias afirmavam ou sugeriam que a foto era recente e a acusavam de fingir tristeza em suas aparições públicas.

"No dia da morte de Navalny, Yulka, sua viúva aflita, estava descansando em uma praia!", dizia um comentário.

A foto também foi amplamente divulgada em inglês, alemão e servo-croata em diversas redes sociais.

Porém, a foto não é recente. Após a investigação, a AFP descobriu que a imagem foi publicada pela primeira vez na conta no Instagram de Evgeny Chichvarkin, um bilionário russo de 49 anos, em agosto de 2021.

"Com a primeira-dama da bela Rússia do futuro @yulia_navalnaya. Liberdade @navalny!", escreveu, localizando a foto em J?rmala, na Letônia.

Chichvarkin, cofundador e antigo proprietário do principal distribuidor russo de celulares Euroset, fugiu para o Reino Unido em 2008. Acusado de sequestro e extorsão, foi alvo de uma ordem internacional de busca e um pedido de extradição até 2011, ano em que a Rússia retirou as acusações.

Atualmente é comerciante de vinhos e um fervoroso opositor ao presidente russo, Vladimir Putin. Era amigo de Navalny e, segundo a imprensa, ajudou a financiar sua luta e parte de seus gastos médicos após seu envenenamento em 2020. 

A publicação de sua foto com Yulia Navalnaya foi muito comentada na época. Em uma entrevista a uma rádio independente, o empresário declarou, com um toque de ironia: "As pessoas têm inveja, também gostariam de passear à beira-mar com Yulia Navalnaya, uma mulher bonita e forte, potencialmente uma primeira-dama".

"Infelizmente, Alexei foi preso, mas ninguém a prendeu", afirmou.

Yulia Navalnaya é regularmente alvo de rumores que visam desacreditar a ela ou ao seu falecido marido. A mulher de 47 anos é também acusada na Internet de ser uma "acompanhante política", recorrendo à fotografia em que é vista com Chichvarkin ou ao depoimento de uma mulher que afirma ser sua antiga assistente.

Esta afirmação foi divulgada principalmente pelo site pravda-fr.com, que pertence a uma rede "estruturada e coordenada" de 193 sites que divulgam propaganda russa na Europa e nos Estados Unidos, segundo a Viginum, a organização francesa de luta contra interferências digitais estrangeiras. 

Outras contas na Internet divulgaram fotos de faturas do site de reservas de hotéis Booking para apoiar as acusações. Mas segundo Eliot Higgins, fundador do meio investigativo digital Bellingcat, o documento apresentado é falso. 

Em vídeo publicado no dia 19 de fevereiro nas redes sociais, Navalnaya, com a voz às vezes interrompida pela emoção, falou sobre a vida e o sofrimento do marido, e garantiu que ocupará o seu lugar. 

"Há três dias, Vladimir Putin matou o meu marido, Alexei Navalny. Putin matou o pai dos meus filhos. (...) Com ele, ele queria matar o nosso espírito, a nossa liberdade, o nosso futuro", disse ela. 

"Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Vou continuar por nosso país, com vocês. Peço a todos que estejam ao meu lado (...). Não é vergonha fazer pouco, é vergonha não fazer nada, é vergonha permitir ser intimidado", declarou.

Fonte: correiobraziliense

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