23 de Novembro de 2024

O que aprendi em minha desesperada busca por solução para acne severa


Viver com acne envolve muitos momentos desconfortáveis: acordar e descobrir espinhas que não estavam lá no dia anterior, sentir dor ao sorrir ou lavar o rosto por estar cheio de feridas.

Para mim, no entanto, o pior momento era encarar o espelho ao sair de casa em um dia em que sentia que meu rosto estava destroçado.

A acne é uma doença inflamatória da pele, mas em nenhuma dessas palavras consigo encontrar uma pista para entender a experiência emocional e social que vivi nos últimos quase 10 anos.

Sofri de acne cística crônica —às vezes mais grave, às vezes menos— o que me levou a quatro dermatologistas, tratamentos caros, altos e baixos emocionais e uma reflexão sobre a autoimagem.

Os dermatologistas sabem: a acne pode ter efeitos devastadores na vida de uma pessoa, em sua autoestima e qualidade de vida.

Pode levar as pessoas a se isolarem de sua rede de apoio, a abandonarem seus empregos, a desistirem da faculdade. É um problema que geralmente surge em um momento de fragilidade emocional, e a aparência física muitas vezes pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso social.

Quando a acne te aprisiona em sua mente, é difícil pensar em outra coisa.

Nos momentos em que minha pele estava tão inflamada, vermelha, dolorida e feia, sair para jantar com amigos ou ir a uma festa se tornava quase impossível de desfrutar. A raiva e a vergonha tornavam-se um labirinto.

Lembro-me, por exemplo, que no dia em que me ofereceram meu primeiro emprego, minha pele estava em um de seus piores momentos. Sentei-me com minha chefe para discutir sobre o cargo, mas tudo o que eu queria era que a reunião acabasse. Não queria que ninguém me visse daquela forma. Minha mente claramente não estava presente.

Nota

Nenhum tratamento mencionado neste artigo deve ser seguido sem o diagnóstico e acompanhamento de um dermatologista. A Associação Americana de Dermatologia destaca que cada pele é única e nenhum tratamento funciona para todos.

Certos medicamentos de venda livre podem ajudar em casos leves de acne em adultos. Quando as lesões não melhoram, é recomendável consultar um dermatologista.

Como para a maioria, meu acne começou como apenas uma parte das mudanças que vêm com o desequilíbrio hormonal da adolescência. Em uma certa idade, é uma espécie de igualador com os outros.

Na primeira vez que fui ao dermatologista por causa do acne, não senti que fosse um problema grave ainda.

Na primeira consulta, ele me receitou um antibiótico. Uma pílula por dia. Ele não explicou muito, mas também não era o que eu queria. Eu desejava uma solução rápida para as espinhas que começavam a se acumular na minha testa, têmporas e nariz, e as pílulas pareciam ser isso.

Ele também elaborou uma rotina de cuidados com a pele em vários passos que segui detalhadamente, e recomendou que eu fizesse periodicamente uma limpeza facial com extração de cravos.

Durante todos os anos em que tive acne ativo, fiz pelo menos uma dúzia dessas limpezas, todas dolorosas até as lágrimas.

Em uma delas, a esteticista me disse que nunca tinha visto uma pele com tantos cravos. Outra comentou aliviada que eu era o último paciente do dia, porque, se não fosse o caso, ela não teria tempo para extrair todas as espinhas. Não eram comentários mal-intencionados, mas me faziam sentir deformado, quase monstruoso.

As cicatrizes das limpezas demoravam mais para desaparecer do que as espinhas levavam para reaparecer.

Segui o tratamento por alguns meses, mas não funcionou, então parei de ir às consultas com esse dermatologista.

Agradeço a ele por ter me dito em uma consulta que "comer uma colher de sopa de manteiga por dia era ruim para o colesterol, mas não para a pele".

Ele me livrou de uma culpa que eu tinha, pois meu pai insistia que as espinhas eram consequência dos meus hábitos alimentares.

Ao parar de tomar o remédio, minha pele piorou. Estava pior do que antes da primeira consulta. Na época, senti (equivocadamente) que estava melhor longe dos dermatologistas, procurando uma solução por conta própria.

Houve meses em que eu esquecia um pouco do acne. Mas havia outros em que meu rosto ficava cheio de espinhas, e eu procurava desesperadamente soluções na internet ou seguia conselhos não solicitados de familiares e amigos.

Sobre acne e cuidados com a pele, há uma quantidade excessiva de informações. É a doença de pele mais comum do mundo.

Muitas dessas informações prometem uma melhoria imediata: máscaras caseiras, secreção de caracol, creme dental, evitar laticínios, cremes, procedimentos cosméticos... A oferta é extensa e avassaladora.

Hoje sei que a grande maioria dessas informações é anticientífica e contraproducente.

Tentei de tudo: suco de limão com mel, água de arroz, máscaras de aveia.

Nenhum produto desse tipo pode ajudar a combater o acne.

O acne ocorre porque os poros ficam entupidos e acumulam sebo e bactérias. Qualquer substância não indicada pode acabar piorando a situação.

A segunda vez que consultei um dermatologista, vários anos depois e com um problema mais sério no rosto e na autoestima, decidi ir a um do meu plano de saúde na Colômbia, pois era mais barato.

A solução proposta: o mesmo antibiótico, novamente, agora acompanhado por dois produtos para uso tópico que eu teria que mandar fazer, conforme a receita do médico, em um laboratório.

Após uma semana seguindo a prescrição desse segundo médico, um golpe baixo.

Minha pele teve uma reação indesejada a um dos produtos, e começou a descamar em todo o rosto. Isso é normal quando se usa certos peelings químicos, mas não no meu caso.

Quando ouço minha dermatologista atual explicar como as pessoas que sofrem de acne começam a se isolar, lembro-me desse momento em que minha pele estava literalmente caindo em pedaços.

Foram semanas em que limitei muito minha vida social.

Fazia estritamente o necessário na universidade e voltava para casa.

Entrava muitas vezes no banheiro para verificar se não havia pedaços de pele morta na roupa. Abraçar meus amigos na universidade estava fora de cogitação.

Foram dias em que senti que minha pele estava gritando o tempo todo.

Pela segunda vez, uma tentativa de melhorar minha pele terminava mal. A frustração começava a se acumular, e eu sentia que estava carregando algo que não merecia.

Voltei ao dermatologista para contar o que havia acontecido. Ele me receitou um creme para controlar a reação (dermatite) e, é claro, suspendeu os produtos que estavam causando o problema.

Eram produtos que tinham me custado muito dinheiro e que tive que jogar no lixo.

No dia em que fui ao consultório com a pele em frangalhos, a consulta durou cinco minutos, e eu não senti nenhuma empatia por parte dele.

Nem mesmo a reação adversa fez com que as espinhas cedessem.

Naquele momento, eu ainda sabia muito pouco sobre minha acne.

Recorri novamente à internet em busca de informações e cheguei a canais do YouTube com análises de produtos para cuidados com a pele. O conteúdo desse tipo é interminável.

Depois de passar muitas horas assistindo a um youtuber espanhol com a pele perfeita que eu sonhava, comprei alguns produtos: um sérum e um esfoliante químico que estava muito popular na época.

Percebi que o esfoliante estava restrito em países como Canadá e Austrália. Tem uma concentração de ácidos tão alta que as leis nesses países só permitem sua aplicação por um profissional em uma clínica dermatológica. Deixar um produto assim na pele por mais de 15 minutos ou usá-lo mais do que a frequência recomendada pode causar queimaduras graves.

E, no entanto, estava ao alcance de alguém como eu, um jovem colombiano de cerca de 20 anos que, naquele momento, não tinha o critério mais científico nem a atitude mais serena para decidir o que aplicar na pele.

Hoje vejo essa compra como um sintoma de desespero e como um dos riscos que enfrentamos ao procurar soluções nas redes sociais.

Mas, naquela época, senti que tantos avisos sobre esse produto eram justamente um sinal de que ia me ajudar.

Os produtos me ajudaram por um tempo, mas claramente, para resolver meu problema de acne, não bastava apenas produtos tópicos. Cheguei à isotretinoína (também conhecida como roacutan).

Foi receitada por uma terceira dermatologista que consultei. A doutora era uma autoridade, aparentemente. Participava de congressos mundiais de dermatologia, aplicava botox em atrizes famosas, e, claro, isso restaurava minha esperança.

A isotretinoína é um medicamento usado em casos de acne severa que não melhora com outros tratamentos, como o meu. A Academia Americana de Dermatologia define a acne severa como aquela que "causa cistos e nódulos profundos e dolorosos, que podem ser do tamanho de uma borracha de lápis ou maiores".

Eu já tinha ouvido falar do medicamento e isso me gerava certo medo. A dermatologista explicou que, devido à minha idade, aos tratamentos já tentados sem sucesso, e ao tamanho e número das lesões, meu problema não era uma acne vulgar, ou seja, aquela que comumente as pessoas superam após a adolescência. Não era uma informação totalmente nova para mim, mas ouvir isso dela mudou minha perspectiva. Foi um alerta de que eu estava sofrendo um problema de saúde que estava afetando minha vida.

Ela me disse para tomar a isotretinoína por três meses e retornar. O tratamento era caríssimo: a consulta com a dermatologista custava o equivalente em pesos colombianos a cerca de US$100 (cerca de R$500); a isotretinoína, aproximadamente US$60 (cerca de R$300) por mês. E a isso somavam-se os outros produtos para cuidados com a pele que eu ainda precisava usar e uma limpeza facial a cada mês e meio.

O salário mínimo na Colômbia naquela época girava em torno de US$300 (cerca de R$1500 reais). Era um luxo, impossível de pagar para a grande maioria. Mas eram apenas três meses, eu pensava.

Durante esses três meses, experimentei muitos efeitos colaterais.

Como a isotretinoína reduz o tamanho e a função das glândulas sebáceas - conforme explicou minha dermatologista atual, Mônica Paredes -, ela altera o processo natural de hidratação da pele.

A pele de todo o meu corpo, especialmente a do rosto, ficou extremamente seca; os lábios, então, pioraram.

O mais desconfortável de tudo era que, como o medicamento também resseca as mucosas das fossas nasais, eu tinha sangramentos nasais quase todos os dias.

Tive que jogar vários lençóis no lixo porque o sangue escorria do meu nariz enquanto dormia. Manchei toalhas de mais de um restaurante.

Explicar a alguém que você está tendo sangramentos nasais quase diários devido a um tratamento para acne é estranho: parece uma cura mais grave que a própria doença.

Além dos riscos reais do medicamento, há uma longa lista de mitos ao seu redor: que pode causar esterilidade, que deixa danos a longo prazo. Ele tem uma reputação muito ruim em geral.

Mas um dos possíveis efeitos colaterais mencionados pela dermatologista chamou particularmente minha atenção.

"Você costuma se sentir triste?", ela me perguntou durante a consulta na frente da minha mãe. Era a maneira dela de me alertar de que o medicamento está relacionado à depressão.

Minha mente ficou em branco.

Os efeitos da isotretinoína na saúde mental são objeto de muita controvérsia entre os dermatologistas.

Minha dermatologista, Mônica Paredes, me explicou uma perspectiva diferente: "Os pacientes que tomam este medicamento são aqueles com casos mais severos de acne. Há pacientes que realmente têm a pele muito comprometida. Esse paciente, sem ter nenhuma doença mental, devido à gravidade da acne, pode experimentar um impacto muito depressivo".

Ela acrescenta: "Não está claro se os pacientes relatam afeto depressivo devido ao medicamento". A Associação Americana de Dermatologia (AAD) afirma que o tratamento da acne está associado à redução dos sintomas de depressão.

No entanto, a organização esclarece que "não temos evidências suficientes para saber se a isotretinoína está relacionada ou pode causar depressão e pensamentos suicidas".

Ao longo de seus 20 anos de prática como dermatologista, Mônica me contou que suspendeu preventivamente o medicamento de não mais que dez pacientes devido a sintomas de depressão.

No entanto, ela também menciona ter pacientes que usam medicamentos psiquiátricos para a depressão e isotretinoína ao mesmo tempo, "porque o psiquiatra não os retirará da depressão se não melhorarem a acne".

"Isotretinoína está no mercado há mais de 30 anos e é um produto consolidado", disse um porta-voz da Cheplapharm, um dos fabricantes do medicamento. "Os potenciais efeitos colaterais são bem conhecidos, e é um produto confiável quando usado conforme recomendado e prescrito", acrescentou.

Quanto ao meu caso, depois de três meses de uso, retornei à dermatologista da época. Na primeira consulta, ela esqueceu de mencionar a duração do tratamento. Claro, ela não poderia saber inicialmente, mas não seriam os três meses que eu esperava. Quando a vi, ela disse que o tratamento levaria pelo menos um ano. Mais uma frustração. Meus pais não podiam mais pagar, e sentia que o medicamento estava prejudicando meu corpo.

Tomar uma pílula diária de um medicamento que está causando tantos efeitos colaterais é intimidante. Mais uma vez, abandonei o tratamento.

Chegou a pandemia e foi como um alívio para mim, pois ninguém me via. No entanto, à medida que a normalidade retornava, a preocupação com a minha pele também voltava.

Encontrei uma clínica não tão cara especializada em tratamento de acne.

Assim, cheguei ao consultório da Mônica. Na primeira consulta, disse a ela que não estava disposto a voltar a tomar isotretinoína.

Ela respondeu que começaríamos tentando reduzir a inflamação da minha pele com um antibiótico que eu ainda não havia experimentado, mas caso não funcionasse, ela sugeriria a volta à isotretinoína.

Não tenho certeza exata do motivo pelo qual a forma como ela explicou o tratamento e as decisões que tomava sobre o que seria melhor para mim me fez sentir que ela compreendia o que eu estava passando.

Enquanto fazia perguntas sobre acne e revisávamos minha história para escrever este artigo, ela me deu uma pista.

"Não posso dizer a um paciente: 'Ah, relaxa, existem acnes piores que a sua'. É a pele dele, é a experiência dele, é o que ele está vivendo".

Eu estava cansado de tratamentos que não funcionavam e, principalmente, cansado da acne, então decidi me comprometer até o final. Além disso, já havia começado a trabalhar e podia pagar pelo tratamento por conta própria.

O tratamento que finalmente curou minha pele durou dois anos. Experimentamos alguns meses com o antibiótico, e acabei voltando para a isotretinoína, incorporando à minha rotina vários produtos que ajudavam nos efeitos colaterais.

Quando vi minha pele sem nenhuma espinha após um ano, não conseguia acreditar. Meu corpo também se acostumou, e os efeitos colaterais diminuíram. A reação das pessoas ao meu redor me surpreendeu. Elogiavam minha pele. Quando eu postava uma foto nas redes sociais, meus amigos me pediam conselhos.

Claro, toda essa retroalimentação positiva, que agradeço e desfruto, faz parte da mesma lógica que durante tanto tempo me fez sentir mal por ter o rosto cheio de acne. Acredito que dizer que devemos aceitar e normalizar a acne é um discurso estéril. Todos queremos ter a pele livre de imperfeições.

No entanto, acredito que, como sociedade, devemos tentar compreender os estigmas que surgem ao ver uma pele com acne, as associações implícitas que fazemos com a acne e os efeitos tão profundos que podem ter em quem convive com a doença.

Às vezes, quando tinha o rosto cheio de espinhas, lembrava de Elmer, um personagem de um programa de televisão infantil que tinha uma enorme acne na bochecha. Ele tinha a típica aparência de um nerd e fazia parte do grupo dos impopulares na escola.

Elmer não é apenas Elmer. Na verdade, um estudo da London School of Economics concluiu que a acne está correlacionada de forma estatisticamente significativa com melhores notas na escola e uma pior autoimagem da aparência física, personalidade e aceitação social.

Agora, minha pele está bastante saudável, como tanto desejei, mas sei que há muitos estragos que a acne causou em minha forma de me relacionar comigo mesmo e com os outros, e esses levarão mais tempo para cicatrizar.

Fonte: correiobraziliense

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