Riad, Arábia Saudita — Responsável pela política agrícola no primeiro governo Lula, em 2003, o ex-ministro Roberto Rodrigues recusou voltar ao Poder Executivo 20 anos depois, mas continua alinhado ao presidente Lula na visão dos desafios que o mundo precisa enfrentar e cuja solução está em solo brasileiro. Em palestra na Brazil Saudi Arabia Conference, promovida pelo Lide na capital saudita, nesta segunda-feira (04), Rodrigues listou o que considera “os quatro cavaleiros do Apocalipse”: segurança alimentar, mudanças climáticas, transição energética e desigualdade social.
De todos, avalia o ex-ministro, a segurança alimentar é crucial para ajudar a resolver os demais: ‘Sem comida, cai governo”, alertou, citando o caso do Sri Lanka, onde a fala de alimentos foi um dos fatores que desencadeou a queda do presidente Gotabaya Rajapaksa. O ex-ministro foi incisivo ao dizer que a segurança alimentar é uma “questão de estabilidade social e política” e a solução está na agricultura praticada no faixa tropical do planeta, onde o Brasil está inserido. “Para a produção de alimentos no mundo crescer 20%, a do Brasil precisa crescer 40%. Podemos crescer tudo isso? Sim. Vamos crescer? Depende da estratégia que adotarmos”, diz ele, defendendo as cooperativas e o crédito agrícola e ação que facilitem a vida do produtor.
Rodrigues evitou críticas ao governo em sua palestra, ainda mais em se tratando de um evento destinado a promover negócios entre empresários dos dois países. Mas, em Brasília, parlamentares do setor do agro reiteram que o governo Lula e o agronegócio têm tido problemas, como a demarcação das terras indígenas e a falta de recursos para o seguro agrícola.
Além de Roberto Rodrigues, outro ex-ministro da Agricultura, Antonio Cabrera, tratou de vender o Brasil como a meca da produção alimentícia. “Brasil é a terra da oportunidade. Durante seis meses, nosso principal concorrente fica sob a neve. Temos segunda safra. Colhe o produto e está plantando outra cultura. É a céu aberto”, disse o ex-ministro do governo Fernando Collor de Mello e ex-secretário de Agricultura de Mário Covas, em São Paulo, na década de 90.
Além de alimentos, os empresários brasileiros começam a olhar com mais atenção para produtos nutrientes e ingredientes. “A Arábia Saudita importou 50 mil toneladas de carne, a US$ 500 milhões de dólares, mas importou US$ 1 bilhão em ingredientes”, afirmou Sampaio, da Minerva Food’s, que há anos negocia com os árabes. A avaliação é a de que, se os árabes estão ampliando a sua economia, cabe aos empresários também ficarem de olho nas novas brechas do mercado. Os sauditas estão dispostos a diversificar a sua economia, dentro do projeto “Visão 2030”, e vai muito além do agro.
Presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi, está otimista: “A Arábia Saudita está sempre entre os primeiros parceiros comerciais do Brasil no mundo árabe. No ano passado, foi o primeiro. A tendência é essa parceria se estreitar. Mesmo no agro, nós temos a produção agrícola, e eles produzem fertilizantes. É um ganha-ganha”, avalia Chohfi. Outros temas foram fármacos, unidades hospitalares, construção civil, mineração e energia, campos que os sauditas que também buscam parcerias.
A missão empresarial levada pelo LIDE continua seu périplo pela Arábia Saudita, com uma visita ao PIF, o fundo de investimentos mais ativo do mundo no ano passado e ao Ministério de Investimentos da Arábia Saudita.
A Arábia Saudita pode se transformar em um “hub” de montagem e distribuição da principal aeronave militar da Embraer, o KC-390, e, a partir dali, a empresa não descarta no futuro ampliar seu mercado para Ásia e África. “Queremos transformar a Arábia Saudita num hub da Embraer”, afirmou o vice-presidente da Embraer Defesa e Segurança para Oriente Médio, Ásia-Pacífico, Caetano Spuldaro Neto, durante palestra na Conferência Arábia Saudita Brasil, promovida pelo grupo Líderes empresariais (Lide). Nesse sentido, pode estar ali, em meio aos petrodólares, a primeira linha de montagem da empresa fora do Brasil.
“O KC-390 é o produto brasileiro mais inovador do seu segmento de negócio, transporte militar tático, com capacidade de 26 toneladas de carga. Pode gerar uma economia de US$ 2 bilhões aos sauditas em 30 anos”, comentou Spuldaro Neto em sua fala.
A Embraer está na fase de conversas exploratórias no país, em sintonia com a “visão 2030”, de modernização da economia saudita. Além da linha de produção, a Embraer vislumbra um aumento da sua cooperação com os sauditas com escritórios de engenharia, compra de componentes locais e serviços para seus produtos.
Nos últimos anos, os negócios entre Brasil e Arábia Saudita subiram de US$ 5 bilhões para US$ 7 bilhões, conforme lembrou o embaixador da Arábia Saudita no Brasil, Faisal Ghulam, na mensagem exibida na abertura do evento. E a tendência é de que esses valores cresçam. “A realização deste evento é sinal de que a relação entre os dois países está em ascensão”, comentou
*A repórter viajou a convite do Lide
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