Após registrar queda de 33,8% no lucro de 2023 e reduzir o volume de dividendos pagos aos acionistas, pagando apenas o mínimo, as ações da Petrobras desabaram 10%, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Ao fim do pregão, os papéis da estatal chegaram a perder R$ 55,3 bilhões em valor de mercado em um único dia, conforme levantamento feito por Einar Rivero, sócio fundador da Elos Ayta Consultoria.
Segundo ele, essa foi a maior perda em valor de mercado da Petrobras, desde 22 de fevereiro de 2021, quando as ações da companhia desabaram mais de 20% e a perda em valor de mercado superou a casa de R$ 70 bilhões. Desde a máxima dos papeis, de 19 de fevereiro deste ano até ontem, a companhia perdeu R$ 93 bilhões em valor de mercado, conforme os dados de Rivero.
Esse tombo da petrolífera na Bolsa puxou fortemente o Índice Bovespa (IBovespa) para baixo. O principal indicador da B3 encerrou o dia com queda de 0,99%, a 127.070 pontos, mas durante o pregão, chegou a cair 1,98%, atingindo a mínima de 125.802 pontos.
As ações preferenciais (PN, sem direito a voto, mas preferência no recebimento de dividendos) e ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras lideraram as quedas de ontem na B3 e encerraram o pregão com desvalorização de 9,14% e de 10,37%, respectivamente. Esse tombo foi resultado, principalmente, das frustrações do mercado depois de os executivos da companhia anunciarem que a empresa não pagará os dividendos extraordinários, quase R$ 43,9 bilhões, que ficarão reservados. Com isso, a empresa pretende pagar apenas o mínimo estabelecido pela Política de Remuneração dos Acionistas — R$ 14,2 bilhões.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, lembrou que, além da frustração com o pagamento de dividendos, os investidores continuam preocupados com o maior grau de intervenção do governo na gestão da Petrobras. "Juntamente a isso, os sinais que estão sendo dados, como alguma flexibilidade no Perse, programa de socorro ao setor de eventos, e outras promessas de ajuda para o setor agro e o vale picanha para os mais pobres, fundamentam a incerteza com a política fiscal", alertou. "Por isso que, a despeito da queda dos yields e do dólar no exterior, os juros futuros do DI ficaram em alta no dia todo, fechando próximos das máximas", acrescentou.
Em meio às críticas, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), veio a público rebater a responsabilização do presidente Lula pela queda, citando que petroleiras estrangeiras também tiveram queda nos lucros, como a Chevron, Shell e Exxon Mobil, com reduções entre 35% e 40%. "O que houve no mundo do petróleo em 2023 foi um retorno aos preços praticados antes da guerra da Ucrânia, mas querem é falar mal do Lula. Não é ignorância, é má-fé!", escreveu em sua conta no X (antigo Twitter).
O economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembrou que muitos investidores estavam segurando as ações da Petrobras na esperança de receber mais dividendos neste ano. "Muita gente comprou a ação, que valorizou muito no ano passado, mas sempre ficou a sensação de que ia ter uma interferência maior do governo", explicou.
Segundo ele, a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que quer aumentar a política de investimentos da Petrobras criou ainda mais ruídos no mercado, que não esquece que a ex-presidente Dilma Rousseff endividou muito a companhia. Já durante o governo Michel Temer, "as novas políticas de preços e de investimentos da estatal ajudaram a reequilibrar as contas da Petrobras", observou o economista.
Apesar da queda de 33,8% no lucro líquido no balanço de 2023, para R$ 124,6 bilhões, a Petrobras registrou o segundo melhor resultado da história da companhia, perdendo apenas para 2022.
Conforme a empresa, essa piora no desempenho foi resultado, em grande parte, da queda de 18,4% nos preços do petróleo no mercado internacional, apesar de a companhia ter batido vários recordes de produção. Em dólares, o lucro da estatal recuou menos: 27,8%, para US$ 25 bilhões. Foi o segundo maior entre as principais petroleiras internacionais.
De acordo com os dados do balanço da Petrobras, o lucro antes da depreciação e da amortização (Ebitda) da empresa em 2023 somou R$ 262,2 bilhões. A dívida bruta da estatal cresceu 16,4%, na mesma base de comparação, para US$ 62,6 bilhões (R$ 311,8 bilhões, considerando o câmbio de ontem, de R$ 4,981 — alta de 0,96% sobre a véspera.
O balanço da Petrobras mexeu com o mercado, que ficou frustrado com o anúncio de pagamento menor de dividendos para os acionistas. Ao comentar o resultado para os analistas em videoconferência, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates informou que o Conselho de Administração (CA) da Petrobras decidiu não pagar dividendos extraordinários relativos a 2023 porque a empresa busca por um balanço mais robusto.
De acordo com Prates, os conselheiros indicados pela União votaram para o envio de 100% dos recursos (R$ 43,9 bilhões) para a reserva para distribuição posterior. Os conselheiros privados, ou "minoritários", votaram pelo pagamento de 100% ao acionista. Ele se absteve de votar, mas defendeu a proposta da diretoria de encaminhar 50% para reserva e os 50% restantes aos acionistas.
Prates garantiu que os dividendos extraordinários retidos não serão utilizados para investimentos ou pagamento de dívidas. "Creio que foi uma questão de timing, o dividendo é para distribuição de qualquer forma. Não pode pagar dívida ou investir, como falsas notícias que andam por aí. Isso é lucro, portanto dividendo. Clarificando isso, todo esse susto aí desaparece, porque sabe-se que essa reserva é dividendo e uma hora volta", disse.
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