Dubai — A capital financeira dos Emirados Árabes sente nas ruas os efeitos das mudanças climáticas. No último sábado (9/3), os habitantes da cidade que mal sabe o que é chuva foram surpreendidos com uma tempestade de 50 milímetros em seis horas, quase a metade da média de 101 milímetros que os Emirados têm o ano todo. Para uma cidade que chega a bombardear nuvens com compostos químicos para fazer chover, foi um transtorno bem acima do esperado. Voos foram cancelados, atrasados ou desviados para outros aeroportos, as semifinais do Circuito Mundial de Skate precisaram ser adiadas e havia alagamentos para todos os lados.
Na noite anterior, a polícia de Dubai havia emitido um alerta, com apelos para que as pessoas permanecessem em segurança e evitassem as praias. A previsão era que a tempestade chegasse na madrugada. Restaurantes e bares esvaziaram mais cedo do que o normal para uma sexta-feira. Empresários brasileiros da comitiva do Lide (líderes empresariais) pensaram que havia sido um “exagero” o alerta da polícia, porque, por volta das 5h (22h, hora de Brasilia), caía apenas uma garoa. Todos chegaram ao aeroporto sem transtornos para a volta ao Brasil no sábado.
A polícia, entretanto, só errou no horário. A tempestade desabou depois das 7h, derrubando a proramação de voos do segundo maior aeroporto do mundo. A comitiva brasileira esperava já na frente do portão para entrar no Voo 261, da Emirates, com destino a São Paulo. O embarque ocorreu normalmente, às 8h20 (1h20, hora de Brasília). A surpresa, porém, veio quando já estavam todos dentro do avião, relaxados no Airbus 380, com a perspectiva de voar no horário em meio a tantos atrasos. Por volta de 8h50, a tripulação mandou que os passageiros desembarcassem e aguardassem no saguão por uma nova chamada. Quando puderam embarcar novamente, já passava de 13h (6h, hora de Brasília). Resultado, a maioria perdeu as suas conexões no Brasil. Aqueles que iam para Brasília, por exemplo, tiveram quer pernoitar em São Paulo.
O atraso se deu por causa da dificuldade de pouso dos voos no momento da tempestade. Uma aeronave da Emirates que vinha de Tóquio para Dubai precisou ser desviado para Abu Dhabi, a capital dos Emirados, e os passageiros seguiram de ônibus até Dubai, a fim de embarcar no voo para SP — da mesma forma que ocorre com os brasilienses, quando as chuvas desviam voos para Goiânia.
A população de Dubai não está acostumada com essas situações. Por causa da escassez de chuvas, não houve muita preocupação com um sistema de escoamento eficiente. Ao contrário, a preocupação até aqui era como fazer chover no país como clima de deserto, onde as chuvas não chegam a 120 milímetros por ano. No sábado à tarde em Dubai, enquanto os empresários brasileiros voltavam para casa, as autoridades colocavam caminhões nas ruas para resolver o acúmulo de água. As preocupações da cidade-sede da Cop28 com as chuvas torrenciais são mais um indício de que o mundo não pode desconhecer os alertas do clima.
*A repórter viajou a convite do Lide
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