23 de Novembro de 2024

Respirar ar com impurezas pode causar impactos imediatos, diz estudo


Veículos, indústrias, queimadas florestais e incontáveis outras fontes poluidoras liberam, diariamente, na atmosfera, substâncias prejudiciais à saúde humana. Estudos evidenciam que exposição a partículas finas (PM 2,5) e outros poluentes está relacionada ao aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e distúrbios neurológicos. Respirar um ar repleto de impurezas invisíveis, mesmo que por curtos períodos, pode causar impactos imediatos, como crises de asma e bronquite. Estudos recentes revelam as consequências de um ambiente sujo, incluindo milhares de mortes, maior chance de patologias ósseas, Alzheimer e risco aumentado de suicídio.

Anualmente, mais de 1 milhão de mortes ocorrem no mundo em razão da exposição a curto prazo, que varia entre horas e alguns dias, a partículas finas, presentes na poluição atmosférica. É o que afirma um novo relatório conduzido pela Universidade de Monash, na Austrália. Segundo o documento, a Ásia Oriental reportou mais de 50% das mortes atribuíveis às PM2,5 de curto prazo.

O estudo analisou a mortalidade e os níveis de PM 2,5 em mais de 13 mil cidades e vilas durante duas décadas. O trabalho foi detalhado recentemente na revista The Lancet Planetary Health.

Liderado pelo professor Yuming Guo, esse é o primeiro a examinar a exposição a curto prazo globalmente — em vez dos impactos ao longo de muito tempo, como acontece com quem vive em cidades com níveis elevados de poluição.

De acordo com Guo, os efeitos na saúde têm sido bem documentados. "Como os megaincêndios na Austrália durante o chamado Verão Negro de 2019 a 2020, que se estima ter causado 429 mortes prematuras relacionadas à fumaça e 3.230 internações hospitalares devido à exposição aguda e persistente a níveis extremamente altos de poluição do ar ligada a incêndios florestais", afirmou o professor.

Celso Taques Saldanha, membro da Comissão de Biodiversidade, Poluição e Clima da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), ressalta que os impactos de curto prazo da poluição do ar podem sobrecarregar os sistemas de saúde locais. "Aumentando as internações hospitalares e os custos médicos. Isso pode criar uma carga adicional sobre os recursos de saúde já limitados, especialmente em áreas com infraestrutura de saúde precária."

"Compreender a carga de mortalidade associada à exposição de curto prazo ao PM 2,5 em áreas de elevadas densidades populacionais é crucial para mitigar os efeitos negativos da poluição atmosférica nas zonas urbanas", afirmou Guo.

Elaine Frade Costa, presidente da Comissão de Endocrinologia Ambiental (CEA) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), pontua que é importante diferenciar a toxicidade dessas partículas da desregulação endócrina. "A ação das PM2,5 produz efeitos tóxicos e está diretamente relacionada à dose ou quantidade de exposição. A desregulação endócrina acontece em médio e longo prazo e independe da quantidade de exposição."

A especialista enfatiza que os alteradores produzem efeitos deletérios em diferentes glândulas do organismo. "Algo comum é a alteração epigenética — capacidade de alterar a expressão de genes — levando à disfunção do órgão. É relevante ressaltar que os mecanismos da desregulação endócrina são intracelulares e moleculares, podendo ser transmitidos através das gerações."

José Carlos Perini, membro da Comissão de Biodiversidade, Poluição e Clima da ASBAI, destaca alguns malefícios da exposição. No pulmão, essas partículas se unem a proteínas produzindo uma inflamação que lesa a parede do órgão. "Diminuindo a capacidade de troca gasosa e comprometendo a respiração levando a falta de ar, chiados, tosse, aumento da secreção e insuficiência respiratória aguda."

Perini detalha que as PM 2,5 podem atravessar a parede do pulmão e chegar à corrente sanguínea, quando se unem às hemácias, formando coágulos que causam infarto ou acidente vascular cerebral. "Lembrando sempre que o dano por exposição a curto prazo é raro porque depende de emissões muito altas de partículas. O maior dano é silencioso no dia a dia, com taxas de exposição muitas vezes consideradas normais."

Além dos malefícios físicos, impurezas na atmosfera afetam a saúde mental. Avaliando essa questão, pesquisadores nos Estados Unidos e na China fizeram uma descoberta intrigante. O trabalho revelou uma conexão surpreendente entre a poluição do ar e taxas de suicídio, sugerindo a necessidade de uma reavaliação na abordagem desse problema.

Estimativas dos cientistas apontam que os esforços da China para reduzir a poluição evitaram cerca de 46 mil suicídios em cinco anos. A equipe identificou uma ligação considerada causal.

Para o artigo, detalhado na revista Nature Sustainability, Tamma Carleton, coautora do ensaio, e colegas coletaram dados demográficos e meteorológicos. "Nosso artigo revela um custo oculto da poluição do ar. Esperamos fornecer às cidades e aos governos mais um motivo convincente para buscar a redução das impurezas para níveis seguros", reforçou a cientista.

Anibal Okamoto Junior, psiquiatra em Brasília, atesta que o aumento da atividade inflamatória e estresse oxidativo no cérebro, provocado pela poluição, causa alterações complexas. "Mudanças neuroestruturais e neurofuncionais, desequilíbrio na produção de neurotransmissores, neuromoduladores e seus metabólitos em várias regiões do cérebro, como o sistema límbico, ligado à regulação emocional, hipocampo, associado à memória e o córtex pré-frontal, referente ao planejamento e pensamento lógico." Luan Diego Marques, psiquiatra em Brasília, frisa a necessidade de mais pesquisas com a temática, pois a saúde mental não pode ser vista isolada dos fatores ambientais e sociais. "O estudo sublinha a importância de considerar a saúde mental em um contexto mais amplo. Esse conhecimento desafia a noção tradicional de que a saúde mental é apenas um assunto de intervenções individuais e farmacológicas, abrindo caminho para uma compreensão que inclui o ambiente como parte integral do bem-estar psicológico."

Liderado pela Universidade de Tecnologia de Sidney, na Austrália, um estudo recente sugere que a magnetita, uma partícula presente na poluição atmosférica, pode desencadear sintomas associados à doença de Alzheimer. A doença é caracterizada pela perda de memória, declínio cognitivo e diminuição significativa na qualidade de vida.

A equipe de pesquisa, que incluiu cientistas de Singapura, investigou o impacto da poluição do ar na saúde cerebral de camundongos, além de estudar células neurais humanas, cultivadas em laboratório. O objetivo principal do trabalho, descrito na revista Environment International, foi compreender como a exposição a partículas tóxicas da poluição atmosférica pode contribuir para o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

De acordo com Cindy Gunawan, professora do Instituto Australiano de Microbiologia e Infecção (AIMI) e colider do ensaio, menos de 1% dos casos de Alzheimer são hereditários, o que sugere que fatores ambientais e de estilo de vida desempenham um papel crucial no seu desenvolvimento. "Encontramos que a magnetita induziu a formação de placas amiloides em camundongos, uma marca registrada do Alzheimer. As placas são tóxicas para as células neuronais e, de fato, exposições à magnetita também foram encontradas por causar morte de células em algumas regiões do cérebro de camundongos", detalhou

Os resultados revelaram que a exposição à substância levou a alterações patológicas consistentes com a doença de Alzheimer nos camundongos estudados. Isso incluiu a perda de células neuronais em áreas importantes para a memória, bem como o aumento na formação de placas amiloides. Além disso, observaram mudanças comportamentais nos animais, indicativas de sintomas semelhantes aos da doença em humanos.

"As descobertas destacam a necessidade de incluir a magnetita no limite de segurança recomendado para o índice de qualidade do ar, bem como de implementar medidas adicionais para reduzir as emissões de veículos e usinas de energia", destacou Gunawan. Segundo ela, o próximo passo é identificar os gatilhos exatos do Alzheimer, verificar como a magnetita induz a condição. "Também estamos trabalhando em tecnologias terapêuticas para reverter as patologias."

Publicada na revista Annals of the Rheumatic Diseases, uma pesquisa revela que viver em áreas arborizadas próximas a jardins, parques e espaços verdes pode aumentar a densidade óssea e reduzir o risco de osteoporose. Os níveis mais baixos de poluição atmosférica nesses locais são um fator significativo. Para o estudo, a equipe de duas instituições chinesas analisou dados de 391.298 pessoas do Biobank — um banco de informações — do Reino Unido. O contato com espaços verdes foi relacionado à maior densidade mineral óssea e chances 5% menores de desenvolver osteoporose. Os níveis mais baixos de impurezas no ar, como óxido de nitrogênio (NO2) e partículas PM2,5, foram fatores importantes nessa associação, sugerindo que áreas arborizadas podem oferecer um ambiente mais saudável e propício à prevenção da condição.

» As partículas PM2,5 têm diâmetro menor do que 2,5 micrômetros. Elas são produzidas por uma variedade de fontes, incluindo combustões, como o uso de combustíveis fósseis em veículos motorizados, usinas de energia e indústrias. As PM2,5 também são geradas a partir da queima de biomassa, incluindo madeira e carvão, entre outros processos. Uma vez liberadas no ar, elas podem permanecer suspensas por longos períodos e viajar grandes distâncias.

 

Fonte: correiobraziliense

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