Israel vai enviar aos Estados Unidos, nos próximos dias, uma delegação de alto nível para discutir o plano de ofensiva em Rafah, o último grande centro populacional de Gaza que ainda não foi alvo de ações por terra desde o início da guerra contra o Hamas. Segundo a Casa Branca, esse foi o combinado durante uma conversa, por telefone, entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que retomaram, ontem, o contato após um hiato de 33 dias. Horas antes, Israel fez um novo ataque ao hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, matando ao menos 20 pessoas.
O diálogo entre os dois líderes ocorreu em meio a uma crescente tensão entre eles pela ofensiva na Faixa de Gaza. Desde a última ligação, em 15 de fevereiro, o presidente norte-americano tem sido cada vez mais crítico em relação ao número de mortos palestinos e à grave situação humanitária no enclave palestino, devido à ofensiva militar israelense, em resposta aos ataques do movimento islamista Hamas em 7 de outubro.
Segundo a Casa Branca, Biden alertou Netanyahu sobre as consequências de qualquer operação em Rafah sem um plano "crível" para proteger mais de um milhão de civis. Há duas semanas, o democrata afirmou que teria uma reunião séria com o primeiro-ministro israelense para tratar do tema, o que não ocorreu. Ontem, enfático, ele manifestou sua "profunda preocupação" com uma incursão terrestre em Rafah, e afirmou que a ofensiva seria "um erro".
Netanyahu, por sua vez, aceitou o pedido de mandar uma missão a Washington para debater o plano desenvolvido pelo Exército israelense, aprovado por ele na última sexta-feira. Segundo o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, teria ficado aberta a possibilidade de se encontrar "uma alternativa" à ofensiva.
Nos últimos dias, Netanyahu rejeitou a pressão de Washington e prometeu levar adiante o plano de invasão a Rafah. Segundo nota publicada pelo gabinete do primeiro-ministro, ele declarou a Biden que está determinado a "alcançar todos os objetivos da guerra" em Gaza, entre eles, "a eliminação do Hamas".
Além da situação em Rafah, os aliados falaram sobre os últimos acontecimentos em Israel e Gaza e os esforços para aumentar a ajuda humanitária", indicou o comunicado da Casa Branca. Perante o alerta da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre uma fome iminente em Gaza, no início do mês Biden ordenou ao seu Exército que lançasse alimentos por via aérea sobre o território palestino e criará um corredor marítimo com o mesmo objetivo.
Na semana passada, numa declaração entendida como um descompasso nas relações com Netanyahu, Biden elogiou o "bom discurso" do líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, que pediu novas eleições em Israel. O democrata disse que o parlamentar, o oficial judeu de mais alto escalão nos Estados Unidos, "expressou séria preocupação compartilhada não apenas por ele, mas por muitos americanos".
Em Gaza, a semana começou com um novo ataque israelense ao Al-Shifa, o maior hospital da Faixa de Gaza, e suas imediações, obrigando centenas de civis a fugir dos bombardeios. "Vinte terroristas foram eliminados no hospital em diversos enfrentamentos e dezenas de suspeitos detidos estão sendo interrogados", indicou o Exército israelense, em nota.
As autoridades israelenses afirmaram que um alto dirigente do Hamas foi morto na incursão. Identificado como Fayq al Mabhouh, ele era comandante da polícia de Gaza e irmão de Mahmoud Al Mabhouh, um dos fundadores do braço armado do Hamas.
Os combates começaram durante a madrugada nas imediações do hospital, onde o Exército havia realizado uma operação em 15 de novembro. Milhares de civis estão refugiados em Al-Shifa, que, segundo o Exército israelense, tem suas instalações usadas como base de comando dos extremistas do Hamas.
Colunas de fumaça preta envolveram algumas áreas da cidade após os bombardeios, segundo imagens da agência de notícias France Presse (AFP). Em meio ao pânico, centenas de palestinos — a maioria crianças, mulheres e idosos — fugiram a pé em ruas repletas de escombros e feridos no chão.
A ONU adverte que, após cinco meses de conflito, menos de um terço dos hospitais do enclave funcionam. "Antes da guerra, Gaza era a maior prisão a céu aberto. Agora é o maior cemitério a céu aberto", lamentou o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
À situação dos hospitais se soma a falta de alimentos que pouco chegam a Gaza. Um relatório endossado pelas Nações Unidas sustenta que quase 1,1 milhão de palestinos enfrentam o nível mais grave de insegurança alimentar.
Em meio a esse caos, mediadores internacionais — Estados Unidos, Catar e Egito — tentam alcançar uma nova trégua, similar à realizada no fim de novembro do ano passado. O Hamas afirmou que está disposto a aceitar uma pausa de seis semanas e a libertar a 42 reféns israelenses em troca da liberação de entre 20 a 50 palestinos por cada um deles.
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