A comunidade internacional condenou por unanimidade o ataque que deixou mais de 130 mortos na sexta-feira (22) em uma casa de show em um subúrbio de Moscou, reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI). As mortes, porém, foram usadas como ativo político tanto por parte da Rússia como pela Ucrânia, em pronunciamentos durante todo o sábado.
Em discurso televisionado, o presidente Vladimir Putin afirmou que 11 pessoas foram presas, entre eles, os quatro supostos autores do ataque, que tentaram fugir para território ucraniano antes de serem presos, onde tinham contatos que os ajudariam a passar pelo controle da fronteira. O presidente prometeu que todos os responsáveis serão punidos e não mencionou a reivindicação do massacre por parte do EI.
Mais tarde, a televisão russa exibiu imagens de interrogatórios dos supostos terroristas. Três deles estavam com o rosto ensanguentado, sendo escoltados por agentes armados. Um dos detidos estava com a cabeça enfaixada e apresentava vestígios de sangue na orelha direita. Durante os interrogatórios, dois suspeitos admitiram culpa e um deles afirmou ter agido por dinheiro. De acordo com a mídia russa e o deputado Alexander Jinstein, alguns dos suspeitos são originários do Tadjiquistão, ex-república soviética na fronteira com o Afeganistão, com presença do grupo EI.
Volodymyr Zelensky, por sua vez, disse que "O que aconteceu ontem (sexta) em Moscou é óbvio: Putin e os demais bastardos tentam jogar nos outros a culpa" pelo atentado.
Os serviços de inteligência militar ucranianos afirmaram que "o ataque terrorista em Moscou é uma provocação planejada e deliberada dos serviços especiais russos, ordenada por Putin com o objetivo de justificar bombardeios ainda mais poderosos contra a Ucrânia e uma mobilização total na Rússia".
O ataque à sala de concertos Crocus City Hall é o mais sangrento na Rússia em duas décadas e o mais mortal realizado na Europa pelo grupo EI, que reiterou a autoria dos ataques ontem.
"O ataque foi realizado por quatro combatentes do EI, armados com metralhadoras, uma pistola, facas e bombas incendiárias", afirmou a organização jihadista em uma das suas contas no Telegram, acrescentando que o ataque se enquadra no contexto da guerra contra "os países que combatem o Islã".
A Rússia combate o grupo terrorista na Síria e também no Cáucaso russo desde o final da década de 2010, mas o EI nunca assumiu a responsabilidade por um ataque de tal magnitude antes.
A polícia e as forças especiais russas permaneceram posicionadas, ontem, em frente ao complexo incendiado, onde centenas de equipes de resgate recolhiam os escombros em busca de mais vítimas, enquanto pessoas acendiam velas e deixavam flores em homenagem aos mortos na tragédia. Desde a manhã, longas filas de espera se formaram em frente a centros de doação de sangue em Moscou. Cartazes que dizem "Estamos de luto 22/03/2024" foram espalhados pela cidade.
Oponentes declarados da Rússia em sua empreitada contra o país vizinho, líderes dos Estados Unidos, União Europeia e Otan comentaram a tragédia. A Casa Branca afirmou, ontem, que o grupo Estado Islâmico (EI) é "um inimigo terrorista comum", ao lamentar o atentado. "Os Estados Unidos condenam energicamente o ataque terrorista hediondo em Moscou", declarou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, ressaltando que "o EI é um inimigo terrorista comum, que deve ser derrotado em todas as partes".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também repudiou "energicamente o ataque terrorista" e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, criticou "um ataque atroz" contra "pessoas indefesas". A Otan "condenou inequivocamente os ataques contra os participantes em um show em Moscou" e indicou que "nada pode justificar crimes tão hediondos".
A Síria, aliada de Moscou, considerou que o atentado está "diretamente relacionado às derrotas cruéis e dolorosas do neonazismo e seus seguidores após a operação militar especial no Donbass", referindo-se à anexação russa dessa região da Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hosein Amir-Abdollahian, enfatizou que "uma luta conjunta e eficaz contra o terrorismo requer uma ação séria e não discriminatória da comunidade internacional".
O atentado uniu, até mesmo, Israel e Palestina em solidariedade. Netanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, expressaram seu repúdio ao terrorismo.
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