Eles chegaram curvados, com sinais evidentes de terem sido espancados — um deles estava, inclusive, em uma cadeira de rodas. Foi assim que os quatro homens que a Rússia acusa de serem os autores do ataque a uma casa de shows, que matou pelo menos 139 pessoas, compareceram perante um tribunal de Moscou.
Todos foram acusados ??de cometer ato de terrorismo.
Na última sexta-feira (22/3), homens armados invadiram o Crocus City Hall, em Krasnogorsk, um subúrbio ao norte de Moscou, e abriram fogo contra o público. Cerca de 6 mil pessoas assistiam a um show de rock no momento do ataque.
Eles também provocaram incêndios no local — o fogo se espalhou pela área e causou o desabamento do teto.
Além das mortes, as autoridades russas informaram que mais de 100 pessoas ficaram feridas.
O grupo extremista autodenominado Estado Islâmico afirmou ter realizado o ataque, embora as autoridades russas inicialmente tenham dito que a declaração da organização era “falsa”.
O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu pela primeira vez na segunda-feira (25/3) que “islamistas radicais” estavam por trás do atentado, mas sugeriu que o ataque faz parte de uma campanha mais ampla de intimidação liderada pela Ucrânia.
A FSB, a agência de segurança russa, informou que prendeu os quatro homens na região de Bryansk, a cerca de 400 quilômetros a sudoeste de Moscou, 14 horas após o ataque.
Os suspeitos compareceram perante o tribunal no domingo (24/3), e as autoridades russas os identificaram como: Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Murodali Rachabalizoda, Shamsidin Fariduni e Muhammadsobir Fayzov.
Segundo a agência de notícias estatal russa Tass, eles são do Tajiquistão, país ao norte do Afeganistão.
Um comunicado do tribunal, divulgado no Telegram, informou que Mirzoyev havia “admitido totalmente sua culpa”, e que Rachabalizoda também havia "admitido culpa".
Os quatro vão permanecer em prisão preventiva até pelo menos até 22 de maio, acrescentou o tribunal.
Outras sete pessoas foram presas na Rússia sob suspeita de ajudar no ataque.
Em um vídeo, policiais com os rostos cobertos podem ser vistos levando os réus ao tribunal do distrito de Basmanny, na capital russa.
Durante a permanência no tribunal, os quatro ficaram dentro de uma cabine envidraçada, sendo vigiados por policiais que estavam com os rostos cobertos.
Nas imagens, é possível ver sinais de espancamento nos detidos.
Quando questionado sobre a suposta tortura, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a comentar durante uma entrevista coletiva para a imprensa na segunda-feira.
Os homens que o tribunal identificou como Mirzoyev e Rachabalizoda estavam com hematomas nos olhos, e a orelha do último estava enfaixada, supostamente porque teria sido parcialmente cortada durante sua prisão.
Mirzoyev também parecia ter um saco plástico rasgado em volta do pescoço.
O rosto do suspeito identificado como Fariduni estava muito inchado, enquanto Fayzov parecia ter perdido a consciência — ele foi levado ao tribunal em uma cadeira de rodas, vestindo uma camisola de hospital.
Dava a impressão de que ele tinha perdido um olho, segundo a agência de notícias Reuters.
O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em seu canal Telegram — e publicou como evidência um vídeo dos atiradores disparando contra a multidão dentro da casa de shows.
A BBC verificou que o vídeo é autêntico.
Peskov disse na segunda-feira que não era apropriado fazer comentários a respeito até que a investigação fosse concluída.
No entanto, as autoridades russas sugeriram que a Ucrânia teria ajudado os autores do ataque. Putin afirmou que Kiev havia “preparado uma janela” para permitir que eles cruzassem a fronteira e escapassem para o território ucraniano.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, rejeitou no domingo as acusações — e sua diretoria de inteligência militar disse que é “absurdo” sugerir que os homens estavam tentando cruzar uma fronteira altamente minada, repleta de centenas de milhares de soldados russos, para escapar.
Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, afirmou que o Estado Islâmico é "o único responsável por este ataque. Não houve de maneira alguma envolvimento ucraniano".
Os Estados Unidos alertaram Moscou no início deste mês sobre um possível ataque na Rússia visando grandes aglomerações. Posteriormente, emitiu um aviso público aos seus cidadãos no país.
O alerta foi desconsiderado pelo Kremlin como propaganda — e uma tentativa de interferir nas eleições presidenciais.
Washington disse após o ataque que não tinha motivos para duvidar da afirmação do Estado Islâmico.
Não seria a primeira vez que o Estado Islâmico e seus aliados atacam a Rússia ou seus interesses no exterior.
O grupo assumiu a responsabilidade pela explosão de um avião russo sobre o Egito em 2015, com 224 pessoas a bordo, a maioria cidadãos russos. Também reivindicou o crédito pelo atentado a bomba em 2017 no metrô de São Petersburgo, que matou 15 pessoas.
Analistas de segurança dizem que o Estado Islâmico considera a Rússia um alvo por várias razões, incluindo o papel do país na destruição da base de poder do grupo na Síria, enquanto apoiava o governo do presidente Bashar al-Assad.
Também pelas duas guerras brutais de Moscou na Chechênia, de maioria muçulmana, entre 1994 e 2009, e pela invasão do Afeganistão na era soviética.
O ataque à casa de shows é atribuído à célula afegã do Estado Islâmico que se originou na província de Khorasan, no leste do Afeganistão, conhecida como ISIS-K.
Este grupo opera principalmente no Afeganistão e em partes da Ásia Central — e seu nome remete a um antigo termo para a região.
Está entre os braços regionais mais capazes e ativos do Estado Islâmico — e foi responsável por ataques suicidas mortais no aeroporto de Cabul, capital afegã, durante a caótica retirada dos EUA em agosto e setembro de 2021.
Eles criticam frequentemente o presidente Vladimir Putin em seu material de propaganda.
*Com informações de Graeme Baker e Robert Greenall;
Fonte: correiobraziliense
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