O Departamento do Comércio dos Estados Unidos divulgou, na sexta-feira (29/3), o indicador mais importante para as métricas de inflação. O índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) apresentou aumento de 0,3% em fevereiro, com leve desaceleração em relação ao dado de janeiro (0,4%), conforme o centro de análises econômicas (BEA, na sigla em inglês).
O índice de preços PCE, divulgado pelo Departamento de Comércio, é o preferido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). No acumulado do ano, os preços ao consumidor aceleraram 2,5%, em fevereiro, contra 2,4% em janeiro.
Contudo, esses indicadores estavam em linha com as expectativas do mercado e os analistas, que previam os números com precisão, de acordo com o economista-chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus. "Os dados vieram dentro do esperado e, portanto, não devem preocupar muito o Fed", destacou. Ele lembrou que o PCE é um indicador mais relacionado ao consumo das famílias e à expansão da renda e, por isso, é mais abrangente, porque é utilizado como deflator do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), equivalente ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Brasil, mede a inflação oficial e está vindo mais forte do que o PCE, lembraram os analistas. Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, apontou que, embora o índice de preços do PEC tenha vindo em linha com as expectativas, o núcleo dos dois indicadores ainda preocupa, especialmente a inflação de serviços, que continua bem acima da meta de 2%.
"Apesar de uma leve desaceleração em fevereiro, no acumulado do ano, a inflação de serviços segue acima da meta e próximo a 4%, em 3,8%, para ser específico", alertou Nobre. Contudo, ele reconheceu que essa leve desaceleração em fevereiro "deve trazer um certo alívio para os mercados que estavam com medo de que a inflação de serviços fosse mostrar uma reaceleração mais persistente".
Ele lembrou também que, em comparação com o CPI, o núcleo da inflação ainda está mais forte, de 0,47%, em fevereiro, enquanto o PCE registrou variação positiva de 0,18%. "Foi uma surpresa positiva nesse índice, que é o componente final do processo de inflação que o Banco Central está acompanhando muito de perto. Portanto, essa leitura é de uma composição relativamente benigna para a inflação. Mas, continuamos aqui com uma visão um pouco mais cética para desinflação de serviços nos EUA. Isso porque quando a gente vai olhar as variações mensais dos últimos seis meses, nas médias móveis, ainda há uma aceleração, porque o mercado de trabalho está bastante apertado nos EUA."
Nobre contou que a XP mantém a previsão de que o Fed deverá começar a cortar os juros apenas em julho, "que é uma reunião depois do que o mercado está precificando". "Isso porque nós achamos que os dados ainda vão continuar vindo fortes e a atividade econômica dos EUA continua bastante resiliente e o mercado de trabalho também continua apertado. Então, o risco maior é cortar os juros mais cedo do que esperar um pouco mais", afirmou.
O Fed vem insistindo que tem como objetivo fazer com que a inflação volte para a meta de 2% ao ano até 2026. E, apesar de mais um dado de inflação comportada, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou preocupação com a trajetória fiscal do país e deu sinais de que o BC norte-americano ainda deve demorar para reduzir os juros.
Ele disse ontem, em um evento institucional, que a situação "não está no caminho sustentável", mas ressaltou que os dirigentes do banco central utilizarão a independência da política monetária para o cumprimento do duplo mandato do Fed. "Faremos o que for preciso com nossas ferramentas de política monetária para garantir estabilidade da inflação e do emprego, assumindo que autoridades cuidarão da parte deles."
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