O Banco Central vendeu todos os 20 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão extraordinário nesta terça-feira (2/4), totalizando US$ 1 bilhão. O valor total obtido pela autoridade monetária com as vendas já havia sido veiculado ontem (1º) pela autarquia e tinha como objetivo a manutenção do funcionamento regular do mercado de câmbio, impactado pela alta do dólar, que chegou a R$ 5,06 hoje.
O leilão foi a primeira intervenção da autarquia no mercado de câmbio desde o fim de 2022. O motivo principal para a venda dos contratos foi para suprir a demanda ocasionada pelo resgate do título NTN-A3, que vence no próximo dia 15.
A NTN-A3 é um título público indexado ao dólar. Mesmo não sendo negociado há anos pelo Tesouro Nacional, ainda está presente nas carteiras de várias instituições brasileiras. Daqui a duas semanas, vencerão R$ 18,534 bilhões desse título que foram negociados ainda em 1997. Na cotação atual, o valor é equivalente a cerca de US$ 3,6 bihões a 3,7 bilhões.
Devido ao fato de a NTN-A3 estar diretamente atrelada à moeda norte-americana, a venda do título público em leilão equivale, em valores, à comercialização de dólares no mercado futuro. Nesta terça, foram vendidos 4 mil contratos de swap com início em 15 de abril e vencimento em 2 de janeiro de 2025. Já os outros 16 mil contratos vendidos também têm início na mesma data, mas vencem daqui a um ano, em 1° de abril de 2025.
O chamado swap cambial é uma prática que ocorre desde o século passado e consiste em promover, simultaneamente, a troca de taxas ou rentabilidade de ativos financeiros entre agentes econômicos. No Banco Central do Brasil, tem como objetivo proteger o real contra desvalorizações excessivas em relação ao dólar.
Em um contrato dessa natureza, o BC se compromete a pagar ao detentor do swap a variação da moeda dos EUA somada a uma taxa de juros, chamada "cupom cambial", e a receber a variação da Selic, taxa básica de juros, no mesmo período. Por conta disso, mesmo tendo que pagar o valor da taxa, quem vende o contrato fica protegido diante de possíveis oscilações do dólar.
O mestre em Economia pela Unicamp Murilo Viana explica que não é comum que o BC realize intervenções para conter movimentos do mercado financeiro. Apesar disso, o especialista ressalta que a prática do swap ganhou força nos últimos anos, e que, desta vez, a instituição percebeu uma "flutuação suja" do câmbio, devido a fatores que incidem diretamente sobre o mercado.
“O Banco Central tem, grosso modo, duas formas de agir. Ou ele entra ofertando mais dólar do que ele tem de reserva e gastando reserva, ou, sem gastar as reservas internacionais, ele entra no mercado oferecendo um ativo financeiro que ameniza a demanda por dólar do mercado (no caso do swap)”, explica.
Caso houvesse um movimento contrário — ou seja, de valorização da moeda brasileira —, o Banco Central poderia agir de outra maneira para controlar a variação cambial brusca, como explica o doutor em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Benito Salomão.
“Se o movimento contrário tivesse acontecendo, o BC poderia intervir comprando dólares e ampliando as suas reservas para poder estabilizar a cotação do dólar. Então, é basicamente isso que o Banco Central está fazendo. Ele está usando as reservas internacionais para estabilizar a cotação do dólar”, enfatiza o especialista.
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