Nas três últimas décadas, a expectativa de vida global aumentou 6,2 anos, segundo um estudo publicado na revista The Lancet. A redução de mortes associadas às principais causas de óbito no mundo, incluindo doenças cardiovasculares, diarreia e infecções respiratórias, contribuíram para o progresso, apontam os autores, do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME), da Universidade de Washington. A pandemia da covid-19, porém, atrapalhou o avanço em alguns países, destaca o artigo — na América Latina e no Caribe, o Sars-CoV-2 liderou o ranking de mortalidade em 2021.
Entre 1990 e 2021, Sudeste e Leste Asiático, além de Oceania, tiveram o maior ganho: 8,3 anos. A redução na mortalidade por doenças respiratórias crônicas, acidente vascular cerebral, câncer e infecções respiratórias do trato inferior foram os responsáveis pelo aumento na expectativa de vida. Os autores atribuem à "forte gestão da pandemia" o fato de a covid não ter impactado a métrica nessas regiões.
Pela primeira vez em 30 anos, as cinco principais causas de morte foram "alteradas radicalmente" devido à pandemia, relata o estudo. Globalmente e puxado para baixo pela América Latina, o Caribe e a África Sub-Saariana, o acidente vascular cerebral (AVC) deixou o segundo lugar no ranking de óbitos, ficando atrás da covid em 2021. Essas foram as regiões onde houve mais perda de expectativa de vida associada ao Sars-CoV-2.
Segundo o estudo, em três décadas, a queda da mortalidade por doenças entéricas foi o que mais contribuiu para elevar a expectativa de vida em todas as super-regiões — Europa Central, Leste Europeu e Ásia Central; países de renda alta, América Latina e Caribe; Norte da África e Oriente Médio, Sul da Ásia, Sudeste Asiático, Leste Asiático e Oceania, e África Sub-Saariana.
Menos óbitos por enfermidades entéricas, que incluem diarreia e febre tifoide, aumentaram em 1,1 ano a esperança de vida ao nascer. Já a redução de mortes por infecções respiratórias inferiores acrescentaram 0,9 ano à expectativa global em três décadas. Os autores também destacam o progresso na prevenção da mortalidade por AVC, doenças neonatais, doenças cardiovasculares e câncer.
"Nosso estudo apresenta uma imagem diferenciada da saúde mundial", disse, em nota, Liane Ong, coautora do estudo e cientista-chefe de pesquisa do IHME. "Por um lado, vemos as conquistas monumentais dos países na prevenção de mortes por diarreia e acidente vascular cerebral", disse ela. "Ao mesmo tempo, vemos o quanto a pandemia da covid-19 nos atrasou."
Regionalmente, a África Subsariana Oriental registrou o maior aumento na esperança de vida: 10,7 anos entre 1990 e 2021. O controle das doenças diarreicas foi a principal força por trás das melhorias nessa porção do continente. A Ásia Oriental ficou em segundo lugar em anos ganhos, um progresso atribuído ao combate à doença pulmonar obstrutiva crônica.
O estudo também analisa como os padrões de doenças mudaram entre locais ao longo do tempo. "Isso fornece oportunidade para aprofundar a nossa compreensão da redução da mortalidade, revelando estratégias de intervenções de saúde pública bem-sucedidas", diz o artigo.
Segundo o estudo, em 2021, as mortes por doenças entéricas concentraram-se em grande parte na África Subsariana e no Sul da Ásia. "Já sabemos como evitar que as crianças morram de infecções entéricas, incluindo doenças diarreicas, e o progresso no combate a esta doença tem sido tremendo", comenta Mohsen Naghavi, coautor do estudo. "Agora, precisamos nos concentrar na prevenção e tratamento destas doenças, no fortalecimento e expansão dos programas de imunização e no desenvolvimento de vacinas totalmente novas contra E. coli, norovírus e Shigella (bactéria intestinal)", acrescenta.
O estudo também destaca que doenças não transmissíveis, como diabetes e enfermidades renais, estão aumentando em todas as regiões do globo. Embora reconheçam progresso no combate a problemas cardiovasculares e câncer em países de renda alta, os autores ressaltam que há desigualdade na redução da mortalidade por essas causas.
"A comunidade global deve garantir que as ferramentas que salvam vidas e que reduziram as mortes por doenças cardíacas isquêmicas, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças não transmissíveis na maioria dos países de rendimento elevado estejam disponíveis para pessoas em todos os países, mesmo onde os recursos são limitados", defende Eve Wool, autora sênior do estudo.
Segundo Thais Pinheiro Lima, cardiologista e especialista em tomografia e ressonância cardiovascular pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a gravidade de doenças que afetam o coração e o sistema circulatório pode ser combatida com o diagnóstico precoce, o que reduz bastante a mortalidade por essas causas.
"Quanto mais cedo identificamos o problema, maior a chance de controlá-la por meio de um tratamento clínico otimizado, ajustando a medicação da forma correta, orientando e garantindo o acompanhamento com regularidade. Temos diversas pesquisas reforçando que, quando bem orientado, o paciente tem chances de viver muito melhor e com a saúde sob controle. A chance de um desfecho grave, com infarto ou óbito, diminui significativamente", diz.
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