22 de Novembro de 2024

As explicações de Israel para os ataques a civis que estremeceram relação com os EUA


Israel anunciou nesta sexta-feira (5/4) que demitiu dois oficiais de alto escalão depois que sete agentes humanitários da entidade de assistência World Central Kitchen (WCK) foram mortos em um ataque em Gaza na segunda-feira.

A investigação das Forças de Defesa de Israel (IDF) sobre o incidente diz que alguns agentes sobreviveram aos ataques aéreos iniciais, mas foram mortos quando um terceiro carro foi atingido.

Israel disse no início desta semana que o incidente foi um "grave erro" e prometeu tomar "medidas imediatas" para garantir maior proteção aos trabalhadores humanitários em Gaza.

O incidente abalou as relações de Israel com aliados tradicionais como os Estados Unidos — e também com outros países da comunidade internacional. O Conselho de Segurança da ONU aprovou esta semana um pedido de cessar-fogo imediato em Gaza.

As IDF divulgaram nesta sexta-feira uma declaração sobre as conclusões de sua investigação inicial.

Israel afirma que o incidente "não deveria ter ocorrido" e foi um "erro grave decorrente de uma falha grave devido a uma identificação equivocada, erros na tomada de decisão e um ataque contrário aos Procedimentos Operacionais Padrão".

"As conclusões da investigação indicam que o incidente não deveria ter ocorrido", diz o comunicado das IDF.

"Aqueles que aprovaram o ataque estavam convencidos de que o alvo era agentes armados do Hamas e não funcionários da WCK."

O comunicado dá mais detalhes sobre os dois oficiais superiores que foram demitidos e outros três que foram repreendidos.

Segundo a note, o comandante da brigada de apoio e o chefe do Estado-Maior da brigada serão ambos demitidos de seus cargos.

Israel diz que outro comandante da brigada e o comandante da 162ª divisão serão "formalmente repreendidos". O comandante do comando sul será "formalmente repreendido pela sua responsabilidade geral pelo incidente", acrescenta o comunicado.

Israel afirmou que seus operadores de drones confundiram um trabalhador humanitário carregando uma sacola com um atirador e, em seguida, atacaram um dos veículos da WCK com um míssil.

O governo afirma que duas pessoas escaparam do veículo e entraram em um segundo carro, que foi atingido por outro míssil disparado por um drone.

Os militares israelenses afirmam que os sobreviventes da segunda explosão conseguiram entrar em um terceiro veículo que também foi atingido por um míssil. No final da operação, todos os trabalhadores humanitários foram mortos.

O inquérito inicial, realizado por um major-general reformado, Yoav Har-Even, descobriu que a unidade militar envolvida acreditava que os veículos que eles rastreavam com drones tinham sido tomados por homens armados do Hamas.

As IDF também disseram que a unidade não sabia que os carros pertenciam à instituição de caridade e que os três ataques aéreos violaram os próprios procedimentos do exército.

Segundo o relatório do governo de Israel, os trabalhadores humanitários supervisionavam a distribuição de ajuda alimentar que havia chegado em um navio vindo de Chipre e descarregada em um cais recentemente construído no norte da Faixa de Gaza.

Em coordenação com as IDF, a equipe da WCK estava transferindo a ajuda humanitária para um armazém alguns quilómetros mais ao sul, dizem os militares.

Durante este processo, as IDF afirmam que os seus operadores de drones avistaram um homem armado no topo de um grande caminhão de ajuda humanitária, que estava sendo escoltado pela equipe do WCK.

Um vídeo exibido a jornalistas mostra o atirador disparando um tiro. Os militares disseram ter tentado falar com a WCK, mas não conseguiram contato porque as agências humanitárias são proibidas pelas IDF de usar rádios.

As FDI disseram que acompanharam os movimentos do comboio, que entrou em um depósito.

Neste ponto, o comboio se dividiu. O caminhão de ajuda humanitária ficou no depósito, e dali surgiram quatro carros do tipo SUV. Um desses veículos dirigiu-se para o norte. Imagens mostram que esse veículo tinha homens armados.

As IDF afirmam que estes homens armados não foram alvos, devido à sua proximidade de um centro de ajuda humanitária.

Enquanto isso, os três veículos restantes, que pertencem à World Central Kitchen, seguiram para o sul.

A equipe de drones supôs que se tratavam de militantes do Hamas, e não de um comboio de ajuda humanitária.

Nenhuma filmagem deste momento foi fornecida, mas a investigação militar concluiu que ocorreu um “erro de classificação” — operadores confundiram uma bolsa com uma espingarda.

Com a ideia equivocada de que o veículo continha um atirador, foi pedida autorização para disparar um míssil. O pedido foi concedido por oficiais superiores. Às 23h09, o primeiro veículo é atingido. Dois minutos depois, o segundo. E às 23h13 é lançado o terceiro e último ataque que matou os agentes humanitários, dizem as IDF.

A WCK e outras agências humanitárias interromperam as suas operações em Gaza, onde a ONU estima que 1,1 milhões de pessoas – metade da população – enfrentam uma fome catastrófica.

A WCK reagiu à demissão dos oficiais israelenses nesta sexta-feira.

Em uma nota, a executiva-chefe da WCK, Erin Gore, disse que as desculpas das IDF pelo "assassinato ultrajante de nossos colegas representam pouco conforto" para as famílias e instituições de caridade das vítimas.

"Israel precisa tomar medidas concretas para garantir a segurança dos trabalhadores humanitários. As nossas operações continuam suspensas", disse ela.

Segundo a ONU, quase 200 trabalhadores em missões humanitárias foram mortos em Gaza até o momento.

Israel afirmou que aprovou a abertura de duas rotas para Gaza para entregas de ajuda humanitária – incluindo a passagem de Erez e o porto de Ashdod. Mais ajuda da Jordânia também poderá entrar através da passagem Kerem Shalom.

O ataque provocou fortes reações na comunidade internacional. Na primeira conversa por telefone desde o ataque aos agentes humanitários, o presidente americano Joe Biden disse ao premiê israelense Benjamin Netanyahu que o apoio dos EUA a Israel dependerá de medidas tomadas para "resolver os danos civis" em Gaza.

Na segunda-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução inédita pedindo "cessar-fogo imediato" em Gaza. A resolução foi aprovada em um momento em que os Estados Unidos mudaram de posição sobre o tema e se abstiveram de votar.

O texto também exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns mantidos pelo Hamas. O órgão estava em um impasse desde o início da guerra, em outubro, fracassando repetidamente em chegar a acordo sobre um pedido de cessar-fogo. A ação dos EUA sinaliza uma divergência crescente entre eles e seu aliado Israel sobre a ofensiva do país em Gaza.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução exigindo a suspensão da venda de armamentos a Israel, na primeira iniciativa do tipo durante o conflito em Gaza que já custou mais de 30 mil vidas.

Analistas dizem que o assassinato de trabalhadores humanitários estrangeiros em Gaza poderá finalmente esgotar a paciência considerável dos aliados de Israel, liderados pelos Estados Unidos. Israel e o Egito proibiram jornalistas estrangeiros de entrar em Gaza, exceto em visitas ocasionais a militares israelenses, em situações altamente controladas e breves.

Em comunicado, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak exigiu uma investigação transparente do ocorrido e disse que a situação em Gaza está ficando intolerável. Dentre os sete trabalhadores humanitários mortos no ataque há três cidadãos britânicos.

Na quinta-feira, o governo brasileiro também repudiou a ação de Israel.

“O governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, de ataque aéreo israelense, ocorrido em 1º de abril, na região de Deir el-Balah, na Faixa de Gaza, no qual sete trabalhadores da ONG humanitária World Central Kitchen (WCK) foram mortos”, diz a nota do Itamaraty.

“Deplora também as mortes de civis e trabalhadores de saúde palestinos e os danos causados por ação militar das últimas semanas, que resultou na destruição do hospital Al-Shifa, em contexto no qual a assistência médica à população de Gaza é fundamental.”

“O Brasil lamenta que mais de 200 agentes humanitários tenham sido mortos na Faixa de Gaza desde outubro de 2023. Esse número é o maior da história da ONU e representa, em menos de seis meses de conflito, quase três vezes mais vítimas entre trabalhadores humanitários do que jamais registrado em um único conflito, no período de um ano”, acrescentou o comunicado.

Fonte: correiobraziliense

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