Peter Higgs, o homem que previu uma partícula que pode explicar a expansão do Universo, morreu em casa na segunda-feira, aos 94 anos, anunciou ontem a Universidade de Edimburgo. A causa da morte não foi divulgada, mas, segundo o jornal The New York Times, trata-se de uma enfermidade sanguínea.
Nobel de física em 2013, o cientista britânico previu a existência de uma partícula batizada com seu nome, o bóson de Higgs. Para seu desgosto, foi apelidada de "partícula de Deus" pela mídia popular, o que atribuiu, erroneamente, um caráter espiritual à descoberta.
Em 1964, quando era professor da Universidade de Edimburgo, ele propôs a existência de um elemento-chave da estrutura fundamental da matéria, que atribui massa a todas as demais. Quase 50 anos depois, em 2012, a teoria foi comprovada em um experimento no acelerador de partículas do Laboratório Europeu para a Pesquisa Nuclear, o Cern, na Suíça.
"Peter Higgs foi um indivíduo notável — um cientista verdadeiramente talentoso cuja visão e imaginação enriqueceram o nosso conhecimento do mundo que nos rodeia", disse, em nota, Sir Peter Mathieson, diretor e vice-chanceler da Universidade de Edimburgo. "O seu trabalho pioneiro motivou milhares de cientistas e o seu legado continuará a inspirar muitos mais nas gerações vindouras."
"Que notícia triste", reagiu Alan Barr, professor de física na Universidade de Oxford. "Da mente do professor Higgs surgiram ideias que tiveram um impacto profundo na nossa compreensão do universo, da matéria e da massa. Ele propôs a existência de um campo que permeia todo o universo, cuja massa abrange desde os elétrons até os quarks superiores", comentou. Barr também destacou que Higgs foi "um verdadeiro cavalheiro, humilde e educado, sempre dando o devido crédito aos outros e encorajando gentilmente as futuras gerações de cientistas e acadêmicos".
Nascido em 29 de maio de 1929 em Newcastle, no norte da Inglaterra, Higgs fez doutorado no King's College de Londres e era titular de vários diplomas honoríficos. Porém, era conhecido pela modéstia.
"Ele foi uma figura imensamente inspiradora para os físicos de todo o mundo, um homem de uma modéstia pouco comum, um grande professor e alguém que explicava a física de uma forma muito simples, mas profunda", disse, em nota, a diretora-geral do Cern, Fabiola Gianotti.
Curiosamente, primeiro artigo que Higgs escreveu sobre o bóson foi rejeitado pela revista especializada Physics Letters, à época editada pelo Cern, que depois comprovaria a teoria. Logo depois, Higgs publicou uma versão mais elaborada nos Estados Unidos.
O cientista deixa a mulher, Jody Williamson, com quem estava casado desde 1963, e dois filhos.
"Peter Higgs será sempre lembrado pelo bóson que leva seu nome — partícula elementar fugidia que ajuda a explicar como todas as outras ganham suas massas. Era a peça final que faltava para completar o chamado Modelo Padrão da Física de Partículas, arcabouço baseado na mecânica quântica que estabelece as regras de funcionamento de todo o mundo subatômico, com suas partículas e forças (excluída apenas a gravidade). Peter Higgs não foi o único a ter a ideia para o mecanismo que gera as massas das partículas, mas foi o primeiro a sugerir a existência de uma partícula associada ao campo responsável por isso. E foi graças a isso que, em 2012, o LHC, maior acelerador do mundo, pôde descobri-la, e confirmar a correção da teoria. Sua contribuição marca o fim de uma era na física, com a consolidação definitiva do Modelo Padrão, e agora abre espaço para o que há além dele — ainda há mistérios a compreender, que transcendem o que está contido nele, como a matéria escura, a energia escura, e uma possível integração da relatividade geral com a mecânica quântica."
Salvador Nogueira,
divulgador científico e escritor
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