Brasilândia (MS) — Tecidos com estampas coloridas de animais, natureza e grafismos indígenas enchem a sala das artesãs da tribo Ofaié, localizada em Brasilândia, no Mato Grosso do Sul (MS). Cerca de 30 mulheres realizam esse trabalho, desde 2010, para vender na região. A comunidade foi escolhida para ser a primeira a cursar a adaptação indígena da metodologia Empretec, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), e aplicada pelo Sebrae. O curso de formação termina neste sábado (13/4).
Durante seis dias, as artesãs da aldeia Olfaié tiveram aulas de 8h às 18h sobre como vender mais, qual é a melhor forma de portar-se diante de clientes e quais técnicas e ferramentas podem auxiliar nas vendas. Além disso, elas passaram por um processo de valorização do próprio trabalho e do reconhecimento como empreendedoras.
“Como sou eu quem levo para a divulgação nas feiras, eles acreditavam que era meu. E eu falo que não é meu, é o trabalho de um grupo de mulheres indígenas, tem uma monte de pessoas atrás de todo esse trabalho”, conta Ramona Coimbra Pereira, 40 anos, liderança das artesãs. De acordo com ela, até então, as outras mulheres não participavam das vendas e, agora, com o curso, estão tomando coragem e participando mais de todo o processo.
“Nem elas acreditaram em tudo aquilo que elas fizeram. Fizeram, aprenderam, estão correndo atrás. Estão super felizes”, afirma a vice-cacique sobre a feira de vendas que ocorreu na quarta-feira (10/4), em que o grupo vendeu os seus artesanatos na cidade.
Leia de Souza Eliandres, 26 anos, está entre as artesãs da turma e conta como aprendeu o ofício. “Eu comecei depois de grande. Foi aqui, com as meninas, que eu comecei. Eu achava muito bonito, quis aprender porque eu achei lindo”, relembra a indígena.
Leia de Souza Eliandres, 26 anos, está entre as artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul
Divulgação/Sebrae MS
Ramona Coimbra Pereira, de 40 anos, liderança das artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul
Divulgação/Sebrae MS
Artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul, passaram seis dias aprimorando as vendas de seus trabalhos
Divulgação/Sebrae MS
Artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul, passaram seis dias aprimorando as vendas de seus trabalhos
Divulgação/Sebrae MS
Ramona Coimbra Pereira, de 40 anos, liderança das artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul
Mayara Souto/CB/D.A.Press
Ramona Coimbra Pereira, de 40 anos, liderança das artesãs da tribo Ofaié, no Mato Grosso do Sul
Mayara Souto/CB/D.A.Press
As aulas fazem parte da metodologia Empretec, que pretende formar empreendedores em todo mundo. Atualmente, o seminário é ofertado em 40 países. No Brasil, o Sebrae aplica o método, considerando a realidade local do país. Por isso, foi criado o Empretec Rural, para trabalhadores do campo e, agora, o indígena, iniciado nesta semana.
“Nós não tínhamos nenhum programa assim até então. A metodologia foi desenvolvida para o meio urbano e, alguns anos atrás, foi adaptada para o meio rural. E, desta, adaptamos para as comunidades indígenas. Elas já tinham ideia de produto, faziam artesanato e, agora, estamos dando escala e tamanho, de como vender, trabalhar, organizar empresa, onde vender. Além disso, vai ter assessoria por um tempo para ganhar mercado”, comenta Cláudio Mendonça, diretor-superintendente do Sebrae/MS.
Segundo a entidade, a escolha dos Ofaié se deu por eles já terem uma “veia” de empreendedorismo. A próxima tribo que receberá o curso é a Terena, também no Mato Grosso do Sul — o estado do Centro-Oeste é o terceiro do país com maior população indígena, com mais de 116 mil indivíduos, segundo o IBGE.
O artesanato era comum na tribo Ofaié até os anos 60, quando eles foram expulsos de seu território. Com promessa de terras melhores, eles foram levados a outra região. No local, havia conflitos por terra e escassez de alimentação. Por isso, a grande maioria morreu.
De acordo com a tribo, os Ofaié chegaram a ser 2,2 mil indígenas; atualmente, são apenas 128. A etnia é única no mundo inteiro.
Desde a década de 1990, quando conseguiram recuperar suas terras em Brasilândia, tentam recuperar também a própria cultura, com danças, revitalização da língua materna Ofaié e artes em tecidos.
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