Yerevan — A capital da Armênia, se prepara para lembrar o 109º aniversário do início do genocídio que dizimou 1,5 milhão de 2,7 milhões de armênios, destruiu a cultura e expropriou a identidade nacional de um povo marcado por perseguições, massacres, deportações forçadas.
A cidade de pouco mais de 1 milhão de habitantes é a própria tradução do povo armênio, simbolizada pela resiliência. Ainda que as barbáries cometidas pelo Império Turco-Otomano, há mais de um século, sejam uma ferida aberta, Yerevan ressurgiu de uma história de tragédias e de 14 invasões.
De avenidas largas, calçadas e praças arborizadas, parques repletos de passarinhos e corvos, Yerevan respira arte e cultura. Ao caminhar pelas ruas, é possível deparar com esculturas de artistas famosos, como o colombiano Fernando Botero; encontrar homenagens e referências a nomes consagrados da música, como Charles Aznavour e Aram Khachaturian; se surpreender com anônimos expondo suas telas na Praça França, onde uma imensa estátua de mármore em peça única celebra MartirosSaryan, o mais famoso pintor armênio. A mesma praça receberá um busto de Aznavour em breve.
O resgate da identidade nacional é motivo de orgulho para o povo da Armênia, que se reergueu, apesar do trauma do genocídio e do medo de conflitos no Cáucaso Norte.Em confronto com o Azerbaijão, que invadiu o enclave de Nagorno-Karabakh e forçou a expulsão de 110 mil cidadãos, a Armênia também enfrenta a ameaça constante da Turquia, aliada de Baku e vizinha que jamais reconheceu o genocídio armênio.
Pelas ruas de Yerevan, é possível se surpreender com estátuas e esculturas que "surgem" do nada e convidam à reflexão
Rodrigo Craveiro/CB/D.A.Press
Armênios jogam cartas sobre tabuleiro de xadrez, outro esporte considerado paixão nacional
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Obras de pintores anônimos expostas diante da estátua de Martiros Saryan, o mais famoso nome da pintura armênia
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Obra do colombiano Fernando Botero exposta diante do Complexo Cascade, mistura de jardim suspenso e galeria de arte
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Praça da República, onde uma estátua de Lênin foi derrubada após o colapso da União Soviética, marcando uma nova era
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Prédio do Ministério das Finanças, na Praça da República, com iluminação que se tornou marca registrada do coração de Yerevan
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Nem a complexidade geopolítica regional é um obstáculo para os armênios, na busca de um futuro de paz e de harmonia. Assim como o passado de tragédias e de fugas constantes não apagou o modo positivo de viver. Yerevan transpira vida. Nas praças de Yerevan, pais passeiam com suas crianças; na boulevard Northern Avenue, jovens e famílias se divertem em cafés e sorveterias, enquanto artistas de rua se apresentam até tarde da noite. A fonte da praça do Moscow Cinema, um dos resquícios da era soviética, também atrai casais e filhos, além de turistas.
O Cascade, na parte mais alta da cidade, é outro convite para saborear a cultura. Além de um jardim suspenso, com 571 degraus e 118m de inclinação, o Cascade é um complexo de galerias de obras de arte expostas ao ar livre ou nos pavilhões do monumento.
Em um dos montes que se erguem sobre a cidade, no lado oposto do Ararat, a estátua da Mãe Armênia pode ser vista de vários pontos, fazendo alusão à paz obtida por meio da força. Em 1962, a peça foi colocada no lugar de uma estátua gigante do ex-líder soviético Joseph Stálin. Sinal dos novos tempos.
O repórter viajou a convite da União Geral Armênia de Beneficiência (UGAB Brasil)
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