22 de Novembro de 2024

Países não cumpriram metade dos compromissos climáticos firmados na COP15 


Há 15 anos, a tão aguardada Conferência do Clima de Copenhague (COP15) terminava em decepção para quem aguardava um acordo climático ambicioso, para suceder o Protocolo de Kyoto. Embora o texto da COP15 tenha ficado longe do esperado por cientistas, diplomatas e ambientalistas, dali saiu um esboço do histórico Acordo de Paris, de 2015, com promessas dos países industrializados de redução das emissões de dióxido de carbono.

Em uma década e meia, porém, 19 de 34 nações desenvolvidas economicamente que participaram do encontro não assumiram integralmente seus compromissos para 2020, retardando o avanço de uma das agendas mais importantes do globo.

Uma análise inédita de pesquisadores da Universidade College London, no Reino Unido, e da Universidade de Tsinghua, na China, avaliou as emissões líquidas reais de carbono com as metas de redução prometidas em 2009 na capital da Dinamarca. Quinze países, incluindo o segundo maior emissor mundial de CO2 — Estados Unidos — cumpriram as metas para 2020; sete as alcançaram parcialmente e 12, como Japão e Austrália, falharam completamente.

Os autores ressaltam que o estudo avalia compromissos assumidos na COP15, e não na de Paris. Essa última, seis anos depois, estabeleceu um quadro global mais ambicioso e abrangente, com a criação das contribuições nacionalmente determinadas (CDN), ampliando as metas de redução também para países em desenvolvimento e nações mais pobres, todas dentro de suas realidades internas.

Porém, falhas nos objetivos de Copenhague impactam diretamente o acordo da capital francesa, sustenta o artigo, publicado na revista Nature Climate Change. "A nossa preocupação é que os países que lutaram para cumprir o seu compromisso a partir de 2009 provavelmente encontrarão dificuldades ainda mais substanciais para reduzir as emissões", nota Jing Meng, autora principal e pesquisadora da Escola de Construção Sustentável Bartlett, da Universidade College Londres.

Sete países avaliados (veja quadro) foram nomeados como grupo intermédio pelos pesquisadores — reduziram as emissões de carbono dentro de suas fronteiras, mas, em parte, praticaram a chamada fuga ou transferência de carbono. Trata-se de uma terceirização da produção dos gases poluentes, com deslocamento das indústrias para outros países, uma preocupação crescente, à medida que os signatários do acordo climático são instados, cada vez mais, a cumprir novas metas líquidas zero (o equilíbrio entre o que se lança e se reduz da atmosfera).

Para monitorar a fuga de carbono, os pesquisadores utilizaram um método baseado no consumo, que permite um cálculo mais abrangente das emissões totais de CO2 e outros gases de efeito estufa. Assim, a ferramenta conta não só com as liberações domésticas, mas inclui a pegada de carbono de bens importados, fabricados no exterior. Por exemplo, um país europeu com indústria na Ásia assume a conta dos poluentes produzidos na nação asiática.

"É importante conseguirmos rastrear completamente as emissões de carbono, mesmo quando são offshore, e fazemos isso graças às análises baseadas no consumo", explicou Jing Meng. "Essas metas foram estabelecidas em 2009, na COP15, em Copenhague. Na ocasião, apesar de não terem conseguido chegar a um acordo global abrangente, países individuais em todo o mundo estabeleceram as suas próprias metas individuais de redução de emissões", lembra a especialista.

Isso significou que os objetivos estabelecidos variaram amplamente. Desde o compromisso modesto, mas bem-sucedido, da Croácia, de reduzir as emissões de carbono em 5% até 2020, ao relativamente mais ambicioso, porém falho, da Suíça, que prometeu e não cumpriu uma diminuição de 20% a 30%, com base nos dados de 1990.

O estudo sobre o cumprimento de metas da COP15 também destaca as disparidades entre os diferentes pontos de partida dos países. Embora quatro nações da Europa Oriental — Estônia, Lituânia, Letônia e Romênia — tenham conseguido atingir os seus objetivos, os pesquisadores salientam que isso se deve, principalmente, ao fato de que, no início dos anos 1990, esses ex-membros da extinta União Soviética terem tecnologias obsoletas e altamente ineficientes do ponto de vista energético. Como foram deixadas de lado mais recentemente, pode parecer que essas nações se empenharam mais do que o fizeram, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, os pesquisadores alertam que os países que mais lutaram para cumprir os seus objetivos da COP15 provavelmente enfrentarão desafios ainda maiores no futuro. Isso porque enfrentam uma procura ainda maior de energia limpa, à medida que as suas economias se expandem e se desenvolvem. Dabo Guan, professor da Universidade College Londres e coautor do estudo, explica que, no caso dos países que cumpriram suas metas, o principal fator envolvido foi o aumento da quantidade de energia limpa produzida. Essas nações abandonaram o carvão e buscaram maior eficiência energética", sustenta. "Reduzir as emissões é fundamental para combater a crise climática em curso. Para tal, é imperativo que tenhamos um cálculo preciso das emissões", destaca.

Para Jing Meng, principal autora da pesquisa, é necessário expandir a transferência de tecnologia, para evitar que, ao se desenvolver para níveis que define como "dignos", países mais pobres não avancem nas emissões. "Países com baixas emissões e baixos rendimentos também precisam de ser capazes de continuar a fazer crescer suas economias. Não se trata apenas de cortar emissões, trata-se de compartilhar tecnologias. Já foi dito tantas vezes que o mundo precisa compartilhar e desenvolver tecnologias juntos. Isso precisa ser feito", ressalta a especialista.

Não cumpriram

Austrália, Áustria, Canadá, Chipre, Irlanda, Japão, Países Baixos, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha e Suíça.


Grupo intermediário

Bélgica, República Checa, França, Hungria, Luxemburgo, Malta e Polônia.

Cumpriram

Bulgária, Croácia, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Alemanha, Grécia, Itália, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.

Fonte: correiobraziliense

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