Enquanto decide a extensão do contra-ataque militar ao Irã, Israel lançou ontem uma ofensiva diplomática para tentar sufocar o arqui-inimigo com novas sanções econômicas. O ministro israelense de Relações Exteriores, Israel Katz, anunciou ter enviado cartas para 32 países solicitando medidas para atingir o projeto de mísseis da República Islâmica e para que o Corpo da Guarda Revolucionária seja declarado como uma organização terrorista.
“O Irã deve ser parado agora, antes que seja tarde demais”, disse o chanceler. Entre os países aos quais a solicitação política foi direcionada estão os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá, França, Itália, Índia e Austrália. De antemão, a secretária de Tesouro americana, Janet Yellen, assegurou que Washington “não hesitará” em intensificar as sanções contra Teerã.
O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, antecipou que já há planos de ampliá-las. Ameaças mútuas O anúncio de Katz detonou uma nova rodada de ameaças entre os dois países. Por meio de um comunicado divulgado por seu gabinete, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, disse que responderá “severamente” à “menor ação” do Estado judeu contra os interesses de Teerã. “Agora, declaramos firmemente que a menor ação contra os interesses do Irã provocará uma resposta severa, extensa e dolorosa contra todos os seus perpetradores”, destacou Raisi, na noite anterior, durante um telefonema ao emir do Qatar, Tamim ben Hamad Al Thani.
Durante a conversa, ao falar do ataque do fim de semana — o primeiro a partir do território iraniano contra Israel —, Raisi disse que Teerã exerceu “seu direito de autodefesa”. O lançamento de mais de 300 drones e mísseis foi, segundo o Irã, uma resposta ao assassinato, por Israel, de um general iraniano sênior em um edifício diplomático iraniano em Damasco, Síria. Israel não confirmou nem negou o envolvimento. O governo israelense, por sua vez, reiterou que haverá um revide militar. “Não podemos ficar com os braços cruzados ante tamanha agressão, o Irã não sairá impune”, afirmou o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari.
“Disparar 110 mísseis diretamente contra Israel não ficará impune. Responderemos no momento, no local e da forma que determinarmos”, acrescentou. Moderação O tom das declarações passa longe dos apelos por moderação do Ocidente, que teme uma escalada no Oriente Médio, onde Israel está em guerra com o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza há mais de seis meses. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, pediu na segundafeira à comunidade internacional para “permanecer unida” diante da agressão do Irã.
Mas os dirigentes das principais potências internacionais pedem cautela. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, indicou que Washington não vai participar de uma ação de represália, apesar de seu apoio inabalável a Israel. Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, advertiu a seu par e aliado iraniano que uma escalada no Oriente Médio teria “consequências catastróficas para toda a região”, segundo o Kremlin. No Reino Unido, o primeiro-ministro Rishi Sunak instou Netanyahu a agir com “sangue-frio” após o ataque. “Uma escalada significativa não redundaria em interesse de ninguém e só vai aprofundar a insegurança no Oriente Médio”, insistiu.
Para o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, o ataque iraniano é culpa de Netanyahu e sua “sangrenta administração”. Hezbollah Desde a fundação da República Islâmica, o Irã pede a destruição de Israel, mas até agora, havia evitado atacar Israel frontalmente. Os dois países travaram confrontos indiretos, em particular em operações que envolvem os aliados de Teerã, como o movimento libanês Hezbollah e os rebeldes huthis do Iêmen.
Ontem, o Hezbollah anunciou a morte de três de seus membros, entre eles o comandante Ismail Youssef Baz, em bombardeios israelenses no sul do Líbano, de onde o movimento xiita apoiado pelo Irã lançou ataques contra o norte de Israel. Segundo uma fonte próxima ao movimento libanês, Baz estava à frente da região de Nagura e participou “na promoção e no planejamento do disparo de foguetes e mísseis antitanques contra Israel”.
A Organização das Nações Unidas (ONU) lança, hoje, um apelo por US$ 2,8 bilhões (R$ 14,4 bilhões na cotação atual) em doações para ajudar a população palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ao longo deste ano. “Obviamente, 90% são para Gaza”, disse Andrea De Domenico, chefe do escritório humanitário da ONU nos Territórios Palestinos.
Segundo De Domenico, a programação para 2024 estava inicialmente fixado em US$ 4 bilhões (R$ 20,7 bilhões), mas foi reduzida devido à limitação do acesso de Israel à ajuda humanitária na região. Os valores arrecadados serão destinados a 3 milhões de pessoas identificadas na Cisjordânia e em Gaza. Poucos dias depois do ataque do Hamas contra Israel, em 7 de outubro do ano passado, e do início da ofensiva de retaliação israelense na Faixa de Gaza, a ONU organizou um pedido para enfrentar a emergência no valor de US$ 294 milhões (R$ 1,5 bilhão).
Em pouco tempo, o cálculo foi quadruplicado. Ontem, o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo movimento islamista palestino Hamas, anunciou que 33.843 pessoas morreram no enclave desde o início do conflito — o número de feridos é superior a 76,5 mil. Apenas entre segunda-feira e ontem, de acordo com o levantamento, foram 46 óbitos. Na segunda-feira, Israel libertou 150 prisioneiros palestinos capturados durante a sua ofensiva militar no enclave, de acordo com a autoridade que controla as passagens fronteiriças no estreito território.
“É claro que esses presos sofreram maus-tratos graves, porque alguns deles foram levados para o Hospital Abu Yusef al Najjar para serem tratados lá”, disse o porta-voz Hisham Adwan. O Exército israelense não comentou a libertação, mas afirmou que é “absolutamente proibido” maltratar prisioneiros.
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