O ataque do Irã a Israel no fim de semana e a mais recente resposta do governo de Benjamin Netanyahu a Teerã conduziu ao cenário que Joe Biden mais temia e que, por todos os meios, procurou evitar após o ataque do Hamas em 7 de outubro: uma escalada do conflito na região.
A corda-bamba em que o presidente dos Estados Unidos caminha na guerra entre Israel e Gaza tornou-se ainda mais tênue. Biden está tentando acalmar a situação e dissuadir o Irã, ao mesmo tempo que enfrenta pressão interna tanto de democratas como de republicanos sobre a relação do seu país com Israel.
Entretanto, qualquer acordo de cessar-fogo em Gaza está por um fio.
Há apenas duas semanas, parecia que a relação entre os Estados Unidos e Israel estava em apuros.
Biden não só expressou a sua frustração, mas também o seu aborrecimento pela falta de ajuda humanitária em Gaza e pela morte de sete voluntários em um ataque das Forças de Defesa de Israel.
O nível de desacordo foi tal que o governo dos EUA deixou claro que poderia reconsiderar a sua posição em relação a Israel, chegando mesmo ao ponto de suspender as exportações de armas.
Mas as ações do Irã durante o fim de semana e o ataque israelense desta sexta (19/4) parecem ter mudado o cenário.
O lançamento de mais de 300 mísseis e drones disparados contra Israel levou a uma ação militar conjunta EUA-Israel muito bem sucedida para defender o território israelense.
A ação coordenada parece ter reacendido alguma da antiga cordialidade. E a Casa Branca tentou tirar vantagem disso para influenciar a resposta de Israel.
As autoridades americanas nunca foram tão ingênuas a ponto de pensar que não haveria uma resposta, mas tentam calibrá-la de tal forma que possa ser vista como um ato de contenção.
Mas o sucesso militar conjunto do fim de semana também mascara uma mudança fundamental e preocupante na situação regional, segundo Dennis Ross, antigo enviado dos EUA à região com mais de 40 anos de experiência diplomática no Oriente Médio.
Teerã classificou sua ofensiva contra Israel como uma retaliação – o Irã havia prometido uma resposta depois de um ataque à sua representação diplomática em Damasco, na Síria, no início deste mês, que matou oficiais de alta patente.
O Irã culpa Israel, embora o país não tenha assumido a autoria.
Segundo Ross, essa ação de Teerã “reescreveu as regras” da relação entre Israel e o Irã, desestabilizando ainda mais uma situação que já era precária.
Durante anos, o Irã fortaleceu grupos aliados que juraram destruir Israel, financiando e armando grupos como o palestino Hamas e o militante xiita Hezbollah no Líbano.
Mas o sábado marcou a primeira vez desde a Revolução Islâmica de 1979 que o Irã lançou um ataque direto contra Israel.
As últimas 24 horas também assistiram o que já é considerado um ataque sem precedentes de Israel ao território israelense, segundo os próprios americanos.
Portanto, independentemente de como se interprete o sucesso da tecnologia militar que neutralizou efetivamente as ações do Irã, uma nova linha foi cruzada.
Isto, segundo Ross, significa que houve um “fracasso das medidas de dissuasão” em relação ao Irã.
Biden enfrenta agora um paradoxo desconfortável.
O presidente tem de baixar a temperatura com o Irã e, ao mesmo tempo, fazer com que Teerã entenda que as suas ações têm um custo.
Após o ataque de sábado, a Casa Branca deixou claro que não se juntaria a qualquer retaliação militar israelense contra o Irã, ao mesmo tempo que afirmava que o seu compromisso com a segurança de Israel permanecia "firme".
O envolvimento direto do Irã na atual guerra também torna mais difícil um acordo de cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.
Diplomatas americanos têm trabalhado sem parar para conseguir que Israel concorde com uma pausa de seis semanas nos combates que permitiria a libertação tanto dos reféns de Gaza como dos prisioneiros palestinos nas prisões israelenses.
O acordo também facilitaria a chegada da tão necessária ajuda a Gaza, onde a fome é iminente. Antes do fim de semana, eles contavam com o apoio de Israel e a pressão recaía sobre o Hamas.
Tudo isso está agora em perigo enquanto o mundo espera quais serão os próximos passos do Irã e de Israel.
Após as primeiras informações sobre o ataque israelense serem divulgadas, a imprensa estatal iraniana divulgou imagens do Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan e afirmou que não foram identificados danos.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também não disse que nenhuma instalação nuclear foi danificada. Não houve nenhum comentário oficial por parte de Israel até agora.
Uma autoridade iraniana disse à agência de notícias Reuters que "o Irã não tem planos de retaliação imediata contra Israel".
O Exército israelense e o Pentágono não se pronunciaram publicamente sobre o ocorrido ainda.
Entretanto, as complicações internas para o presidente americano continuam presentes. Parte da esquerda vem pressionando para que Biden se distancie de Israel, enquanto a direita o acusa de fraqueza por não ter confrontado o Irã com firmeza suficiente.
"Compreendo isso num ano eleitoral. Queremos conter as coisas. É perfeitamente compreensível", diz Ross, que desempenhou um papel fundamental no processo de paz no Oriente Médio durante as administrações de George Bush e Bill Clinton.
"Mas, da mesma forma, temos um Irã que deu um passo que não tinha dado antes. E ao dar esse passo está mostrando a sua vontade de ultrapassar certos limites e quanto mais eles ultrapassam certos limites, mais habituados se tornam em fazer isso e, como resultado, a região se torna muito mais perigosa."
A situação, é claro, está repleta de potencial para mal-entendidos e erros de cálculo. Um passo errado poderia desencadear uma reação em cadeia que poderia rapidamente sair do controle.
A região é um notório barril de pólvora e pode explodir ainda mais a qualquer momento.
Fonte: correiobraziliense
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