Os ataques à embaixada iraniana na Síria atribuídos a Israel e que causaram a morte de pelo menos 16 pessoas pessoas entre elas oficiais de alta patente da Guarda Revolucionária do Irã, revidados por ataques de mísseis e drones do Irã contra Israel em 13 de abril e a consequente resposta israelense na manhã desta sexta-feira (19/4), noite de quinta-feira no Brasil, levantaram mais uma vez receios de uma grande escalada de hostilidades no Oriente Médio.
Embora não tenha havido vítimas ou estragos significativos em nenhum dos dois casos, o lançamento de mais de 300 projéteis contra o território israelense demonstrou a capacidade do Irã de atacar à distância.
Os últimos acontecimentos foram uma intensificação significativa do que há muito tem sido um conflito por procuração [jargão que indica um conflito armado no qual dois países se utilizam de terceiros como intermediários ou substitutos, para não lutarem diretamente entre si], com ataques a Israel por grupos aliados ao Irã e ataques a alvos ligados ao Irã amplamente atribuídos a Israel.
Israel já está empenhado na guerra em Gaza e também enfrenta crescentes combates transfronteiriços com o grupo libanês Hezbollah, pelo que uma nova escalada pode representar riscos.
O chefe do Estado-Maior do Exército israelense, tenente-coronel Herzei Halevi, já havia dito que seu país responderia ao ataque de sábado.
Na ocasião, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Irã, Ali Bagheri Kani, disse à televisão estatal que um ataque israelense seria respondido em segundos, não em horas.
Mas após o disparo de um míssil nesta sexta, uma autoridade iraniana disse à agência de notícias Reuters que "o Irã não tem planos de retaliação imediata contra Israel".
O Exército israelense e o Pentágono não se pronunciaram publicamente sobre o ocorrido ainda.
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A BBC tentou responder a esta questão utilizando as fontes listadas abaixo, embora cada país possa ter uma capacidade significativa que é mantida em segredo.
O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) compara o poder de fogo das forças armadas de ambas as nações, utilizando uma variedade de métodos oficiais e de código aberto para produzir as melhores estimativas possíveis.
Outras organizações, como o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, também fazem avaliações, mas a precisão pode variar em países que muitas vezes não fornecem números.
No entanto, Nicholas Marsh, do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (PRIO), afirma que o IISS é visto como uma referência para avaliar a força militar dos países em todo o mundo.
O IISS afirma que Israel gasta mais no seu orçamento de Defesa do que o Irã, o que proporciona ao país uma força significativa em qualquer conflito potencial.
O IISS diz que o orçamento de defesa do Irã foi de cerca de 7,4 bilhões de dólares em 2022 e 2023, enquanto o de Israel foi mais que o dobro disso, chegando a cerca de 19 bilhões de dólares.
Os gastos de Israel com sua defesa, em comparação com o seu Produto Interno Bruto (uma medida da sua produção econômica), são também o dobro dos do Irã.
Os números do IISS mostram que Israel tem 340 aeronaves militares prontas para o combate, o que lhe confere uma vantagem em ataques aéreos de precisão.
Entre os jatos estão aviões F-15 com alcance de ataque de longa distância, F-35 – aviões “stealth” de alta tecnologia que podem escapar do radar – e helicópteros de ataque rápido.
O IISS estima que o Irã tenha cerca de 320 aeronaves com capacidade de combate. Os jatos datam da década de 1960 e incluem F-4, F-5 e F-14 (este último é o avião que ficou famoso no filme Top Gun de 1986).
Mas Nicholas Marsh, do PRIO, diz que não está claro quantos desses aviões antigos podem realmente voar, porque seria extremamente difícil obter peças de reparo.
A espinha dorsal da defesa de Israel são os seus sistemas Domo de Ferro e 'Arrow' (Flecha).
O engenheiro de mísseis Uzi Rubin é o fundador da Organização de Defesa de Mísseis de Israel no Ministério da Defesa do país.
Agora pesquisador sênior do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, ele disse à BBC como se sentiu “seguro” quando viu o Domo de Ferro e os aliados internacionais destruindo quase todos os mísseis e drones que o Irã disparou contra Israel no sábado.
"Me senti muito satisfeito e muito feliz... É muito especializado contra os seus alvos. É uma defesa antimísseis de curto alcance. Não há nada semelhante a isso em qualquer outro [sistema]."
Israel fica a mais de 2.100 km do Irã. Seus mísseis são a principal forma de atacar o país, disse Tim Ripley, editor do Defence Eye, à BBC.
O programa de mísseis do Irã é considerado o maior e mais diversificado do Oriente Médio.
Em 2022, o general Kenneth McKenzie, do Comando Central dos EUA, disse que o Irã tinha “mais de 3.000” mísseis balísticos.
De acordo com o Projeto de Defesa contra Mísseis CSIS, Israel também exporta mísseis para vários países.
O Irã realizou um extenso trabalho nos seus sistemas de mísseis e drones desde a guerra com o vizinho Iraque, de 1980 a 1988.
Desenvolveu mísseis e drones de curto e longo alcance, muitos dos quais foram recentemente disparados contra Israel.
Analistas que estudam mísseis direcionados à Arábia Saudita pelos rebeldes houthi concluíram que foram fabricados no Irã.
Tim Ripley, da Defense Eye, diz que é altamente improvável que Israel se aventure em uma guerra terrestre com o Irã: "A grande vantagem de Israel é o seu poder aéreo e as suas armas guiadas."
Ripley diz que é mais provável que Israel mate autoridades e destrua instalações petrolíferas pelo ar.
"'Punir' está no cerne disso... Os líderes militares e políticos israelenses usam essa palavra o tempo todo. Faz parte de sua filosofia que eles tenham que infligir dor para fazer seus oponentes pensarem duas vezes sobre sua oposição a Israel. "
Após o ataque de Israel nesta sexta, explosões foram ouvidas na cidade de Isfahan, embora não esteja claro qual foi o alvo. A província abriga uma grande base aérea, um importante complexo de produção de mísseis e várias instalações nucleares.
A imprensa iraniana não noticiou nenhum impacto direto do ataque israelense desta sexta-feira, e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que nenhuma instalação nuclear foi danificada.
No passado, figuras militares e civis iranianas de alto perfil foram mortas em ataques aéreos, incluindo na destruição, em 1 de abril, de um edifício do consulado iraniano na capital síria, que desencadeou o ataque do Irã.
Israel não assumiu a responsabilidade por isso ou por uma série de ataques contra autoridades iranianas proeminentes.
Mas também não negou a responsabilidade.
A envelhecida Marinha do Irã tem cerca de 220 navios, enquanto a de Israel tem cerca de 60, segundo relatórios do IISS.
Israel tem mais a perder do que o Irã num ataque cibernético.
O sistema de defesa do Irã é menos avançado tecnologicamente do que o de Israel, pelo que um ataque eletrônico às forças armadas de Israel poderia conseguir muito mais.
A Direção Nacional Cibernética do governo israelense diz: “a intensidade dos ataques cibernéticos é maior do que nunca, pelo menos três vezes maior, e com ataques em todos os setores israelenses. A cooperação entre o Irã e o Hezbollah (a organização militante e política libanesa) aumentou durante a guerra.”
O órgão relata que ocorreram 3.380 ataques cibernéticos entre os ataques de 7 de outubro e o final de 2023.
O chefe da Organização de Defesa Civil do Irã, Brigadeiro-General Gholamreza Jalali, disse que o Irã frustrou quase 200 ataques cibernéticos no mês que antecedeu as recentes eleições parlamentares.
Em dezembro, o Ministro do Petróleo do Irã, Javad Owji, disse que um ataque cibernético causou perturbações a nível nacional nos postos de gasolina.
Presume-se que Israel possua as suas próprias armas nucleares, mas mantém uma política oficial de ambiguidade deliberada. O país não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear não estando portanto sujeito às inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica.
Não se acredita que o Irã tenha armas nucleares e, apesar das muitas acusações, o país nega que esteja tentando usar o seu programa nuclear civil para se tornar um Estado com armas nucleares.
O Irã é um país muito maior do que Israel e a sua população (quase 89 milhões) é quase dez vezes superior à de Israel (quase 10 milhões).
Também tem cerca de seis vezes mais soldados em serviço que Israel. Há 600 mil soldados em exercício no Irã, enquanto Israel tem 170 mil, diz o IISS.
Os iranianos minimizaram a importância do que aconteceu durante a noite de quinta para sexta-feira (18 para 19 de abril) na cidade de Isfahan, no centro do país.
As autoridades dizem que não houve ataque e os meios de comunicação estatais publicaram fotos satíricas que mostram drones em miniatura.
Já autoridades dos Estados Unidos dizem que houve um ataque ao Irã — e isso levanta várias questões. Será que os militares da linha dura iraniana vão reagir? E Israel tem planos para lançar mais ataques?
Esta poderia ser uma tentativa do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de responder ao ataque sem precedentes de mísseis e drones do Irã no fim de semana passado, sem alienar o presidente dos EUA, Joe Biden (mais do que já o fez).
Biden pediu a Israel que não respondesse ao ataque aéreo do Irã.
O Reino Unido e outros aliados internacionais de Israel também apelaram à moderação por meio dos canais diplomáticos.
Se este ataque ao Irã for a extensão da resposta de Israel, questiona-se se ela será suficiente para satisfazer os generais mais antigos do gabinete de guerra de Netanyahu, que supostamente fizeram pressão para o país lançar uma resposta.
Na opinião deles, era necessário um ataque amplo para restaurar a capacidade de Israel dissuadir os inimigos.
Os aliados da coligação ultranacionalista de Netanyahu também exigiram uma retaliação feroz. Um deles disse que os israelenses precisavam "ir à loucura".
A melhor opção para a região, na opinião dos governos ocidentais, é que tanto o Irã quanto Israel ponham um fim às animosidades.
O especialista em assuntos do Oriente Médio, Tariq Sulaiman, disse à BBC Urdu que há membros pró-guerra no Parlamento e no gabinete de Israel que querem a guerra, pressionando o primeiro-ministro de Israel a agir.
“Sempre que Netanyahu se encontra politicamente vulnerável, ele imediatamente usa 'a carta do Irã'.”
Uma pesquisa realizada pela Universidade Hebraica de Israel constatou que quase três quartos do público israelense se opunham a um ataque em retaliação ao Irã se tal ação prejudicasse a aliança de segurança de Israel com seus parceiros.
Um comunicado da universidade diz que a pesquisa foi realizada nos dias 14 e 15 de abril pela internet e por telefone, e contou com uma amostra de 1.466 homens e mulheres representando israelenses adultos, tanto judeus quanto árabes.
Embora Israel e o Irã não tenham travado uma guerra formal até a data, ambos os países têm estado em conflito não oficial.
Importantes figuras iranianas em outros países são mortas em ataques amplamente atribuídos a Israel, incluindo no Irã, enquanto o Irã tem como alvo Israel através dos seus representantes.
O grupo militante e político Hezbollah está travando a maior das 'guerras por procuração' do Irã contra Israel a partir do Líbano. O Irã não nega apoiar o Hezbollah.
O apoio do país ao Hamas em Gaza é semelhante. O Hamas organizou os ataques de 7 de outubro contra Israel e há décadas dispara foguetes da Faixa de Gaza contra territórios israelenses.
Israel e as potências ocidentais acreditam que o Irã forneça armas, munições e treinamento ao Hamas.
Os houthis no Iêmen são amplamente vistos como outro representante iraniano. A Arábia Saudita diz que os mísseis houthi disparados contra o país são fabricados no Irã.
Os grupos apoiados pelo Irã também detêm um poder considerável no Iraque e na Síria. O Irã apoia o governo sírio e acredita-se que utilize o território sírio para ataques a Israel.
Reportagem adicional de Jeremy Bowen, Ahmen Khawaja, Carla Rosch, Reza Sabeti e Chris Partridge.
Fonte: correiobraziliense
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