O debate sobre inteligência artificial é um campo vasto que inclui diversas vertentes. Durante participação em painel do CB.Debate — Inteligência Artificial: os impactos no mercado brasileiro, realizado pelo Correio Braziliense com o apoio do Sebrae, o professor titular da Universidade de Brasília, Ricardo Queiroz, destacou que o uso de IA tem inúmeros objetos em legislação que necessitam ser debatidos.
“Em parâmetros de legislação, eu me preocuparia com os fakes”, diz Queiroz. Segundo o especialista, é preciso aprender a detectar e impedir a criação de textos, fotos e vídeos fakes. Os direitos autorais são outro ponto de atenção, tanto no treinamento, no uso de grandes bases de dados, quanto no que é gerado, no caso da criação de textos e músicas.
“Outro ponto é o viés. Dizem que a maioria dos vieses de treinamento são baseados em ocidentais, brancos e homens. Se quisermos desenviesar, precisamos mudar os dados”, explica o estudioso. A automação indiscriminada e o trabalho são outra vertente forte no debate. “Isso vai tirar o trabalho de um monte de gente, e ao contrário do que disseram, o primeiro trabalho que vai embora é dos programadores. Se as pessoas vão perder o emprego, quem vai dar dinheiro para elas? Como elas vão viver?”, indaga Queiroz.
Veja o evento na íntegra:
O consumo de energia pelas inteligências artificiais é um ponto de atenção. “Só para o Chat GPT fazer uma inferência, são 25 mil GPUs. Cada GPU custa USD 30 mil dólares, e elas consomem cerca de 700 Watts. Para cada Watt que se gasta na computação, tem que gastar mais um Watt, pelo menos, para resfriar a máquina. Isso é gigantesco”, observa o professor.
O assunto de posse de modelos, os chamados players, também se faz importante dentro do contexto. “Será que ficaremos apenas usuários? Quem irá gerar? Isso é um problema de política, será que o governo vai ter condição de lidar?”, pondera Queiroz.
Durante o debate, Queiroz traz a tona recomendações do CEO da OpenAI, Sam Altman, sobre formas de como o uso da inteligência artificial deveria ser tratada dentro do âmbito político. “Agência governamental para licenciar modelos acima de determinado tamanho. Revogar licença se não aderir aos padrões de segurança, estes que devem proibir que ele se auto replique, fazer testes para saber se eles estão fazendo tudo o que está sendo pedido”, explica.
O uso do "AI Act" — "Ato de Inteligência Artificial", em tradução livre — é uma base defendida pelo estudioso para a medição dos problemas derivados do uso de IA. “Ele define todas as tecnologias em níveis de risco, onde há risco mínimo, risco limitado, alto risco e risco inaceitável, e o que se faz em cada um deles. Isso é o que está correndo pela União Europeia, mas é um modelo para quem estiver fazendo legislação dar uma olhada”, afirma Queiroz.
O professor acredita que esses pedidos devem ser feitos com auditoria, independente do governo e das empresas criadoras, mas, até o momento, o assunto não é de interesse do Congresso. “Nunca ninguém falou nada. Ninguém quer saber, ninguém está interessado”, conta.
O professor da UnB finaliza reiterando que o motivo pelo qual ainda é difícil trabalhar a regulação frente a um ambiente tão volátil onde há um crescimento exponencial de tecnologias, tamanho de modelos e complexidade.
“Como é muito rápido, é muito difícil precisar o que vai acontecer. Eu garanto que os arcabouços que nós temos hoje, não podem ser assim. Tem que ser algo mais dinâmico. Fazer essas mudanças em anos sobre um ciclo que muda em semanas é fadado ao insucesso”, finaliza Ricardo de Queiroz.
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