22 de Novembro de 2024

Tragédia no Rio Grande do Sul: por que Estado vem registrando tantas chuvas acima da média?


Trinta e uma cidades do Rio Grande do Sul registraram, nas últimas 48 horas, volume de chuvas acima da média do que é esperado para o mês de maio inteiro.

A situação fez com que o Estado decretasse calamidade pública na quarta-feira (1/5).

Até o momento, ao menos 21 pessoas morreram, 21 estão desaparecidas e 11 ficaram feridas devido ao temporal, segundo a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros. O governo do estado acredita que esse número tende a aumentar.

A cidade de Fontoura Xavier é o município que registrou o maior volume de chuva, com 500,6 milímetros entre as 12h de terça e as 12h de hoje.

O volume é mais de três vezes maior do que a média histórica do município, que é de 146 milímetros. Os dados são do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Ao todo, 134 municípios do estado já registraram algum tipo de impacto devido às chuvas dos últimos dias. Cerca de 15 mil moradores estão fora de suas residências, sendo que 5 mil estão em abrigos e 10 mil na casa de familiares.

As aulas da rede estadual estão suspensas hoje e amanhã. Ao todo 700 mil alunos foram impactados.

Sete cidades do estado gaúcho estão entre as 10 com mais volume de chuvas registrado no mundo nas últimas 24 horas, segundo o serviço de meteorologia Ogimet, que possui base em mais de 6,6 mil estações em vários países. Os dados são da tarde desta quinta-feira (2).

Soledade, registrou 233 milímetros de chuva, ficando atrás somente de Fahud (Omã) com 249,2 milímetros. As outras cidades gaúchas que integram o ranking são: Caxias do Sul, Santa Rosa, Ibirubá, Cruz Alta, Bom Jesus e Santo Augusto.

A cidade de Santa Maria, apesar de não aparecer nesta lista, é uma das mais afetadas pela chuva, com desmoronamento de encostas, obstruções e bloqueios em vias urbanas e rurais. Onze pontes caíram e há áreas de inundação em diversos pontos. Ao menos duas pessoas morreram.

Por lá, já são 436,2 milímetros de chuva acumulado nos últimos três dias, volume muito acima dos 140 milímetros registrados normalmente no mês todo. Por causa dos estragos 70% da população está sem o abastecimento de água.

Outra região bastante afetada é a área do Vale do Taquari, que abrange 40 municípios. O rio que corta a região e possui o mesmo nome atingiu 31,2 metros de altura e atingiu o maior nível da história. Até então o nível mais alto já registrado era de 29,9 metros, em 1941.

Na noite de quarta-feira, o governador Eduardo Leite solicitou que os moradores dessa região deixem suas casas.

“Infelizmente, a situação deste ano deverá ser pior que a de 2023. Veremos ainda um aumento nos níveis dos rios devido às chuvas. Então, é crucial que as pessoas se protejam e busquem abrigo em locais seguros, longe do perigo das inundações. Também pedimos que tomem cuidado com locais de encostas, onde pode haver deslizamentos devido ao encharcamento da terra”, disse Leite, durante coletiva de imprensa.

Ainda segundo o governador, as equipes de resgate enfrentam dificuldades para realizar as operações, devido ao mau tempo e à precariedade nos acessos.

“Precisamos de todos os recursos técnicos e humanos para salvar vidas neste momento. Estamos testemunhando um desastre histórico, infelizmente. Os prejuízos materiais são gigantescos, mas nosso foco neste momento são os resgates. Ainda há pessoas aguardando o socorro”, acrescentou o governador.

Segundo o Climatempo as chuvas devem permanecer nas regiões de Santa Maria, vales dos rios Taquari, Caí e Pardo, Região Metropolitana, Serra, Norte e Noroeste. A previsão de instabilidade vai até domingo (5).

Meteorologistas ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil explicam que as chuvas intensas registradas no estado do Rio Grande do Sul nos últimos dias são consequência de uma combinação de três principais fatores:

“Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o estado, causando chuvas intensas e continuas”, explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.

Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024, ainda tem influência do fenômeno El Niño, que é responsável por aquecer as águas do oceano Pacífico, contribuindo para que áreas de instabilidade fiquem sobre o estado. Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas.

As chuvas catastróficas do Sul têm relação direta com a onda de calor registrada na região Centro-Oeste e Sudeste, onde as temperaturas estão cerca de 5°C acima da média neste outono.

“Com a intensificação das mudanças climáticas globais os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes”, acrescenta Rafael de Ávila Rodrigues, professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT).

Relatório divulgado pela Sala de Situação, da Defesa Civil, mostra que áreas impactadas durante a emergência em setembro de 2023 estão em risco novamente.

Há oito meses, o Estado enfrentou o pior fenômeno natural registrado até então com a passagem de um ciclone extratropical que causou enchentes, atingindo 57 mil pessoas e deixando 54 mortes. Quatro pessoas ainda estão desaparecidas.

Na ocasião, as cidades mais afetadas foram Muçum, Encantado, Roca Sales, Lajeado e Estrela, todas localizadas às margens do Rio Taquari, que também vêm sendo castigado com as tempestades deste ano.

Fonte: correiobraziliense

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