19 de Setembro de 2024

'O Caso Asunta': o assassinato de menina chinesa por pais adotivos que abalou a Espanha


Aviso: este artigo contém spoilers da série “O Caso Asunta”

Foi um caso cheio de incógnitas – algumas ainda sem solução – que manteve um país inteiro em suspense.

O desaparecimento de uma menina de 12 anos e a subsequente descoberta do seu corpo abandonado no campo deram origem a uma frenética operação policial que rapidamente despertou o interesse dos meios de comunicação.

A menina, de origem chinesa, foi adotada quando tinha 1 ano por Alfonso Basterra e Rosario Porto, um casal rico de Santiago de Compostela, na comunidade autônoma da Galiza, no noroeste da Espanha.

Os pais adotivos deram à menina o nome de Asunta e a criaram em um ambiente privilegiado e aparentemente feliz, até que as investigações mostraram uma imagem totalmente diferente.

Os acontecimentos ocorreram em 2013 e hoje compõem o enredo da série da Netflix “O Caso Asunta”, baseada em acontecimentos reais mas com elementos criativos para preservar identidades e se adaptar a um ritmo narrativo ficcional.

Nascida na cidade de Yongzhou, no sudeste da China, em 30 de setembro de 2000, a bebê Fang Yong foi entregue para adoção após seu primeiro aniversário ao casal espanhol Alfonso Basterra e Rosario Porto (interpretados na série por Tristán Ulloa e Candela Grief).

Ele era jornalista e ela escolheu a profissão do pai, um rico advogado que era cônsul honorário da França e muito conhecido em sua cidade.

Os médicos recomendaram que não tivessem filhos, pois ela sofria de lúpus eritematoso, doença que poderia pôr sua vida em risco caso engravidasse.

A menina, agora com a identidade de Asunta Basterra, logo começou a dar sinais de sua inteligência. Frequentou escolas particulares e tinha facilidade para aprender, principalmente idiomas.

Ela gostava de viajar com a família, tinha muitos amigos e seus avós adotivos a adoravam.

Mas quando faltava pouco mais de uma semana para Asunta completar 13 anos, Alfonso e Rosário foram à polícia para denunciar seu desaparecimento.

Foi na noite de sábado, 21 de setembro de 2013.

Horas depois, de madrugada, a menina foi encontrada morta em uma estrada rural em uma zona arborizada, vários quilômetros ao sul da cidade.

Ela foi amarrada com cordas laranja, não apresentava sinais de abuso sexual e parecia ter morrido por asfixia, algo que a autópsia confirmaria posteriormente.

Os pais da menina colaboraram na investigação, que se voltou contra eles quando os agentes encontraram provas e detectaram inconsistências nos seus depoimentos.

A principal dessas pistas foi a descoberta, em uma casa rural da família no município de Teo e próxima ao local do crime, de cordas laranjas semelhantes às usadas para amarrar o corpo de Asunta.

Além disso, a autópsia revelou que a menor apresentava no organismo altas doses de lorazepam, um poderoso tranquilizante e ansiolítico que só é vendido na Espanha mediante receita médica.

E tanto Rosário quanto Alfonso ofereceram diferentes versões de seus movimentos na tarde de sábado em que ocorreu o desaparecimento.

Com tudo isso, Rosário foi presa e investigada por homicídio no dia 24 de setembro e Alfonso no dia 25.

O processo de esclarecimento dos fatos foi longo e o veredito do júri popular ocorreu mais de dois anos após a morte de Asunta.

Entretanto, as investigações revelaram detalhes importantes sobre o casamento e a relação com a menina que influenciaram a investigação do caso e o posterior julgamento.

O ano de 2013 foi especialmente turbulento para a advogada e para o jornalista.

Em janeiro daquele ano, ele descobriu a infidelidade dela, o que levou ao divórcio quase iminente, embora ambos tenham chegado a um acordo nos meses seguintes para dividir a guarda da filha adotiva.

Como parte do acordo, Alfonso se mudou para um apartamento próximo à casa de Rosário e Asunta.

Em julho ocorreu um estranho acontecimento em que um homem mascarado teria entrado no quarto de Asunta à noite e tentado estrangulá-la.

O suposto invasor fugiu após ser surpreendido por Rosário que, no entanto, não prestou queixa à polícia.

Nesse mesmo mês, a menina apresentava sinais de sonolência durante as aulas de música, e confessou à professora que a mãe lhe dava um pó que a fazia dormir.

A investigação policial revelou que Alfonso comprou diversas caixas do analgésico lorazepam tanto em julho (quando ocorreram os episódios de letargia nas aulas) quanto em setembro (dias antes da morte da menina).

O pai adotivo de Asunta sempre defendeu que os medicamentos eram para sua esposa, que passou por momentos muito delicados e ficou internada.

Na série essa fase está relacionada com um suposto rompimento entre Rosário e seu amante, Vicente.

A fase oral do julgamento começou em junho de 2014, período em que o Ministério Público solicitou 18 anos para cada um dos pais, já a acusação popular pediu 20.

No entanto, só em 29 de setembro de 2015 é que, após a seleção do júri e com 84 testemunhas e 60 peritos, o processo realmente começou, em meio a uma enorme atenção mediática no Tribunal Provincial de La Coruña.

No julgamento foram recolhidos todos os tipos de provas para tentar reconstruir os fatos.

Os peritos forenses não conseguiram determinar a hora exata da morte da menor, pelo que a estimaram, sem certeza absoluta, entre as 19h e as 20h do dia 21 de setembro.

Isso fez com que a investigação tivesse que se basear nos depoimentos de quem viu os envolvidos naquele dia e nos vídeos das câmeras de segurança dos locais por onde passaram.

De acordo com a reconstrução dos pesquisadores, foi assim que se desenrolou o fatídico 21 de setembro de 2013:

Rosario Porto e Alfonso Basterra defenderam em todos os momentos a sua inocência.

Em 30 de outubro de 2015, o júri os considerou culpados, determinando que Rosário sufocou a menina com a conivência do ex-marido.

A sentença foi anunciada apenas duas semanas depois, em 12 de novembro: 18 anos de prisão para cada um, por homicídio agravado por parentesco e abuso de autoridade.

A sentença não fez alusão à possível motivação do crime, que até hoje é o maior mistério do caso.

Existem várias teorias, nenhuma conclusiva, sobre o que poderia ter levado seus pais adotivos ao assassinato de Asunta.

Uma delas sugere que Asunta poderia ter sido vista como um obstáculo no relacionamento dos pais, que passavam por turbulências emocionais após o divórcio.

A saúde mental de Rosário também foi citada como possível gatilho, dada sua instabilidade emocional e diversos episódios de depressão grave, ansiedade e vontade de morrer, evidenciados durante o julgamento.

Também foi explorado um possível motivo econômico relacionado à herança dos avós maternos de Asunta, mas foi descartado já que Rosário era a única herdeira.

Outra linha de investigação abordou um possível motivo sexual após a descoberta de sêmen nas roupas de Asunta, embora essa evidência tenha sido descartada por ser proveniente de contaminação em laboratório.

Não foram tiradas quaisquer conclusões incriminatórias do material pornográfico encontrado no computador portátil do pai de Asunta.

Assim, o caso ficou com múltiplas questões sem resposta.

Após duas tentativas fracassadas, Rosario Porto se suicidou na prisão em 18 de novembro de 2020, e Alfonso Basterra cumpre pena até 2031.

Em 2017, Basterra escreveu uma carta da prisão a Ramón Campos, criador da nova produção da Netflix e também do documentário anterior “O Caso Asunta: Operação Nenúfar” daquele ano.

Nela, ele mais uma vez defendeu sua inocência, lamentou não ter conseguido proteger sua filha do verdadeiro “assassino” e expressou sua intenção de “desaparecer” quando for libertado da prisão.

“Só tenho uma razão para continuar vivo, que não é outra senão ser um homem livre novamente e me reunir com a minha garota", escreveu Alfonso Basterra.

“Minha verdadeira sentença não é a prisão, senhor Campos, mas não ter podido ajudá-la quando ela mais precisou."

"Então, quando você souber da minha morte, imploro que abra uma garrafa de cava e brinde aos seus entes queridos. Só então você entenderá que recuperei minha felicidade. Minha filha precisa de mim e eu preciso dela."

Fonte: correiobraziliense

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