22 de Novembro de 2024

Os dados mais recentes sobre os efeitos das enchentes no RS


As fortes chuvas que afetam o Rio Grande do Sul desde a semana passada já provocaram 83 mortes e afetaram 345 dos 497 municípios gaúchos.

Além disso, 121 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e 19 mil estão morando em abrigos, segundo os dados do boletim mais recente da Defesa Civil do Estado, divulgado na manhã desta segunda-feira (6/5).

O governo do Rio Grande do Sul ainda contabiliza que 850 mil pessoas foram afetadas pelo evento climático extremo. No total, 276 indivíduos estão feridos e 111 desparecidos.

As cidades com o maior número de óbitos são Cruzeiro do Sul (oito mortes), Gramado (sete), Veranópolis (cinco), Caxias do Sul (cinco), Lajeado (cinco) e Santa Maria (cinco).

O Lago Guaíba, que bateu o recorde histórico, segue com mais de 5 metros na manhã desta segunda-feira (6/5), quatro metros acima do volume considerado normal.

A Empresa Gaúcha de Rodovias também divulgou que a maioria dos trechos de estradas que estavam bloqueados por conta dos deslizamentos já foi liberada.

"Dois trechos rodoviários permanecem totalmente bloqueados por haver danos estruturais. O primeiro está localizado no km 75 da ERS-130, entre Lajeado e Encantado, onde a ponte sobre o Rio Forqueta desabou; e no km 80 da ERS-129, em Muçum, devido ao desmoronamento da pista", aponta a nota.

O governo gaúcho também anunciou o investimento de R$ 117,7 milhões para a reconstrução de estradas.

De acordo com o balanço mais recente, da manhã desta segunda-feira (6/5), há falta de energia elétrica em 10% da rede de abastecimento. Há cerca de 884 mil pessoas sem acesso à água. Operadoras de telefonia e internet também estão sem serviço em dezenas de municípios.

O governo calcula que 744 escolas foram afetadas — ou seja, estão danificadas, estão servindo de abrigo ou apresentam problemas de transporte ou acesso. Essas unidades de ensino estão espalhadas por 231 cidades do Estado. Estima-se que 251 mil estudantes foram impactados pelas chuvas e pelas enchentes.

Um balanço divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul na tarde de domingo (5/5) informou que há seis barragens de hidrelétricas em situação de emergência, com risco iminente de rompimento. Segundo o governo gaúcho, isso aponta que devem ser tomadas "providências para preservar vidas".

Entre essas medidas, está a retirada de famílias das áreas que podem ser atingidas caso ocorra um rompimento. Não foi informado o número de famílias que estão nessa situação.

Esse levantamento é feito pelo governo por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS).

Uma das seis barragens em situação de emergência, localizada entre os municípios de Bento Gonçalves e Cotiporã, já registrou um rompimento parcial há três dias.

De acordo com o governo, ainda há outras cinco barragens em estado de alerta. Isso significa que elas apresentam "anomalias que representam risco à segurança" e exige manutenções para que a situação não se agrave.

O grupo responsável por esse balanço informou ainda que há sete barragens em estado de atenção. São estruturas que possuem anomalias, mas que não comprometem a segurança a curto prazo. Elas necessitam de monitoramento, controle ou algum reparo.

Em entrevista a jornalistas no sábado (4/5), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que a grave situação causada pelas enchentes no Estado vai exigir a adoção de um "Plano Marshall".

O Plano Marshall foi a estratégia americana de aplicar bilhões de dólares na reconstrução da Europa aliada após a Segunda Guerra Mundial.

"Vamos precisar de medidas absolutamente excepcionais. O Rio Grande do Sul vai precisar de um Plano Marshall, de medidas absolutamente extraordinárias. Quem já foi vítima das tragédias não pode ser vítima de desassistência e da burocracia", disse o governador à imprensa.

Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo, Leite afirmou que esse plano terá de envolver também estratégias de resiliência climática, que permitam ao Estado resistir aos extremos climáticos globais.

No domingo (6/5), Lula visitou o Estado para discutir os próximos passos de reação da tragédia.

"É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça (...) e aja com antecedência" na prevenção de tragédias, disse Lula.

O presidente afirmou que o governo federal ajudará na recuperação da infraestrutura estadual — e que a burocracia estatal não atrapalhará nos esforços de reconstrução.

"O Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul", agregou Lula, mencionando a pujança agrícola do Estado. "Se ele sempre ajudou o Brasil, agora está na hora de o Brasil ajudar o Rio Grande do Sul."

O governo federal informa que existe outra preocupação adicional para os próximos dias: uma frente fria.

Na quarta-feira (8/5), a temperatura vai baixar para até 10 °C em algumas áreas do Estado, segundo o Comando Militar do Sul.

A frente fria vai piorar as condições de evacuação, além de aumentar o risco de hipotermia em pessoas que estejam aguardando o resgate ao relento ou sob a chuva. Daí a importância em acelerar os auxílios.

Meteorologistas ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil explicam que as chuvas intensas registradas no Rio Grande do Sul nos últimos dias são consequência de uma combinação de três principais fatores:

"Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul, impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o Estado, causando chuvas intensas e continuas", explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.

Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda tem influência do fenômeno El Niño, que é responsável por aquecer as águas do oceano Pacífico, contribuindo para que áreas de instabilidade fiquem sobre o estado. Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas.

As chuvas catastróficas do Sul têm relação direta com a onda de calor registrada na região Centro-Oeste e Sudeste, onde as temperaturas estão cerca de 5 °C acima da média neste outono.

"Com a intensificação das mudanças climáticas globais, os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes", acrescenta Rafael de Ávila Rodrigues, professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT).

Fonte: correiobraziliense

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