26 de Novembro de 2024

As surpreendentes fontes de gases do efeito estufa


A maior fonte antropogênica de metano em todo o mundo é a agricultura, seguida de perto pelos vazamentos dos campos de petróleo e gás. É uma questão importante que afeta o clima do planeta e permanece sem solução.

Embora 60% das emissões globais de metano venham da atividade humana, os 40% restantes vêm de fontes naturais, incluindo o permafrost (solo congelado em regiões muito frias) e pântanos. Eles estão descongelando com mais rapidez e ficando cada vez mais alagados, devido ao aumento das temperaturas.

O metano é responsável por 20 a 30% do aquecimento sofrido até hoje pelo planeta. E, embora tenha vida mais curta na atmosfera do que o dióxido de carbono (CO2), o impacto do metano no aquecimento global é mais de 80 vezes maior que o do CO2 ao longo de um período de 20 anos.

A seguir, conheça algumas das maiores fontes ocultas desse gás altamente poderoso do efeito estufa.

Nas penínsulas de Yamal e Gyda, na Rússia, misteriosas crateras gigantescas vêm surgindo no permafrost no norte da Sibéria. E foram detectados altos níveis de metano na água existente no fundo das crateras.

Uma teoria indica que o metano pode estar borbulhando de profundos bolsões de gás onde o permafrost está descongelando, de bactérias produtoras de metano ou do próprio gelo.

À medida que o gás se acumula sob a cobertura de gelo, ele acaba saindo de forma explosiva, lançando gelo e terra por centenas de metros e deixando para trás enormes cicatrizes.

As razões exatas do surgimento dessas crateras na região ártica da Rússia não são totalmente conhecidas. Mas o que fica claro é que, em todo o mundo, o descongelamento do permafrost, resultante das mudanças climáticas, pode se tornar uma enorme fonte de metano.

O aumento das temperaturas vem fazendo as geleiras de todo o mundo derreterem rapidamente. Este fenômeno revela ambientes desconhecidos – e estoques ocultos de metano – que permaneceram escondidos por milhares de anos.

Um estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, concluiu em 2023 que as concentrações de metano na água derretida de três geleiras no território do Yukon, no noroeste do Canadá, eram até 250 vezes mais altas que as da atmosfera.

A descoberta surpreendeu os cientistas. Eles acreditavam, até então, que as emissões de metano das geleiras exigiriam ambientes sem oxigênio, como vastas placas de gelo.

"A liberação de metano sob o gelo é mais abrangente e muito mais generalizada do que pensávamos", segundo os autores do estudo. E eles alertam que não se sabe ao certo qual será o efeito global do derretimento.

As usinas hidrelétricas e seus reservatórios são uma das maiores fontes de metano provenientes da água. Elas liberam o equivalente a quase um bilhão de toneladas de CO2 todos os anos.

O metano é formado pela matéria em decomposição no fundo dos reservatórios, que é liberada quando a água cai em cascata através das turbinas que geram eletricidade.

A startup britânica Bluemethane trabalha para capturar essas bolhas de metano e usar como biogás na geração de eletricidade e aquecimento, além de combustível para os veículos.

Ecossistemas de água doce, como rios e lagos, são responsáveis por quase a metade das emissões globais de metano.

Uma análise realizada em 2020 dos rios que serpenteiam pelos Novos Territórios – uma das regiões mais exuberantes de Hong Kong, na China – revelou que as águas estavam supersaturadas com altas concentrações de metano, dióxido de carbono e óxido nitroso. E os cientistas concluíram que, quanto mais poluído era o rio, maiores eram as suas emissões.

Grandes quantidades de carbono e nitrogênio acabam em rios de todo o mundo por meio do vazamento de pesticidas, que são decompostos por respiração aeróbica ou anaeróbica, liberando dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.

O metano emitido pelo arroto das vacas é uma presença constante na imprensa. Mas, apesar de ser uma fonte conhecida de metano, sua redução se mostrou um objetivo difícil de atingir.

A atividade agropecuária, que inclui desde os campos de arroz até a criação de animais, compõe a maior fonte humana de emissões de metano do planeta, segundo a Agência Internacional de Energia.

No setor pecuário, o gado bovino, sem dúvida, é o maior emissor. Um local de criação por confinamento na Califórnia, nos Estados Unidos, produz mais metano do que os maiores campos de petróleo e gás do Estado.

É difícil combater esta fonte de metano específica. Os governos relutam em dizer às pessoas o que devem comer – ou aos agricultores e pecuaristas como devem produzir.

E obter os dados públicos de locais de criação de animais também não é fácil, o que dificulta ainda mais o direcionamento dos satélites ou sensores remotos de metano, para acompanhar a origem das emissões.

Analistas indicam ainda que muitas criações de animais também estão dispersas por grandes áreas ou reunidas em locais onde a agropecuária pode não ser a maior fonte de emissões.

Os pântanos são a maior fonte natural de metano. E, com as mudanças climáticas elevando as temperaturas e tornando os padrões de chuva mais irregulares, esses solos alagados liberam metano na atmosfera com maior rapidez.

Uma análise de 2024 do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, concluiu que as emissões de metano dos pântanos ao longo da região boreal-ártica aumentaram em 9% ao longo das últimas duas décadas.

Os cientistas concluíram que, entre 2002 e 2021, os pântanos daquelas regiões liberaram, em média, 20 teragramas (20 trilhões de kg) de metano por ano – o equivalente ao peso de cerca de 55 Empire State Buildings, em Nova York (EUA).

O lixo é a terceira maior fonte global de metano, depois da agricultura e do setor energético, segundo a Agência Internacional de Energia.

A matéria orgânica em decomposição nos aterros sanitários emite grandes quantidades de metano. Um estudo de 2022 concluiu que um aterro em Mumbai, na Índia, libera cerca de 9,8 toneladas de metano por hora, ou 85 mil toneladas por ano.

A compostagem dos resíduos, evitando que eles sigam para os aterros sanitários, pode ajudar a reduzir a quantidade de metano liberada na atmosfera.

Os incêndios florestais vêm crescendo em frequência e intensidade em todo o mundo. Por isso, acompanhar suas emissões de gases do efeito estufa, incluindo metano, está se tornando cada vez mais importante.

Esses incêndios são fontes substanciais de metano poluente. A quantidade de metano emitida pelos 20 maiores incêndios dos Estados Unidos, somente em 2020, foi sete vezes maior do que os incêndios florestais dos 19 anos anteriores.

E o metano continua a ser emitido por muito tempo depois que as chamas se apagam, como descobriram pesquisadores da Nasa no Alasca. Eles concluíram que há 29% mais probabilidade de surgirem pontos quentes de emissão de metano na tundra atingida por incêndios florestais, do que nas áreas próximas que não tenham sido queimadas.

O metano passou muito tempo à sombra do CO2. Mas o seu impacto sobre as temperaturas globais é muito grande. Por isso, é vital começar a conhecê-lo melhor.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

Fonte: correiobraziliense

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