22 de Novembro de 2024

China cerca Taiwan e promete 'sangue' em caso de independência


Os navios de guerra chineses cercaram completamente Taiwan, na primeira simulação de um ataque total contra a ilha capitalista e democrática. Em Pequim, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, enviou uma ameaça considerada incomum na diplomacia para o presidente taiwanês, Lai Ching-te, apenas três dias depois de tomar posse. "As forças de independência de Taiwan serão deixadas com suas cabeças quebradas e com sangue jorrando depois de colidirem com o grande empreendimento da China para alcançar a unificação completa", afirmou. Além dos navios, a China mobilizou 49 aviões, dos quais 35 cruzaram a linha mediana — que divide o Estreito de Taiwan, localizado entre a ilha e a China continental. 

Lai imediatamente condenou as manobras bélicas ordenadas pelo governo de Xi Jinping, previstas para terem dois dias de duração. "Como comandante-em-chefe, meu dever é proteger nosso lar e defender nossa nação. Proteger a segurança e a propriedade de todas as pessoas. Eu permanecerei na linha de frente com nossos irmãos e irmãs, no exército, para defendermos a segurança nacional, juntos", acrescentou, ao visitar tropas na cidade de Taoyuan, no noroeste da ilha.

O presidente de Taiwan, Lai Ching-te (C), assiste a demonstração sobre sistema de defesa aérea fabricado pelos EUA, ao visitar tropas em Taoyuan
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te (C), assiste a demonstração sobre sistema de defesa aérea fabricado pelos EUA, ao visitar tropas em Taoyuan (foto: Sam Yeh/AFP)

O presidente de Taiwan prometeu defender os valores da liberdade e da democracia. Também disse ter confiança nos militares e os agradeceu por se manterem em seus postos. A Guarda Costeira de Taiwan, em alinhamento com o Exército, acionaram sua frota para "monitorar os movimentos nas águas marítimas próximas" e defender "a soberania e a segurança do país com uma atitude firme". O Ministério da Defesa, por sua vez, denunciou "provocações irracionais". 

A China considera Lai um "separatista perigoso". Em seu discurso de posse, na segunda-feira (20/5), o taiwanês celebrou a democracia e pediu a Pequim que encerre a "intimidação política e militar". O coronel Li Xi, porta-voz do Exército Popular de Libertação da China, explicou que as manobras significam uma "forte punição pelos atos separatistas das forças da 'independência de Taiwan' e um aviso severo contra a interferência e a provocação por forças externas" — uma referência aos Estados Unidos, que admitiram defender Taiwan em caso de uma agressão chinesa. "Os exercícios devem testar "as capacidades conjuntas de combate real", acrescentou Li. A emissora estatal chinesa CCTV divulgou que dezenas de caças chineses transportando munições reais realizaram ataques simulados contra "alvos militares de alto valor" do "inimigo" ao lado de destróieres, fragatas e lanchas de mísseis. 

Em nota obtida pelo Correio, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan exortou a China a abandonar a escalada na região, "a exercer a autocontenção e a interromper quaisquer ações que minem a paz e a estabilidade". "Lamentamos que a China, apesar da contínua e forte preocupação internacional sobre os desenvolvimentos no Estreito de Taiwan, tenha ameaçado repetidamente a democracia de Taiwan e perturbado unilateralmente o status quo", declarou, ao reiterar que continuará a defender, firmemente, a democracia.  

Mirage 2000 da Força Aérea Taiwanesa se prepara para decolar da base de Hsinchu (norte)
Mirage 2000 da Força Aérea Taiwanesa se prepara para decolar da base de Hsinchu (norte) (foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)

Os Estados Unidos demonstraram preocupação com os exercícios de guerra da China e pediram a Pequim que atue com "moderação". Sob condição de anonimato, uma autoridade norte-americana disse à agência France-Presse que as manobras chinesas "são imprudentes, aumentam os riscos de escalada e vão contra as normas que mantiveram a paz e a estabilidade regionais ao longo de décadas". 

Diretora do Programa Ásia do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington), Bonnie Glaser afirmou ao Correio que os exercícios militares chineses são uma reação ao discurso de posse do presidente de Taiwan, Lai Ching-te. "Em seu pronunciamento, Lai enfatizou que Taiwan não é parte da China, mas uma nação com soberania independente. Pequim vê isso como um desafio à legitimidade do Partido Comunista Chinês e aos seus interesses", explicou. "As manobras ao redor de Taiwan enviam um sinal de alerta de que Lai não deve ultrapassar os limites impostos por Pequim, ao perseguir a independência legal. Mas também servem de advertência para outros países, especialmente os Estados Unidos, a fim de que não apoiem políticas com potencial pró-independência."

Susan Thornton — ex-secretária de Estado Adjunta em exercício para o Leste Asiático e o Pacífico, atualmente especialista em China pela Universidade Yale — lembrou ao Correio que Pequim tem intensificado a pressão militar sobre Taiwan ao longo dos anos. "Isso ocorreu especialmente depois do alarme provocado pela visita da então presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taipei, em agosto de 2022", avaliou. "Os exercícios de guerra atuais seguem esse padrão e pretendem enviar uma mensagem de advertência ao presidente Lai, a fim de que não estimule a independência de Taiwan."

Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington)
Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington) (foto: Fotos: Arquivo pessoal )

"O risco de uma invasão a Taiwan, no curto prazo, é muito baixo. A China não deseja um confronto militar com os Estados Unidos. Xi Jinping também não abandonou a política de buscar a reunificação por meios que não sejam a força cinética." 

Bonnie Glaser, diretora do Programa Indo-Pacífico do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington) 

Susan Thornton, ex-secretária de Estado Adjunta dos EUA para o Leste Asiático e o Pacífico e especialista da Universidade Yale
Susan Thornton, ex-secretária de Estado Adjunta dos EUA para o Leste Asiático e o Pacífico e especialista da Universidade Yale (foto: Arquivo pessoal )
 

"É pouco provável que esses exercícios prenunciem uma grande escalada, mas é evidente que Pequim não ficou satisfeita com a eleição de Lai Ching-te ou com os comentários feitos por ele durante a cerimônia de posse, em 20 de Maio, que Pequim considerou como avanços separatistas."

Susan Thornton, ex-secretária de Estado Adjunta dos EUA para o Leste Asiático e o Pacífico e especialista da Universidade Yale

Província rebelde aos olhos chineses

A China considera Taiwan como uma província rebelde que faz parte de seu território. Pequim reivindica sua soberania sobre a ilha governada separadamente desde 1949 e nunca descartou a possibilidade de recorrer à força para assumir o controle total do território. Além de um presidente próprio, Taiwan possui um Parlamento autônomo. Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil contra os nacionalistas, comandados por Chiang Kai-shek, à frente do  Movimento Kuomintang (KMT), o Partido Nacionalista Chinês — cujos simpatizantes se instalaram na ilha e proclamaram ali seu novo governo. Em 2016, a China interrompeu toda a comunicação oficial com a ilha, após a ascensão ao poder do Partido Democrático Progressista. 

Fonte: correiobraziliense

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