A imunoterapia com células CAR-T revolucionou o tratamento de diversos tipos de câncer hematológicos, mas a longo prazo, muitos pacientes tornam-se resistentes ou têm recorrência da doença. Dois estudos apresentados ontem na Reunião Anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco) apresentam adaptações na terapia, que beneficiaram pessoas com linfoma não-Hodgkin e leucemia cuja abordagem medicamentosa anterior falhou.
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Desenvolvido na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, um dos tratamentos foi chamado de huCART19-IL18, e consiste em um imunoterápico modificado para secretar uma substância, a interleucina 18, que melhora a atividade das células CAR-T. Em três meses de acompanhamento, 80% dos 20 pacientes que receberam a terapia responderam ao medicamento. Esses pacientes, anteriormente, haviam sofrido recidiva de linfoma não Hodgkin ou tinham parado de ser beneficiados pelas CAR-T atualmente disponíveis no mercado.
Jakub Svoboda, professor de hematologia e oncologia da Universidade da Pensilvânia e líder do ensaio clínico na instituição, explicou que, quando se recorre às terapias do tipo já aprovadas pelas agências regulatórias, é porque o paciente já teve uma recaída com o tratamento padrão. "Estão muito esperançosos de que o CAR-T, que fez tanta diferença para tantas pessoas, funcionará para ele também." Ele destaca o quanto essas pessoas se decepcionam, caso o tratamento celular não seja bem-sucedido.
"Embora ainda tenhamos mais acompanhamento a fazer, é gratificante ver tantos pacientes com linfoma respondendo a esse novo tratamento de célula CAR-T desenvolvido aqui na Penn."
Em testes com animais, a substância huCART19-IL18 mostrou um aumento significativo da atividade das células modificadas. Carl June, médico que desenvolveu a terapia, a chamou de "tanque blindado" porque a liberação da citocina fortaleceu a capacidade ofensiva contra as estruturas cancerígenas.
Segundo os autores do estudo, a produção do huCART19-IL18 é mais rápida que a das terapias convencionais: em três dias, é possível começar o tratamento. Para pacientes com cânceres agressivos, o tempo é fundamental para a resposta. Já no caso das CAR-T padrão, a demora é de nove a 14 dias.
Uma nova terapia com células T apresentada ontem na reunião anual da Asco também mostrou-se eficaz em pacientes de leucemia refratária, quando os tratamentos convencionais não resultam mais em resposta. O tratamento, apresentado por médicos do Centro de Câncer M.D.Anderson, da Universidade do Texas, alcançou remissões duráveis em 40% dos 127 voluntários. Todos haviam passado por terapias anteriores, sem sucesso.
Em um acompanhamento médio de 21,5 meses, esses pacientes não tiveram recaídas. Em 12 meses, a taxa de sobrevida livre de eventos (sem o câncer voltar) foi de 49.5%, e de sobrevida global, de 61%.
"Esses resultados demonstram o potencial de um platô de longo prazo na curva de sobrevivência, o que apoia que essa terapia seja considerada um tratamento padrão para adultos com leucemia recidivante ou refratária que, atualmente, têm opções de tratamento limitadas", disse, em nota, o professor Elias Jabbour. A terapia é voltada aos pacientes com leucemia do tipo B, a mais comum.
Células CART-T são linfócitos — componentes do sistema imunológico que reconhecem o câncer e produzem anticorpos para combatê-lo — modificados geneticamente. A célula é do próprio paciente, e passa pela edição em laboratório. Depois, é infundida no organismo, aumentando a capacidade de luta contra o tumor. No Brasil, a terapia é aprovada para linfoma não-Hodgkin, leucemia linfoblástica aguda, linfoma folicular e mieloma múltiplo, quando há recidiva ou ausência de resposta.
O acetato de leuprorrelina é eficaz para reduzir o nível de testosterona de homens com câncer de próstata, confirma um estudo da Oncoclínicas Brasília, apresentado na Reunião Anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago. A pesquisa foi feita com dados de 1.774 exames de 30 pacientes, acompanhados na unidade do Distrito Federal, entre 2019 e 2023.
A substância age como agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), e é usada na terapia de privação androgênica, para inibir o crescimento do tumor de próstata. "Essa é uma droga usada praticamente em todos os contextos do tratamento de câncer de próstata, desde a doença localizada localmente avançada ou avançada, então praticamente todos os pacientes que não serão tratados cirurgicamente", explica o oncologista Paulo Lages, que liderou o estudo.
Segundo Lages, embora seja uma droga amplamente usada e com eficácia conhecida, não havia, até agora, um estudo testado em uma população tão miscigenada quanto a brasileira. "É importante lembrar que, dentro da oncologia, já aconteceu mais de uma vez de uma medicação funcionar bem em uma população e não tão bem para outra", destaca.
Dos testes analisados, 98,7% apresentavam níveis de testosterona abaixo de 50ng/mL, e, em 84,7% dos exames, a taxa do hormônio era menor que 20ng/mL. Segundo Lages, nos dois casos, indicando uma "supressão eficaz da testosterona".
Além da eficácia comprovada, a droga não mostrou, na população brasileira estudada, efeitos colaterais diferentes dos já conhecidos.
O autor do estudo destaca que as adversidades esperadas do tratamento são perda muscular, baixa da libido, piora da massa óssea, fadiga e ondas de calor. "Não houve nenhum tipo de efeito colateral diferente na população brasileira."
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