A história está feita, mesmo antes de 100 milhões de mexicanos escolherem, nas urnas, quem comandará o país pelos próximos seis anos. Nas maiores — e mais violentas — eleições de sua história, o México conduzirá, neste domingo (3/6), a primeira mulher ao gabinete presidencial do Palácio Nacional, no Zócalo, o centro do poder situado no coração da Cidade do México. Além da chefia do Estado, estarão em disputa 20 mil cargos públicos, incluindo o Congresso e nove dos 32 governadores, além de prefeitos.
A votação transcorre em um clima de insegurança e medo. Na última quarta-feira, Jose Alfredo Cabrera Barrientos, 38 anos, candidato à Prefeitura de Coyuca de Benítez, no departamento (estado) de Guerrero, foi executado em plena luz do dia, durante um comício. Ele foi o 24º candidato assassinado desde o início da campanha, em setembro passado. No sábado (2/6), as autoridades suspenderam as eleições gerais nos municípios de Pantelhó e Chicomuselo, em Chiapas, no sudeste do país, após atos violentos que impediram a instalação de cabines de votação.
Aos 61 anos, a física e ex-prefeita da capital Claudia Sheinbaum, candidata do partido governista Morena, lidera as pesquisas, apoiada pelo presidente Andrés Manuel López Obrador. Enquanto Sheinbaum aparecia com 53% de apoio, a senadora indígena de centro-direita Xóchitl Gálvez, 61, tem 36% das intenções de voto. Caso as sondagens se confirmem e Sheinbaum vença hoje, encontrará inúmeros desafios à frente da segunda maior economia da América Latina.
Há 18 anos, o México enfrenta grave onda de violência, com mais de 350 mil assassinatos — uma média de 54 mortos por dia. As eleições presidenciais mexicanas têm turno único e são decididas por maioria simples. Ao encerrar a campanha, a candidata de origem judaica assegurou: "Neste 2 de junho, vamos fazer história; a transformação continuará avançando".
Professor e pesquisador do Colégio da Fronteira Norte (instituição que estuda temas de violência e insegurança pública, em Tijuana), Vicente Sánchez Munguía explicou ao Correio que as pesquisas têm sido desacreditadas nos últimos anos. "Muitas pessoas mostram-se reticentes em manifestar sua verdadeira intenção. Não se descarta um voto oculto ou uma decisão de última hora para votar por um candidato distinto", afirmou. "Se as sondagens estiverem certas, Claudia Sheinbaum será a ganhadora. Quem quer que seja eleita, terá o desafio de lidar com a insegurança a curto prazo. Além dos assassinatos cometidos pelo crime organizado, temos casos de extorsão e um número muito elevado de pessoas desaparecidas. Há uma falha da polícia e do Ministério Público, que não investigam."
No campo econômico, Munguía disse que as relações entre México e EUA estariam à espera das eleições norte-americanas, em 5 de novembro. Ele entende que o eventual retorno do magnata republicano Donald Trump à Casa Branca pode complicar as trocas entre os vizinhos. "Também temos uma agenda calcada na imigração, na fronteira e na soberania sobre as águas da região fronteiriça, além da gestão hídrica no México, da necessidade de desenvolver a infraestrutura nas cidades e dos constantes apagões registrados no país", disse o estudioso de Tijuana. Munguía também citou o desinvestimento na área de saúde, principalmente no fornecimento de medicamentos, e a alta taxa de informalidade da economia, de cerca de 53%.
Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam), admite que as pesquisas dão uma importante vantagem a Sheinbaum. No entanto, ele lembrou que, nos últimos dias, as sondagens foram submetidas a alguns ajustes. "O que parecia uma diferença enorme entre as duas candidatas foi reduzida, fomentando um ambiente de incerteza. A principal vantagem dela é ser uma absoluta continuação do governo de López Obrador. Outro ponto é que Claudia tem um perfil político. Foi prefeita de Tlalpan (2015 a 2017), no sul da Cidade de México, e da própria capital, entre 2018 e 2023.
Escândalo
A reta final da campanha foi marcada por um escândalo. Dezenas de candidatos foram considerados inabilitados para disputar o pleito, sob a acusação de falta de representação de sua orientação sexual e identidade de gênero. Falsos candidatos trans, gays e lésbicas registraram-se como LGBTQIAP+ para cumprirem as cotas exigidas aos partidos nas eleições de hoje, segundo denúncias.
"Tem acontecido muitos casos, pessoas heterossexuais que têm ocupado cargos na comunidade (LGBTQIAP+) que não lhes pertencem, em cargos que não são para eles", afirmou à agência France-Presse (AFP) Yunuem Tena Calderon, uma mulher trans de 30 anos, em Merelia, capital do estado de Michoacán (oeste).
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